Chegamos ao esperado 3 de outubro. As eleições transcorreram em relativa calma, com poucos incidentes e prisões. O povo deu o testemunho de que está afeito à democracia. Compareceu às urnas para afirmar suas escolhas, ignorar a influência das pesquisas de intenção de voto e interpretar, com sua intuição, a propaganda eleitoral dos candidatos.
Fazer previsões, nesta noite, enquanto os resultados parciais vão sendo anunciados, é especulação imprópria e temerária. Pode-se, entretanto, refletir sobre as significações dos primeiros números.
A primeira é de que, como tem sido dito e repetido, os institutos de pesquisa falharam. Quaisquer que sejam as explicações e desculpas. Vitórias no primeiro turno, para a presidência, o governo de alguns estados e do Distrito Federal, estão seriamente ameaçadas, com candidatos menos cotados crescendo de modo surpreendente.
Outra é de que o fenômeno Lula não dita regras mandatórias a todos os eleitores. Seu partido mostra grande poder de arregimentação, mas seus opositores colheram inesperadas simpatias.
Mais preocupante é o cenário que se delineia nos horizontes do futuro. A coligação situacionista deve dominar o Congresso e fazer valer os casuísmos de seu interesse, regados pela corrupção e pelo bolso indefeso dos contribuintes. A máquina administrativa montada no Executivo, apoiada no sindicalismo peleguista, pressionará qualquer governo a ceder a suas ambições salariais, ao custo do aumento de uma carga tributária já pesadíssima.
Restaria ao Judiciário coibir excessos, julgando ações interpostas pelos que se julgarem prejudicados. Mas não é o que se tem visto, ultimamente, de suas decisões. Os exemplos mais próximos estão relacionados ao processo eleitoral. Indefinições sobre a aplicação da Lei da Ficha Limpa. Mudanças, em cima da hora, sobre credenciamento e identificação dos eleitores. Decisão discutível de validar a candidatura da esposa do candidato renunciante ao governo do Distrito Federal, registrada às vésperas da eleição. Em síntese, é um poder que está perdendo o respeito e a credibilidade perante a opinião pública. Não inspira a confiança de que se contraporá com autoridade aos desvios dos dois outros.
A se confirmarem tais prenúncios, a imprensa livre terá papel fundamental, investigando, denunciando e cobrando providências, sem se deixar atrelar à dependência do oficialismo. E, tal sejam a gravidade e persistência dos males apontados, incentivar a opinião pública a se organizar em protestos que ganhem as ruas ou tomem iniciativa legiferante no molde da Ficha Limpa.
Escrita interrompida para acompanhamento da apuração, constata-se que se confirmou a primeira impressão. O PT não teve a vitória esplendorosa que anunciava. Além de outras decepções, teve a maior. A eleição do primeiro mandatário vai a segundo turno. A candidata imposta pelo presidente messiânico, agora sem os dinheiros captados por sua desmascarada substituta de confiança, terá de haver-se num combate corpo a corpo.
O Brasil ainda não está salvo, mas agora pode se salvar
Armando L. M. de Paiva Chaves
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