terça-feira, 13 de março de 2012

A PESCARIA DE AÉCIO

Aécio Neves vai aproveitar a sucessão municipal para desfilar ao lado de aliados de Dilma coligados com os tucanos em várias capitais do país. Assim, faz seus comerciais pelo Brasil e ajuda a colocar mais uma cunha entre os partidos e o PT

No ano passado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) comentava com amigos que, tão logo passasse a eleição municipal, a extensa base do governo se desintegraria. Era impossível para qualquer gestor político administrar tantas cobranças, insatisfações e frustrações decorrentes da disputa eleitoral. Ele então, teria caminho livre para coletar aliados. Tudo parece ter se antecipado, em meio à interminável reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff.


Por isso, antes de embarcar para Washington, onde foi tratar de assuntos de Minas Gerais, Aécio teve várias conversas. Suas andanças incluíram conversas com representantes de Pernambuco e Amazonas, e passaram também pelo Centro-Oeste. Não por acaso, o senador Blairo Maggi (PR-MT), sempre cotado para assumir o Ministério dos Transportes no governo Dilma, teve publicada uma frase dizendo que votará em Aécio para presidente, só não sabe se em 2014 ou em 2018.

Por falar em Blairo...
A frase pegou mal entre os caciques petistas e a turma do Planalto. Há quem tenha anotado a declaração para fazer a presidente Dilma perceber que fica esquisito ela chamar para compor o seu governo alguém que declara o voto futuro no adversário. Ou seja, um aliado que não é lá muito fã do modus operandi. Senão de Dilma, do PT.

Vale lembrar que, no ano passado, o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, terminou saindo do governo por criticar a interlocução política de Dilma e, ao mesmo tempo, declarar que havia votado em José Serra na corrida presidencial. Blairo, pelo visto, "queimou esta segunda largada" para o ministério. (De outra vez, ele, convidado, recusou).

Por falar em José Serra...
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, trabalha silenciosamente a ida do PSB para a campanha de Serra à prefeitura de São Paulo. Faz isso mesmo depois de o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ter deixado claro que não abandonará Lula — e não dá para esquecer que o ex-presidente coloca a conquista de São Paulo como um projeto pessoal.

Kassab, que de bobo não tem nada, já percebeu que a fresta capaz de levar o PSB a apoiar Serra é o PT. Os petistas têm feito tantos desaforos para com o PSB paulista que podem terminar construindo um discurso que leve Eduardo Campos a tomar a seguinte atitude: "Fiz a minha parte, mas o PT não nos estendeu o tapete vermelho".

Por falar em PSB...
O fato de o PT tripudiar em cima dos socialistas paulistas pode até não ser suficiente hoje para tirar Eduardo Campos do lado do PT. Mas termina por deixar parte do PSB mais próxima de uma carreira solo em parceira com Gilberto Kassab ou mesmo dos tucanos. Afinal, PSDB e PSB são parceiros no Paraná, em Minas Gerais, em São Paulo, na Paraíba e por aí vai. Este mês, Campos estreita os laços com Teotônio Vilela (PSDB-AL) para a construção de um aeroporto comum, que sirva ao turismo do sul de Pernambuco e do norte de Alagoas.

Não é à toa que Aécio vai aproveitar a sucessão municipal para desfilar ao lado de aliados de Dilma coligados com os tucanos em várias capitais do país. Especialmente, o PSB. Assim, enquanto faz seus comerciais pelo Brasil, ajuda a colocar mais uma cunha na base governista. E, do jeito que base balança, essa tarefa está cada vez mais fácil.

Fonte:
Denise Rothenburg
Correio Braziliense

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