sexta-feira, 30 de novembro de 2012

AGORA, A ROSE E O LULA

Pois é… Vocês se deram conta das entrelinhas das reportagens? Uma assegura que Dilma teve de negociar com Lula a demissão daquela senhora. Outra informa que Gilberto Carvalho — o faz-tudo do Apedeuta no Planalto — teve de ser acionado porque a presidente sabia que o assunto poderia ser delicado. Outra ainda dá conta de que a funcionária era dotada de um temperamento difícil, que tinha de ser, não obstante, tolerado — e por que tinha? Uma quarta conta que, embora chefe do escritório da Presidência em São Paulo, acompanhara Lula em boa parte das viagens ao exterior…

Talvez seja o caso, então, de resgatar outro livro importante que ajuda a explicar a formação do Brasil: “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre. Na formação do Brasil, as, como posso chamar?, “relações ancilares” tiveram grande importância, não é?, especialmente no período colonial. Traços dessa outra expressão de informalidade parece que se misturam também à formação do estado, muito especialmente este aí, “modernizado”, como se vê, pelo petismo. Uma coisa é certa: foi preciso negociar com Luiz Inácio Lula da Silva a demissão da chefe de gabinete da Presidência em São Paulo mesmo com as gravações da Polícia Federal a indicar que mulher era elo numa quadrilha que operava no coração do poder.

Coisa grave, sim!

Parem um pouco para pensar. O esquema, segundo a apuração da Polícia Federal, envolve uma funcionária graduada da Presidência, o número dois da, atenção!, Advocacia-Geral da União (que representa os interesses da Federação) e diretores de agências reguladoras — justamente as agências!, que deveriam ser a expressão do estado árbitro entre os prestadores de serviços e a sociedade que paga por eles. Uma súcia, pois, estava instalada no coração do poder e operando a poucos centímetros, no que concerne ao aspecto funcional, de Dilma Rousseff. E algumas nomeações, como está claro, se fizeram para satisfazer a vontade do Babalorixá de Banânia. Lembro: Luís Inácio Adams, o número um da AGU, ainda pode ser considerado pré-candidato ao Supremo. A infiltração, segundo a PF, havia chegado até o número dois…

Pior: não foram os mecanismos de controle do Executivo que detectaram as ações fraudulentas. Não fosse o arrependimento — ou algo assim — de um dos beneficiários da tramoia criminosa, o grupo continuaria a operar sem temor nem perigo, como se percebe, certo de que detinha as boas garantias. Não por acaso, quando a Polícia Federal chegou, Rose teve uma ideia: telefonar para José Dirceu — a quem havia servido por 12 anos (originalmente, foi ele quem a apresentou a Lula) — para ver se algo poderia ser feito. Consta que o homem que quer “julgar o STF” nas ruas não atendeu.

Um desses tontolinos que andam por aí (se não for coisa pior) nos conclama a aplaudir o governo Dilma por conta da independência da Polícia Federal e do Ministério da Justiça, ao qual o órgão é vinculado, porque leva adiante a operação… EU NÃO APLAUDO, NÃO! SOU UM HOMEM CONVENCIONAL. EU VAIO UM GOVERNO EM QUE ESSA GENTE TODA OCUPA CARGOS DE CONFIANÇA — E CARGOS DA MAIS ALTA RELEVÂNCIA! POR QUE EU APLAUDIRIA?

“Ah, Reinaldo, mas o governo não impediu a Polícia Federal de agir…”

Só faltava isso, não? Imaginem se ocorreria a alguém a sugestão de que Barack Obama poderia impedir uma investigação do FBI. Por que eu deveria aplaudir a independência da PF, atribuindo-a ao governo Dilma — pagando, pois, quando menos, um tributo moral à turma — SE A CONSTITUIÇÃO ME DÁ DE GRAÇA A INDEPENDÊNCIA DA POLÍCIA FEDERAL? Por que eu devo pagar por aquilo que é uma garantia constitucional?

Eu vaio, mas Dilma será aplaudida

É claro que algumas notícias já nascem com perfis, desenhados pela máquina de propaganda, pelo viés ideológico do noticiário, pelo espírito do tempo… Esse noticiário já veio à luz com a marca “Dilma não tolera a corrupção e demite mesmo”. Os nomes de Lula e Dirceu associados à turma da maracutaia não indisporão o eleitorado petista com a presidente e ainda servirão para despertar a simpatia em setores da sociedade refratários à dupla. Compreendo o mecanismo que leva a isso, mas não posso me esquecer de que à Presidência da República coube a nomeação da quadrilha.

Um grupo operando no coração mesmo do poder só nos informa a que distância estamos de uma República de fato e como é ineficaz responder a certos desafios com algumas feitiçarias legiferantes. A questão é mesmo de outra ordem. Mas isso fica para outro post, que este já foi longe.

A síntese é esta: mais um escândalo envolvendo “a mulher” e os homens de Lula é a evidência do “moderno” estado arcaico petista.

Reinaldo Azevedo

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