O Estado de S.Paulo (O economista que fala português e não economês)
O governo Dilma reeditou o sétimo pacote de estímulo ao consumo desde 2008. O objetivo imediato é desencalhar os estoques da indústria automobilística que atingiram os maiores níveis desde novembro de 2008.
A principal aflição que toma conta do governo é a iminência de novo pibinho em 2012. O ano de 2011 terminou com uma promessa solene: o avanço do PIB neste ano seria de 5%. Mas já nas primeiras semanas de 2012, o ministro Guido Mantega passou a falar em algo entre 4,0% e 4,5%, em desacordo com projeções do Banco Central, que insistiam em somente 3,0%. Agora, Mantega diz que o avanço do PIB neste ano será "maior do que o do ano passado", quando cresceu só 2,7%. E, ontem, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, admitiu que o crescimento do PIB ficará "algo acima da média global", que ele estima entre 2,5% e 3,0%.
O principal problema desse novo pacote não é o especial desvelo com que trata a indústria de veículos e deixa os demais setores ao deus-dará. É a estratégia de tentar compensar a relativa desaceleração interna com mais consumo apoiado no crédito - e não com mais investimento.
Já há indicações suficientes para entender que o comprador está endividado até o pescoço. A inadimplência no financiamento de veículos mais do que dobrou em apenas um ano. Foi de 2,8% para 5,7%. A retranca com que o setor bancário vinha trabalhando o segmento não tem a ver com má vontade, mas, sim, com uma questão técnica: o preço de revenda do carro usado já está de 20% a 30% mais baixo do que o saldo das dívidas contraídas por ocasião da compra. Ou seja, a reserva de domínio, que constitui a garantia do financiador, perdeu qualidade e aumentou o risco da operação.
O orçamento das classes médias está fortemente comprometido com mais despesas com serviços, sobretudo tarifas de celular e de TV por assinatura; ensino; condução; viagens; academia; refeições fora de casa; etc. Empurrá-las a mais endividamento tem tudo para ser o contrário do que vinha sendo tentado - ou seja, tem tudo para ser uma política macroimprudencial.
Em outras palavras, esse modelo que dá prioridade ao consumo e ao endividamento familiar já deu o que tinha de dar. Ninguém no governo parece ligar para os enormes congestionamentos que paralisam as grandes cidades do País. Eles querem empurrar mais veículos para a população. Não levam em consideração que a reaceleração da produção poderia ser promovida com muito mais vantagens se fosse acionado o investimento.
Por que não agilizar a construção de linhas de metrô, portos, retroportos, aeroportos, estradas de ferro e de rodagem? Há o pré-sal a desenvolver e, no entanto, a Petrobrás não só continua patinando em desempenho reconhecidamente insatisfatório em produção, mas também se prepara para desinvestir maciçamente - porque não dá conta do que já assumiu.
Por que não dar mais atenção à infraestrutura, que, no Brasil, é tão precária e tão cara? Mas não. Os dirigentes das montadoras estão ameaçando com férias coletivas... Assim, passa a ser de interesse nacional acalmá-los.
Paradoxalmente, essa suposta defesa do emprego ocorre quando o mercado de trabalho vive seu melhor momento histórico e quando o consumo cresce acima de 6% ao ano.
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