Heitor De Paola.
Resumo:A estratégia do MST e movimentos assemelhados pode evoluir da tática das “Zonas de Domínio” para o futuro estabelecimento de umExército Popular, adepto de táticas maoístas como o vietcong e os sandinistas.
DESENVOLVIMENTOS E POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS DO MST E ORGANIZAÇÕES ALIADAS NA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL
“(...) nossos movimentos devem defender a soberania nacional e o papel desse outro Estado, que é o único poder do povo que pode fazer mudanças e ajudar a construir uma sociedade menos desigual. E temos que juntarmo-nos para enfrentar os organismos internacionais e os acordos que eles fazem e que representam os interesses do capital”.
JOÃO PEDRO STÉDILE
Terminei o primeiro artigo desta sériepelo breve histórico do Acampamento da Encruzilhada Natalino, considerado o berço do MST, e a participação de entidades ligadas à Teologia da Libertação na gestação do movimento. É o próprio Stédile quem diz: “Sempre tivemos vinculações com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e com outros setores progressistas das chamadas igrejas cristãs históricas. A CPT teve um papel importante na fundação do movimento e foi ela que fez o primeiro trabalho de conscientização dos camponeses. De certa forma, o MST é filhote da CPT”.Pode-se notar, na continuação, que a CPT estava muito mais interessada no trabalho político de doutrinação socialista e de ocupação de terras do que propriamente no trabalho pastoral; dificilmente os camponeses teriam adquirido consciência se a CPT não tivesse feito aquele trabalho. A CPT, lá nos primórdios de 1975 a 1984, ia para o interior fazer o trabalho de base e dizia assim:"Deus só ajuda a quem se organiza, não pensem que Deus vai ajudar vocês se ficarem só rezando... Bem pouco Cristão,non é vero? A tão desejada organização chegou finalmente em 1984 com a fundação do MST e a CPT refluiu depois do parto de seu dileto filho. Deve-se parabenizar o Padre Arnildo Fritzen pela criatura que gerou e cresceu tão rápido e eficientemente. Se já desde o início o interesse da CPT era “conscientizar” os camponeses, é muito estranho que setores empresariais brasileiros e internacionais tenham engolido a tese comuno-petista de que o MST é apenas um “movimento social” interessado no bem-estar dos camponeses e na reforma agrária. Stédile jánegava isto na sua entrevista em 1997 (op. cit.): “O mais importante, porém, era o processo de estado com dinheiro recolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana.
O acampamento da Encruzilhada Natalino é apontado por líderes sem-terra como o exemplo de mobilização adotado pelo MST, criado em 1984. conscientização dos produtores, que começavam a se dar conta de quanto custava produzir e de onde é que vinha o resultado do trabalho deles. Estavam tão anestesiados que não acreditavam que se deveria colocar no custo o valor do trabalho, achavam que aquilo era uma obrigação. Por isso é que foram tantos anos explorados”. Stédile estudou como se forma o preço da terra em O Capital, de Karl Marx, segundo seu próprio depoimento. E, mesmo assim, setores da direita (?) nacional continuam insistindo em que o MST é apenas um inofensivo “movimento social” e não um movimento revolucionário que pretende, como diz Stédile, construir um“novo Estado, Poder do Povo”, um Estado dentro do Estado.
