PAULO BONATES
O eterno Stanislaw Ponte Preta, codinome do jornalista e escritor Sérgio Porto, autografou denúncias seriamente bem-humoradas no genial Festival de Besteira que Assola o País, o Febeapá. Descia o humor nos atos da ditadura de plantão. Aliás, besteira é o que não falta neste Brasil. Celebrizou-se, entre tantos semelhantes, o projeto de um deputado mineiro que instituía a nota 4,5 em vez de 5 como suficiente para aprovação de alunos. (Hoje evoluímos, não precisa tirar nota nenhuma que o aluno é empurrado não se sabe para onde). Outro, propunha uma ponte sobre um rio em sua cidadezinha natal. Lembraram ao nobre parlamentar que não existia rio ali. Não perdeu a viagem: "A gente constrói um". E por aí vai.
O bom Stanislaw está dando voltas no túmulo. Imaginem que está sendo avaliada a proposta de uma dessas raras inteligências. o de fixar em uma hora o máximo de espera por uma consulta médica em plano de saúde. Dirá a senhora que a excelência em questão está preocupada com o povo, já que alguns médicos conseguem abolir a Lei de Newton que dispõe não haver possibilidade de dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço. Surge o tristemente "encaixe", um espaço que não existe.
Até aí nada demais. Acontece que uma consulta envolve diferentes procedimentos e, consequentemente, tempos diferentes. É uma situação cujo tempo é imprevisível por definição. A não ser que a exemplo de um edil do tempo do Febeapá que propôs revogar a lei da gravidade, fosse proposta a lei de revogação da urgência e emergência médica.
Enquanto isso o país que menos investe em saúde pública da América Latina deixa jogados pelos corredores dos mal equipados hospitais os miseráveis tupiniquins. O SUS é uma graça. Filas e mortes intermináveis exclusivamente por falta de investimento em ações preventivas, deixando a medicina para as emergências e urgências que na minha singela opinião é o objeto de trabalho e estudo da categoria.
Respeitável público, os planos de saúde já são um privilégio para uma classe média flutuante cheia de automóveis. A proposta do parlamentar não atinge – pasmem – o SUS.
Não custa lembrar que um médico da rede federal, concursado, com 35 anos ralando em pronto-socorros mal equipados, mestrado e doutorado tenha um salário, somados todos os penduricalhos, em torno de R$ 6 mil. Não é considerada uma carreira especial.
Passe a vista no festival de grana que é desperdiçada e na falta de isonomia salarial para os diferentes cargos públicos. Nobilíssimo parlamentar, vossa senhoria acaba de ressuscitar de uma maneira brilhante o Febeapá. Parabéns.
Paulo Bonates é médico e diretor cultural da Associação Médica do ES
O eterno Stanislaw Ponte Preta, codinome do jornalista e escritor Sérgio Porto, autografou denúncias seriamente bem-humoradas no genial Festival de Besteira que Assola o País, o Febeapá. Descia o humor nos atos da ditadura de plantão. Aliás, besteira é o que não falta neste Brasil. Celebrizou-se, entre tantos semelhantes, o projeto de um deputado mineiro que instituía a nota 4,5 em vez de 5 como suficiente para aprovação de alunos. (Hoje evoluímos, não precisa tirar nota nenhuma que o aluno é empurrado não se sabe para onde). Outro, propunha uma ponte sobre um rio em sua cidadezinha natal. Lembraram ao nobre parlamentar que não existia rio ali. Não perdeu a viagem: "A gente constrói um". E por aí vai.
O bom Stanislaw está dando voltas no túmulo. Imaginem que está sendo avaliada a proposta de uma dessas raras inteligências. o de fixar em uma hora o máximo de espera por uma consulta médica em plano de saúde. Dirá a senhora que a excelência em questão está preocupada com o povo, já que alguns médicos conseguem abolir a Lei de Newton que dispõe não haver possibilidade de dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço. Surge o tristemente "encaixe", um espaço que não existe.
Até aí nada demais. Acontece que uma consulta envolve diferentes procedimentos e, consequentemente, tempos diferentes. É uma situação cujo tempo é imprevisível por definição. A não ser que a exemplo de um edil do tempo do Febeapá que propôs revogar a lei da gravidade, fosse proposta a lei de revogação da urgência e emergência médica.
Enquanto isso o país que menos investe em saúde pública da América Latina deixa jogados pelos corredores dos mal equipados hospitais os miseráveis tupiniquins. O SUS é uma graça. Filas e mortes intermináveis exclusivamente por falta de investimento em ações preventivas, deixando a medicina para as emergências e urgências que na minha singela opinião é o objeto de trabalho e estudo da categoria.
Respeitável público, os planos de saúde já são um privilégio para uma classe média flutuante cheia de automóveis. A proposta do parlamentar não atinge – pasmem – o SUS.
Não custa lembrar que um médico da rede federal, concursado, com 35 anos ralando em pronto-socorros mal equipados, mestrado e doutorado tenha um salário, somados todos os penduricalhos, em torno de R$ 6 mil. Não é considerada uma carreira especial.
Passe a vista no festival de grana que é desperdiçada e na falta de isonomia salarial para os diferentes cargos públicos. Nobilíssimo parlamentar, vossa senhoria acaba de ressuscitar de uma maneira brilhante o Febeapá. Parabéns.
Paulo Bonates é médico e diretor cultural da Associação Médica do ES
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