sábado, 19 de janeiro de 2013

OS SETE EX-PREFEITOS CAPITAIS



Gabriel Tebaldi
Nas terras capixabas, a incoerência começa logo pelo nome: em pleno Espírito Santo, a santidade passa longe e o que se vê na política são, no mínimo, heresias. Na última semana, a salvação mostrou-se ainda mais distante e algumas personalidades do colarinho branco foram mandadas direto para o purgatório. De uma só vez, sete ex-prefeitos deixaram a vida de desempregados bem sucedidos e agora fazem parte de nosso nobre sistema prisional.

Além do novo endereço de férias, as ex-excelências do Executivo possuem outra característica em comum: são grandes admiradores da qualidade e competência da empresa CMS, acusada de ser consultoria de fachada e de cobrar milhões em multas que alimentavam um complexo esquema de corrupção.

E as semelhanças não param por aí! Quando unidos, os sete honoráveis ex-prefeitos recusam a conversão de nossa política e dão vida a outro grupo: o dos sete pecados capitais. Ira, vaidade, preguiça, luxúria, gula, soberba e avareza! Pecados presos pela Operação Derrama, que espalha bênçãos de ética nessa terra.

Os ex-prefeitos deixaram a vida de desempregados bem sucedidos e agora fazem parte de nosso nobre sistema prisional

Por aqui a IRA tem nome, sobrenome e anda sem partido: Edson Magalhães, ex-prefeito de Guarapari. Após fazer exames para a prisão, Edson foi carinhosamente chamado de ladrão por um popular. Irritado, respondeu com a dignidade de um inquisidor, dizendo que o sábio cidadão terá que “prestar contas a Deus”. Enquanto isso não acontece, é o Tribunal que espera as Contas de Edson.

Já a VAIDADE mora em bairro nobre, tem cabelos brancos e bigode: Guerino Zanon, de Linhares. Ao ser abordado pela polícia, Guerino entregou-se, mas antes pediu licença para fazer a barba. Sua nova e aconchegante residência tem espaçosos 7m², quatro camas e um sanitário. Dizem as más línguas, porém, que o vaidoso ex-prefeito anda insatisfeito com suas novas roupas. Parece que o uniforme penitenciário não segue as tendências do verão.

A PREGUIÇA, por sua vez, é de Anchieta. Se por um lado sobrou disposição a Moacyr Carone para conduzir os desmandos com o dinheiro público, faltou ânimo e criatividade para dar boas desculpas. Sobre sua prisão, Moacyr foi original e disse ser vítima de “perseguição política”: “Meu pecado foi recuperar recursos para o município”. Diante da confissão puritana, é justo pedir perdão: Perdoai, Senhor, pois ele não sabe o que fala.

De Anchieta também vem a LUXÚRIA, que traz consigo uma observação curiosa acerca de Edival Petri. Sabe-se lá porque, muitos referiam-se publicamente a Edival chamando-o de “Diva”.

Já a GULA é de Aracruz e carrega um sorriso de escárnio: Ademar Devens, ex-prefeito que somou sua incessante fome de recursos com o insaciável apetite dos empresários da CMS. A ideia era prosseguir o esquema na nova administração, conduzida pelo antigo vice de Cacá Gonçalves, ex-prefeito. Agora, no lugar da gula, restará apenas o buffet penitenciário, servido três vezes por dia.

Enquanto isso, a SOBERBA de Cacá Gonçalves e de seu advogado impressiona. A dupla classificou as prisões como “descabidas, inócuas e fruto de quem não sabe o que faz”. De todo modo, se por um lado Cacá já não possui autoridade alguma diante do povo, é bem verdade que tem tudo para liderar os colegas recém-chegados, afinal, experiência não lhe falta: Cacá cumpre pena desde 2011, quando foi preso saindo do velório do cunhado.

Por fim, a AVAREZA é bem simbolizada na ganância de Ananias Vieira, de Marataízes. Aos 76 anos, o ancião é a prova de que não há idade para fazer o que se ama. Curioso é que as décadas de vida não impediram os supostos crimes, mas tentam impedir sua prisão. A alegação da defesa é que o sistema carcerário poderia “causar mal à saúde” de Ananias. É uma pessoa $en$ível.

Estamos, pois, cercados pela personificação dos pecados e essa é apenas a ponta do iceberg. Os próximos capítulos prometem novas heresias e as mais esdrúxulas defesas. Assim, resta-nos a vigília: oremos, irmãos, e que Deus nos livre dos hipócritas.

Gabriel Tebaldi, 19 anos, é estudante de História da Ufes

Fonte: A Gazeta

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