O REVERSO - Como linha auxiliar do lulismo, o senador Fernando Collor resfolega como tarefeiro e tenta convocar o procurador da República para depor na CPI (Alan Marques/Folhapress)
Vinte anos depois de ter o mandato de presidente da República cassado ao cabo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, o senador Fernando Collor voltou a ser protagonista de uma CPI. Alvo da investigação em 1992, ele assumiu agora o papel de investigador, escalado por seu atual partido, o PTB, para ser titular na CPI do Cachoeira. Acossado pelos petistas em 1992, Collor volta como aliado dos seus antigos algozes. De rival e desafeto do ex-presidente Lula, a quem derrotou na campanha presidencial de 1989, Collor foi reduzido à condição de tarefeiro das legiões lulopetistas no objetivo de usar a CPI para desviar a atenção do julgamento do mensalão, que deverá ser feito em breve pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Do gasto "não se deve deixar a raposa vigiar o galinheiro", passando por "o mundo dá voltas", até o sábio "a política une os mais estranhos parceiros", são muitos os ditados consagrados para descrever a presente situação. O mais exato talvez seja o atribuído a Karl Marx (1818-1883), segundo o qual "a história se repete; primeiro como tragédia, depois como farsa".
Collor estreou propondo a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Alegou que Gurgel deve explicações por ter demorado a pedir a abertura de inquérito contra o senador Demóstenes Torres, acusado de defender os interesses da máfia da jogatina. O requerimento de Collor não foi votado. O comando da CPI acha mais adequado apenas convidar Gurgel. É dos mensaleiros o interesse maior em desqualificar Gurgel, peça-chave no julgamento do mensalão. Ele ratificou a denúncia contra os mensaleiros feita pelo seu antecessor, Antonio Fernando de Souza. Caberá a Gurgel ler no plenário do STF o pedido de condenação dos réus por crimes que vão de formação de quadrilha, passando pela lavagem de dinheiro, até chegar à corrupção ativa. Constranger publicamente Gurgel na CPI ajudaria a empanar o brilho litúrgico da abertura dos trabalhos no STF. Collor recebeu dos petistas outras missões na CPI. Da tarefa de envolver a imprensa, ele mostrou que se esforçará para se desincumbir até com prazer. Collor atribui à imprensa o desencadeamento do processo de impeachment que lhe custou a Presidência da República.
Fonte: Veja.com
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