No começo da semana, Erenice Guerra acreditava ter vencido uma batalha. Acusada de comandar um esquema de tráfico de influência na Casa Civil, ministério que administra R$ 656,5 bilhões do PAC, ela foi se tranquilizando à medida que surgiam desmentidos em relação às primeiras denúncias.
Na terça-feira 14, no entanto, ela foi chamada para uma reunião com o presidente Lula e seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. Erenice ficou apreensiva quando Carvalho sugeriu a “solução Hargreaves” – um afastamento temporário para se defender, como fizera o ministro Henrique Hargreaves, no governo Itamar Franco. Lula, no entanto, saiu em sua defesa.
Erenice Guerra, observada pelo filho Israel, acusado de fazer tráfico de influência e lobby por empresas privadas
“Nada disso, vai lá e se defende, já fizeram pior com meu filho”, disse o presidente. Erenice saiu de lá otimista, mas tropeçou na própria autoconfiança. Na Casa Civil, redigiu uma nota desastrosa. Nela, valeu-se do cargo para atacar um adversário político, chamando o tucano José Serra de “aético”, “derrotado” e “rejeitado pelo povo brasileiro”.
Dois dias depois, na quinta-feira 16, quando surgiu uma nova denúncia, Erenice chegou ao Palácio do Planalto com a carta de demissão no bolso. “Por que essa cara boa, Erenice?”, indagou Lula. “Alívio, presidente”, disse ela. Fora do governo, Erenice pode estar se sentindo mais leve, mas terá uma montanha de problemas para administrar.
Seu filho, Israel Guerra, foi acusado de fazer lobby por empresas privadas, valendo-se do prestígio da mãe – o que constitui tráfico de influência. No primeiro caso, ele foi acusado de ajudar a empresa aérea MTA a renovar um contrato de R$ 850 milhões nos Correios. No segundo, a acusação partiu de uma empresa de fundo de quintal, a EDRB, de Campinas, que teria pleiteado R$ 9 bilhões do BNDES para implantar um projeto de energia eólica no Nordeste. A contrapartida seria uma comissão de 5%.
Além do filho, Erenice também viu seu marido, José Roberto Camargo Campos, ser acusado de interceder em favor de uma empresa privada: a Engevix, que atua na área de infraestrutura. Na carta de demissão, ela deixava claro quais seriam suas novas prioridades. “Preciso de paz e tempo para defender a mim e a minha família”, escreveu.
O caso da ex-ministra Erenice, que foi braço direito da candidata petista Dilma Rousseff, faz parte dos escândalos que chegam envoltos na espessa névoa das guerras empresariais e do clamor eleitoral. A primeira acusação, a da empresa MTA, partiu do consultor Fábio Baracat, que teria procurado Israel para renovar um contrato, que, de fato, foi retomado. Se houve tráfico de influência e o favor foi obtido, como Baracat alega, não faria sentido algum denunciar a história.
Ocorre que ele foi afastado do comando da empresa pelo sócio argentino Alfonso Reis, que é o verdadeiro dono da companhia – o que a lei brasileira não permite. A segunda denúncia partiu de um outro consultor, chamado Rubnei Quícoli, que já foi condenado por interceptação de carga roubada e chegou a passar dez meses na cadeia. Apesar do currículo, este personagem agiria para que a quase clandestina EDRB, de Campinas, recebesse R$ 9 bilhões do BNDES.
O banco, em nota oficial, informou que o empréstimo foi recusado por ser incompatível com o porte da empresa. Não é pouco o que está em jogo no ministério que Erenice acabou de perder. Órgão de assessoramento direto da Presidência e responsável pela supervisão dos outros ministérios, a Casa Civil tem um orçamento próprio tão pequeno que nem aparece discriminado entre os gastos da Presidência.
O denunciante: Rubnei Quícoli já foi preso por interceptação
Mas por lá passam os principais projetos do País. No PAC, estão obras como a ferrovia Transnordestina, a transposição do rio São Francisco, as usinas hidrelétricas de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte, os estaleiros do Recife e Rio Grande do Sul, além dos bilionários projetos da Petrobras.
Para o PAC 2, também em elaboração na Casa Civil, o orçamento é de R$ 1,59 trilhão a partir do ano que vem. Além disso, está sob o comando da Casa Civil o plano nacional da banda larga, com orçamento de R$ 13 bilhões. Com um espólio desses, não é surpresa a intensa movimentação em torno da pasta. Na quinta-feira 16, o presidente Lula determinou que o cargo fosse assumido interinamente pelo secretário-executivo, Carlos Eduardo Esteves Lima.
Foi uma surpresa. Esperava-se que a sucessora fosse Miriam Belchior, secretária-executiva do PAC, e nome apoiado por Gilberto Carvalho. Há outros candidatos, como o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o próprio Gilberto Carvalho. Mas apesar de deixar o governo agora, não é impossível que Erenice volte num eventual governo Dilma Rousseff. Outro amigo de Dilma, Fernando Pimentel, saiu de circulação após denúncias de que tinha feito dossiê contra adversários, mas é forte candidato a uma vaga na equipe.
Fonte: Isto é dinheiro. http://bit.ly/cOI4e0
Essa Miriam Belchior já tem uma vantagem sobre os outros. Entra coberta de caca logo.
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