Por Villas-Bôas Corrêa
Pançudo, língua solta, com grande consumo de palavrões, o ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, candidato crônico à Presidência da República, foi dos tipos mais contrastantes do modelo clássico nos seus muitos anos de militância.
Nas suas constantes viagens ao Rio, então capital do Brasil, era a garantia de manchete nos vespertinos espalhafatosos, com as entrevistas sem papas na língua. Hóspede dos apartamentos do anexo do Copacabana Palace
Hotel, nos últimos anos de militância, trocou o mais luxuoso hotel da então capital por um apartamento na Glória, modestamente mobiliado, onde recebia os visitantes nu, em pelo. Assim o encontrei várias vezes, uma em que subi no mesmo elevador com o então vice-presidente Café Filho, no governo do presidente Getulio Vargas.
Tocamos a campainha e fomos anunciados ao ilustre governador paulista e presidente do PSP, o Partido Social Progressista. Adhemar não estava nu. Mas, sentado numa cadeira de balanço, com uma calça de pijama amarfanhada com sinais de muito uso, e uma jovem gorducha e seminua montada nas suas pernas. Percebendo o constrangimento do vice-presidente Café Filho, empurrou a amante com um pé nas nádegas e o comentário: “O nosso vice é muito envergonhado para ver certas coisas”. Com a calça de pijama, o peito desnudo e descalço, atendeu o vice-presidente, por ele indicado ao candidato Getulio Vargas na sua volta à Presidência da República, na sucessão do presidente Dutra, em 31 de janeiro de 1951.
Na calçada do Copacabana, recebeu alguns repórteres para uma rápida entrevista. E lá pelas tantas, explicou como exercitava a sua liderança: “O líder é o que aponta o caminho”. Apontou para um ponto com o dedo e com a voz de comando: “É por aqui, macacada”.
Não foi obedecido pelo eleitor, apesar da grande votação. E morreu praticamente esquecido, depois de percorrer o áspero caminho da decadência.
Não seria justo comparar o governador Adhemar de Barros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Exceto em alguns cacoetes de líder no relacionamento com o seu desprezado Partido dos Trabalhadores, ao mesmo tempo mimado com empregos, sinecuras e outras benesses e, agora, na imposição da candidatura de Dilma Rousseff para a sua sucessão, com o toque de ineditismo da estreia sem nunca ter disputado nenhum cargo eletivo, nem de suplente de vereadora. Os notórios aspirantes do PT não foram ouvidos nem comunicados. A pílula amarga teve que ser engolida em seco, sem fazer careta, o riso forçado de quem engole café sem açúcar.
Nos solavancos da campanha, as denúncias da orgia de gastança com os cartões corporativos, dispensados da prestação de contas, um novo cacoete de discutível moralidade, mais um pouco, e será um carbono do estilo do Adhemar de Barros, que o sucessor Jânio Quadros explorava nos comícios da campanha, apontando para uma gaiola com um rato.
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