Não é meu intuito aqui acompanhar a trajetória do MST da sua fundação e expansão nacional até o presente, pois meu alvo continua sendo sua atuação na mesma região estudada no primeiro artigo: o Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, onde se desenvolvem ações que interessam investigar detidamente em separado. AÇÕES REVOLUCIONÁRIAS DO “OUTRO ESTADO” NA REGIÃO Na parte reproduzida em epígrafe de um extenso discurso de Stédile, além do “outro Estado do Povo”, é de ressaltar que o orador fala no plural :nossos movimentos e temos que juntarmo-nos (português sofrível, João Pedro!). O discurso foi pronunciado durante a II Conferência Internacional da Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, um encontro daVia Campesina, “um movimento internacional que coordena organizações camponesas, pequenos e médios produtores, mulheres rurais, comunidades indígenas, gente sem terra, jovens rurais e trabalhadores agrícolas migrantes. Diz-se um movimento autônomo, plural, independente, sem nenhuma filiação política, econômica ou de outro tipo. É composta por 135 organizações de 56 países da Ásia, África, Europa e continente americano, organizadas em 8 regiões: Europa, Leste e Sudeste da Ásia, América do Norte, América Central, Caribe, América do Sul e África”
Pois esta organização, segundo consta, está presente e ativa nos acontecimentos da região em estudo coordenando o MST, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) e outros análogos que instalaram quatro acampamentos com cerca de 4.500 acampados, em torno da Fazenda COQUEIROS. Uma das maiores propriedades rurais (cerca de 7.000 ha.) existentes no trecho entre as Rodovias RS 324 (que vai de Passo Fundo a Nonoai e segue até Santa Catarina) e BR 386 (de Carazinho a Frederico Westphalen e Irai, passando em Sarandí e Coqueiros do Sul). A fazenda tem o formato aproximado de um triângulo, o lado Leste indo de Pontão a Coqueiros do Sul, o sul até 6 quilômetros da cidade de Carazinho e o lado Oeste paralelo à BR 386, dela separada por outras propriedades.
Os acampamentos funcionam como vasos comunicantes com intensa troca de acampados entre eles, facilitando, assim, a impunidade por ações delituosas. As ações, de cunho político, causam imensos danos patrimoniais e morais aos atingidos. A coordenação pelaVia Campesinae o financiamento internacional foram confirmados pela invasão policial de um estabelecimento desta organização em Passo Fundo, onde foi encontrada grande soma de dinheiro em moedas de diversos países. Outras fontes de financiamento são do Governo Federal através do INCRA-RS remetendo toneladas de gêneros alimentícios do FOME ZERO,
adquiridos com recursos públicos da estatal CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento).
Fontes bem informadas referem que o serviço de inteligência da Brigada Militar teria também provas da ação das FARC (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia) na região, coordenando as ações, e que não seria inviável se o plano estratégico tivesse por alvo adotar o mesmo modelo utilizado com sucesso naquele País: o controle através do domínio territorial em zonas fechadas que afastam as autoridades locais, estaduais e federais, constituindo o que se chama “Zonas de Domínio” onde impera a sua lei. O primeiro passo seria dominar a área entre as rodovias RS-324 e BR-386, avançando depois até a fronteira com a Argentina e adquirindo o controle total do tráfego rodoviário nessa área onde já se encontram 31 acampamentos entre os municípios de Palmeira das Missões, Iraí, Nonoai, Encruzilhada Natalino, Pontão e Passo Fundo, como já foi divulgado no artigo anterior.
As ligações entre MST-FARC já são do conhecimento das Forças Armadas há muito tempo. Em entrevista realizada em 07 de novembro de 2003 por Paulo Diniz Zamboni para o MidiaSemMáscara[4], esta aliança já era publicamente admitida e alvo de investigações dos serviços militares de inteligência com a finalidade de impedir qualquer eventual penetração da guerrilha em solo brasileiro. Tanto que já se preparava a transferência para a fronteira entre Brasil e Colômbia de uma brigada do Exército, à época ainda sediada no Rio de Janeiro (ver também [5]). POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS O que se segue são minhas conjecturas sobre os possíveis alvos futuros. Minhas credenciais para tanto são, no mínimo escassas, já que meus estudos de estratégia não são regulares e sistematizados, o que não me impede de fazer conjecturas que leitores mais afeitos aos estudos militares possam estudar.
A meu ver, a estratégia do MST e movimentos afins aqui citados visa evoluir da tática das “Zonas de Domínio” para o futuro estabelecimento de um Exército Popular, aos moldes do Vietmihn, do Vietcong e do Exército Sandinista. Seus objetivos são mais nitidamente políticos do que os das FARC, nas quais o encontro entre ação guerrilheira e opção criminosa cria uma zona de penumbra que não parece existir no MST. Por ser uma área de fronteira, podemos dividir entre Objetivos Nacionais imediatos e Objetivos Internacionais.
