Descrita como a doença mais antiga do mundo, a lepra, morféia ou mal de Lázaro, talvez seja a doença que mais preconceitos gerou em toda a História da humanidade. Pergaminhos egípcios já a descreviam 3000 anos antes de Cristo, e a denominação mal de Lázaro se refere ao amigo de Jesus que era portador da doença. Por séculos, entretanto, lepra foi o nome com que ficou conhecida essa enfermidade que ataca os nervos periféricos, causando perda da força muscular, dormências e conseqüentes mutilações. Nariz, olhos, orelhas, também podem sofrer infiltrações, aparecimento de nódulos, causando a face leonina, característica de formas mais graves da doença.
Causada pelo bacilo mycobacterium leprae, recebeu o nome de bacilo de Hansen, em homenagem ao cientista Gerhard Hansen que o descreveu.Tem um período de incubação de 2 a 7 anos, não sendo raro períodos maiores, de 10 chegando a 20 anos.
Sua transmissão se dá através do contato direto e prolongado entre o portador e as pessoas que com ele convivem, o que implica dizer que o aglomerado de pessoas ou familiares que vivam em precárias condições sócio econômicas estejam mais sujeitas à contaminação. Assim, em nosso dias, sua incidência é quase que exclusivamente em países do terceiro mundo, sendo o Brasil o segundo no mundo, só perdendo em número de casos para a Índia. Anualmente 47 mil brasileiros adquirem a doença.
Manchas na pele, que podem ser esbranquiçadas, acastanhadas ou avermelhadas e que sejam dormentes, podem ser o primeiro sinal da doença, alias, manchas com perda de sensibilidade, até que se prove o contrário é indicativo de Hanseníase. Seu diagnóstico é essencialmente clínico, usando-se a baciloscopia, ou pesquisa do bacilo nos lobos das orelhas, cotovelos e na lesão, apenas para se classificar a forma de tratamento. Assim dos quatro tipos descritos, indeterminada, tuberculóide, dimorfa e virchowiana, as duas primeiras são consideradas paucibacilares e são tratadas em 6 meses e as outras duas consideradas multibacilares em 12 meses.
Durante milênios a lepra não teve cura e somente há algumas décadas com o advento da poliquimioterapia sua cura foi possível, embora uma reação imunológica, conhecida como estado reacional possa ser motivo de sofrimento intenso para o paciente, mesmo após ser considerado curado.
Após estas breves considerações, passo a abordar o aspecto mais importante desse texto que é o preconceito sofrido pelos seus portadores ao longo dos tempos. Já na Idade Média, os leprosos eram obrigados a carregarem sinos, alertando a sua proximidade e gerando medidas de segregação, chegando a ser hereditárias, como ocorreu na França desta época. Confinamento em instituições conhecidas como leprosários se tornou rotina em todo o mundo. No Brasil existiram leis para que os leprosos fossem capturados e confinados, assim Hospitais como o Dr. Francisco Ribeiro Arantes (Pirapitingui), o Hosp. Curupaiti no Rio de Janeiro e outros espalhados pelo país eram destinados ao isolamento dos portadores da lepra, chegando a se criar verdadeiras colônias com residências exclusivas para as famílias desses pacientes. A chamada Lei compulsória, só foi revogada em 1962, mas o retorno do doente e sua família ao convívio da sociedade foi muito lento e difícil, principalmente em função da extrema pobreza em que viviam. O termo Hanseníase foi introduzido para caracterizar esta moléstia, numa tentativa de se amenizar o preconceito relacionado ao nome lepra e a designação de leproso ao seu portador. Tenho dedicado 30 anos de minha vida profissional ao combate a esta enfermidade e posso afirmar que, apesar da cura, do tratamento ser efetuado em casa, sem internações ou isolamentos, o preconceito ainda está enraizado entre nós, e não é raro percebermos o espanto das pessoas ao saberem que um vizinho ou conhecido é portador da moléstia.
Saneamento básico, casas arejadas, melhoria da qualidade de vida, educação, diagnóstico precoce, são condições básicas se quisermos sair deste triste ranking de ser o vice-campeão mundial do mal de Lázaro.
Dr. Marco.
ResponderExcluirMuito bom o seu artigo sobre essa enfermidade. Um inestimavel servço de utilidade pública.
Gostaria de um comentario sobre a reação imunologica.
Abraços
Paulo
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ResponderExcluirOlá, Dr.Marco
ResponderExcluirEndosso as palavras do companheiro Tristão
muito bom esse artigo é incrível que em pleno séc.XXI o Brasil ainda seja recordissta do Mal de Hansem e ainda exista esse tipo de preconceito em relação aos portadores..
Dr. Marco
ResponderExcluirSempre é importante ler seus comentários, ou textos. Eu já conhecia alguns detalhes dessa enfermidade, porém detalhes da forma como o Sr. relata, não conhecia não.
Parabéns pelo seu belo trabalho de esclarecimento a nossa comunidade quanto a saúde.
Adalberto Day Cientista social e pesquisador da história em Blumenau
muito bom saber a historia de uma doença tão grave e saber que ainda existem pessoas de tanta ignorancia que tem preconceito com essas pessoas.adorei
ResponderExcluirobg pelas orintacoes meu caro dr marco
ResponderExcluirComo você pode ter certeza que Lázaro teve lepra a Bíblia sagrado não revela o nome da infermidade e também muitos estudiosos em teologia não tem base para afirmar tal doença
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