terça-feira, 25 de janeiro de 2011

ATAQUE AO BOLSO DA CLASSE MÉDIA.

Ver o governo federal fazendo joguinho com a correção da tabela do Imposto de Renda, como se fosse um coringa na negociação com os trabalhadores, é assistir a uma clara ameaça de retrocesso no país. Trata-se de uma discussão que parecia superada desde 2003, quando os reajustes passaram a ser anuais e provocaram um alívio pequeno, mas importante, na carga tributária sobre a classe média, a mais sacrificada com os impostos.


A conta é simples: todos os anos, os trabalhadores recebem reajustes em seus salários, com base em índices que variam de categoria para categoria - o percentual mais usado é o da inflação. Quando a tabela de IR não é corrigida na mesma proporção, como nos oito anos do governo Fernando Henrique, a faixa salarial que recebe a incidência do imposto cresce. Com isso, a mordida do leão também fica maior.

No fim do ano passado, pressionado pela previsão de um ano mais difícil na economia, o governo chegou a informar que a tabela não seria corrigida. Ou seja, em vez de planejar cortes nos gastos, enxugar, preferiu o caminho corriqueiro: focar na renda da população. O anúncio, é claro, provocou reação das centrais sindicais, sob o argumento de que o Planalto estava mexendo num direito dos trabalhadores. Além disso, apontaram uma defasagem de 64% nas faixas de pagamento do imposto - número que poderia ficar maior com um novo congelamento.

Passadas as festas de fim de ano, a correção só voltou ao centro das discussões nesta semana, e desta vez como moeda de troca. A presidente Dilma Roussef (PT) enviou aos sindicalistas a proposta de reajuste da tabela em 6,46%, mas informou que, para validar esse percentual, as centrais precisariam aceitar um aumento menor do salário mínimo, que subiria para R$ 545, e não para R$ 580.

A faixa de isenção do IR, caso a proposta fosse aprovada, subiria de R$ 1.499,15 para R$ 1.596,07, e deixaria mais de 500 mil contribuintes isentos do imposto. As falsas vantagens, entretanto, não convenceram os sindicalistas. Não foi difícil perceber a audácia do governo: partir para uma negociação com uma carta que nem deveria estar na mesa.

Agora, a equipe da presidente prepara uma nova cartada. Elevar o mínimo para R$ 580, como querem as centrais, pode mesmo ser complicado para as contas do país. Mas é preciso que o Planalto encontre um ponto de acordo tanto para o salário quanto para a tabela do Imposto de Renda. O brasileiro não aceita mais que se descubra um santo para cobrir o outro, principalmente quando se trata de milhões de devotos.

Fonte: A Gazeta

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