OBJETIVOS NACIONAIS M APA 1:Para um mapa com maior detalhamento ver: A Brigada Militar estaria trabalhando com a possibilidade do movimento em primeiro lugar, tomar a totalidade da fazenda COQUEIROS e propriedades vizinhas existentes na estreita faixa de terra entre a fazenda e a BR 386, consolidando a posição entre as rodovias BR 386 e RS 324, e aí estabelecer uma base segura, porque fora do alcance da lei, para futuras ações mais arrojadas. É claro que para aquartelamento de quadros, munição e itens de abastecimento, a noção de base numa Zona de Domínio é fundamental. Não se pode confundir esta opção com a de “foco guerrilheiro” defendida na década de 60 por Régis Debray, pois os focos seriam unidades mais ou menos independentes entre si que deveriam resistir localmente até que a sua propagação permitisse a reunião de todos os focos de uma determinada região e assim por diante. No caso atual pode-se prever um incremento das ações para o Norte, através dos eixos rodoviários citados, penetrando em Santa Catarina. Uma das possibilidades seria seguir o eixo da RS 324, seguindo via Nonoai, através da ponte Goio-En na fronteira com Santa Catarina, até Chapecó. Tanto em Goio-En como em Chapecó o MST tem fortes bases de operações. Outra possibilidade seria tentar seguir o exemplo dos movimentos anteriores (Coluna Prestes e Operação Três Passos), seguindo o eixo da BR 386 até Frederico Westphalen, a 50 km a Oeste de Nonoai até São Miguel d’Oeste em Santa Catarina, via Iraí, e seguindo até Cascavel, no Paraná. Com a diferença para as operações anteriores que, enquanto aquelas careciam de bases de apoio, hoje o MST já é forte nestas áreas , até mesmo participando de organismos oficiais da Prefeitura em São Miguel d’Oeste.
OBJETIVOS INTERNACIONAIS A suspeita de que haja intenção de avançar até a fronteira argentina parece correta. O avanço pode se dar de Nonoai e Frederico Westphalen através de Três Passos até Esperança do Sul. Ou, partindo de Carazinho, chegando a Palmeira das Missões, atingir Campo Novo e
Tiradentes do Sul, a pouco mais de 120 km. É interessante notar que, de qualquer das duas alternativas, atinge-se a localidade de El Soberbio (mapas 1 e 2) na parte mais estreita da Província argentina de Misiones, a pouco mais de 100 km do Paraguai. De El Soberbio pela Ruta 13 chega-se à Ruta 14 através da qual, ou da variante Ruta 12, Puerto Iguazú, na Tríplice Fronteira, fica a menos de 200 km.
M APA 2: Detalhe da Província de Misiones, Argentina. Para o mapa completo AVia Campesina está presente em Misiones através de várias iniciativas como aLiga Agraria de Misiones, Chaco y Corrientes, as Comunidades do Povo Guarani, o Grupo de Trabalho sobre Povos Originários, Amigos da Terra Paraguai. As comunidades Guaranis se dividem em dois grupos: Mbyá-Guarani, a maior, com aproximadamente 5.000 indivíduos, e Ava Chiripá As comunidades Mbyá de Tekoa Yma e Tekoa Kapi’i Yvate, localizadas na Reserva Yabotí, próxima a San Pedro e Eldorado (mapa 2) estão em luta com a madeireira Moconá Forestal S.A. e tem recebido amplo apoio daVia Campesina e daOrganización Internacional de Derechos Humanos, no âmbito da Campanha Global pela Reforma Agrária . No dia 18 de Abril de 2006, 10 anos após o “massacre” de Eldorado dos Carajás, foi instituído o Día Internacional de la Lucha Campesina. Entre os dias 3 e 7 de fevereiro de 2006 foi realizado no município de São Gabriel, Rio Grande do Sul, a Assembléia Continental Guarani, durante as comemorações dos 250 anos da morte do líder da resistência indígena contra os exércitos espanhóis e portugueses, Sepé Tiarajú. E é neste ponto que se encontra a interseção dos interesses daVia Campesina no Brasil, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai: as questões “sociais” comuns a todos estes países são a propriedade privada da terra, a mecanização e a exploração capitalista da agricultura, a exploração madeireira e a construção de hidrelétricas – em primeiríssimo lugar Itaipu. Segundo a missionária da Pastoral Indígena de Argentina, Maria José Ramirez “a propriedade privada, que rege a divisão das terrasmnestes países se choca com a visão de mundo Guarani, baseada na concepção de que a terra foi criada para uso coletivo -comunismo primitivo – detodos os seres que nela vivem”.
