A dois dias da eleição, a disputa presidencial parece imprevisível. Duas semanas atrás quase ninguém imaginaria o cenário de hoje. Dilma Rousseff (PT) navegava tranquila na liderança e o segundo turno era a mais remota das possibilidades. Mas hoje não dá mais para afirmar com certeza se o páreo será decidido no domingo.
Esse quadro já é um abalo e tanto no projeto do presidente Lula, que pretendia transformar a eleição num plebiscito impor uma eleição acachapante da petista.
O tal projeto caminhava para se concretizar. Mas aí vieram as denúncias de corrupção na Casa Civil comandada por Erenice Guerra, braço direito de Dilma. O presidente Lula enfrentou equivocadamente o problema e passou a vociferar raivosamente contra a imprensa, reavivando temores da sociedade quanto à veia autoritária de setores do PT.
Até José Dirceu ressurgiu do limbo político falando grosso pelo partido, indicando que teria poder num eventual governo Dilma.
Ao que parece, esse quadro, mais a lembrança do mensalão de 2005 e dos "aloprados" de 2006, detonaram temores e insatisfações. Além disso, a reação às denúncias na Casa Civil e à ira de Lula levaram à sangria de votos que Dilma sofre hoje.
A pesquisa Ibope que A GAZETA publica é um exemplo do fenômeno que ocorreria em algumas regiões do país. Dilma perdeu nove pontos na consulta estimulada aqui no Estado, enquanto José Serra (PSDB) ganhou sete pontos, e Marina Silva (PV), oito.
Os dados indicam que os votos de Dilma e dos indecisos migraram na mesma medida para Marina e Serra.
No país, haveria divergências entre as principais pesquisas quanto ao nível de desidratação da petista. A única concordância é de que Marina estaria agregando o voto dos descontentes com o PT. A maior parte deles pertenceria à nova classe C, que ascendeu durante o governo Lula.
De todo modo, a petista segue como favorita, mas está no fio da navalha. Na quarta-feira, por exemplo, ela teve de se reunir com padres e pastores para tentar escapar da repercussão negativa sobre suas posições sobre o aborto e sobre boatos atribuídos a ela de cunho religioso.
A vitória dela depois de amanhã, portanto, passa a depender mais de fatores diversos e imponderáveis, a começar pela repercussão do debate de ontem na TV Globo. Segundo especialistas, até a ordem de votação e os eventuais erros do eleitor na hora de votar pesarão no resultado.
Quanto ao debate, ele pode ser decisivo nesta reta final. Em artigo publicado ontem no jornal O Globo, o jornalista Fábio Vasconcellos avalia que esses confrontos em situações de disputas apertadas, como é o caso, podem mudar o voto.
Não só pelo debate em si, mas também pelas repercussões que produzem. Desempenhos desastrosos ou favoráveis teriam força para alterar a intenção de votos.
Por fim, a eleição também vai colocar à prova se denúncias podem ou não derrubar candidatos. O sociólogo Alberto Carlos de Almeida, autor de livros como "A Cabeça do Eleitor", avalia que escândalos não têm importância na vida diária dos eleitores. E quem aprova o governo, vota no candidato governista. Como a gestão de Lula tem algo em torno de 80% de aprovação, Dilma seria favoritíssima, considera Almeida. É o que veremos nos próximos dias.
Fonte: Praça Oito, A Gazeta.
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