terça-feira, 20 de março de 2012

O ESTADO INSEGURO

Apesar de mais três mortes bárbaras na Grande Vitória, as declarações oficiais continuam a mirar o direito à segurança pública só no longo prazo. Hoje, e não se sabe até quando, dezenas de bairros continuam sob marcante controle dos traficantes – quando não trocam tiros. “Gangues de jovens”, balas perdidas e toques de recolher aumentam os riscos de morte. Pipocam assaltos e roubos em série.
É um consolo inaceitável constatar que ainda não se chegou à situação que está sendo combatida no Rio. Diante desse estado inseguro, e que se fortalece há anos, a política de segurança conta com estatura e recursos compatíveis?

O secretário Henrique Herkenhoff falou em “investimentos” (sic), em 2011, de R$ 70 milhões. No “Portal” do governo estadual, consta que a Secretaria de Segurança empenhou R$ 73,2 milhões – até pouco maior. Porém, o investimento está sendo de R$ 31, 5 milhões – 43% do total. Corresponde a menos de R$ 10,00 anuais por habitante. O valor restante é “outras despesas correntes” (material de consumo, diárias). No investimento de R$ 1 bilhão, a segurança estadual equivale a 3,15%. É flagrante o choque entre o tamanho do principal problema estadual e o investimento.

Como viver e o que fazer até chegar o longo prazo? A última década perdida da insegurança resultou em 20 mil homicídios. A redução de 7% em 2011 não nos tira do vergonhoso segundo lugar nacional. Contratar segurança particular? E nos bairros pobres? Adquirir alarmes sofisticados? Isolar-se em casa com cercas elétricas?
O governo estadual poderia fazer um acordo com o federal para preencher o notório vazio da sua presença ostensiva com forças federais, durante a transição que pretende equiparar o número de policiais militares ao que existiu em 1983. Isso não elimina “inteligência” e ações socioculturais.

O “Estado Presente” tem duas ausências. A primeira: não há efetivo policial que restabeleça o controle territorial do Estado nos bairros ocupados pelo tráfico. Apenas a prevenção não recupera o terreno já perdido para os criminosos. Essa atuação em bairros não está articulada a um (ausente) plano metropolitano de segurança. Multiplicam-se ações municipais desconexas.

O governo Casagrande deveria dialogar e incluir a sociedade visando à superação desse desafio mortal, que é de todos, e avaliar a política vigente mediante o Conselho de Segurança – aprovado por lei estadual, mas não instalado.

Roberto Garcia Simões - A Gazeta

Nenhum comentário:

Postar um comentário