Pode-se ver o uso criminoso dos índios e suas tradições para a implantação de um regime comunista nada primitivo, mas regido pela burocracia daVia Campesina e associações filiadas. O Fórum da Tríplice Fonteira, realizado nos dias 25, 26 e 27 de junho de 2004 em Puerto Iguazú, Argentina, reuniu-se sob o lema"Porque outra América Latina é possível, urgente e necessária"e com as palavras de ordem “A dominação não começa pelo econômico, começa pelo cultural”; “Rejeitar a ALCA em todas as suas forma”s;”Contra o livre comércio”; “Contra a exploração madeireira.
Além das relações diplomáticas normais exercidas pelo MST com seus congêneres daVia Campesina, existe um ponto de contato e apoio físicos representado pela missionária do Institut des Missions Etrangères de France, conhecido também na Argentina por Congregación Hermanas de Misiones Extranjeras de Toulouse, Ivonne Pierron, que mantém um centro educacional em Pueblo Presidente Arturo Illia, a Escuela 558 doInstituto Provincial de Desarrollo Habitacional(IPRODHA), a 13 km da Ruta 14, no Município de Dos de Mayo (mapa 2), muito próxima da fronteira brasileira pela Ruta 13 que parte de El Soberbio. IvonnePierron, conhecida como"La Monja Roja" (A Monja Vermelha), juntamente com Leonie Duquet e Alice Domon foram enviadas em 1955 para fazer trabalho de campo comunista junto aos camponeses argentinos. Durante o regime militar argentino entrou para a clandestinidade e seu contato era Azucena Villaflor, considerada a fundadora da organizaçãoMadres de Plaza de Mayo.Seu grupo de trabalho com desaparecidos foi infiltrado pelo Capitão de Corveta Alfredo Astiz e desbaratado. Leonie e Alice desapareceram e Ivonne misteriosamente foi a única a receber apoio da Embaixada francesa em Buenos Aires; em 1977 fugiu para a França onde, com ajuda do Partido Comunista Francês se dedicou a auxiliar alguns exilados argentinos selecionados da ala mais dura do Ejército Popular Revolucionário (ERP). A Prisionners Politiques(COSOFAM). Posteriormente foi para a Nicarágua (1978), onde foi dedicada agente Sandinista, e finalmente voltou à Argentina (1984), se estabelecendo em Misiones, onde exerce a função de enlace com o MST. Foi até mesmo estrela cinematográfica de um filme de propaganda e doutrinação comunista Missionair , dirigido por Maria Cabrejas e Fernando Nogueira exibido profusamente pelas Embaixadas Cubanas em todo o mundo.
Hoje, com 76 anos, permanece usando os textos da reforma agrária Sandinista na Nicarágua para doutrinação dos movimentos locais e do MST. Recebeu em 2006 aLégion d’honneur por serviços humanitários prestados no exterior.
O grande perigo desse pessoal do MST é se alguém arma esse pessoal faz adestramento militar forma-se um perigoso grupo guerrilheiro nos moldes das FARC
ResponderExcluirIsso é a minha maior preocupação aqui no Brasil
As nossas forçãs armadas devem fazer um acompanhamento desse pessoal através do serviço
de inteligência