domingo, 26 de setembro de 2010

ATAQUES DESCABIDOS. EDITORIAL DE A GAZETA.

O Brasil viverá no próximo domingo o ritual apoteótico da democracia, quando a população escolherá livremente o novo presidente da República, o Congresso Nacional, governadores de Estado e Assembleias Legislativas.


Porém a democracia, por mais grandiosa que seja, como a brasileira, não está imune a arroubos políticos equivocados ou mal-intencionados, aproveitando-se da liberdade que é própria do regime.

É o que se viu nos últimos dias. A liberdade de expressão foi usada contra ela própria em discursos do presidente da República - cuja figura pessoal simboliza os dons políticos da democracia. Tão forte é sua liderança que a sua fala estimula movimento esdrúxulo tendo como pretexto o maldoso factoide rotulado de "golpismo midiático".

O presidente Lula tem sido contraditório - e não é a primeira vez - ao afirmar sua dúvida sobre se existe "país na face da Terra com mais liberdade de comunicação" do que o Brasil e, ao mesmo tempo, ao criticar o noticiário político dos meios de comunicação. Soa como defesa explícita da censura.

Jornais, revistas e outros meios de comunicação não são "partidos políticos", ao contrário do que declarou em comício, há poucos dias, o presidente. Conceitualmente, é impossível confundir as instituições. Tal confusão cognitiva só pode ser atribuída à intensa empolgação da campanha eleitoral, o que surpreende duplamente: pela experiência e maestria política do nosso presidente e pela posição privilegiada que as pesquisas conferem à candidata de sua predileção.

A reação do presidente à cobertura jornalística da campanha eleitoral parece intolerância à isenção e não à parcialidade, ao contrário do que ele diz. Nesse caso, é autoritarismo. Por ter cooptado a participação de dez partidos políticos à candidatura petista, talvez imaginasse o engajamento de outras instituições, entre elas a imprensa. Parece muito fácil conviver com o pluralismo desde que as diferentes correntes convirjam para a mesma direção. O encabrestamento é nocivo à liberdade.

E não faltam oportunistas. O eco das pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República agregado aos ataques do chefe da nação deu margem a articulações com intenções obscuras. É o caso de um ato intitulado "Em defesa da democracia e contra o golpismo midiático", realizado na última quinta-feira, nas dependências do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. O local do ajuntamento foi escolhido como semente de cizânia. Mas a astúcia faz parte da briga pelo poder.

Os que participaram desse encontro têm direito a se manifestar, evidentemente. Mas foi uma patuscada com cheiro de chavismo. Sobraram acusações aos meios de comunicação e manipulação de conceitos. Pregou-se a democracia e, ao mesmo tempo, o "controle de mídia". Acusação de "golpismo" parte de suposto apoio de jornais e revistas à candidatura presidencial de oposição ao atual governo. A "prova" seria o noticiário sobre a quebra de sigilo fiscal. É uma distorção de valores muito grave imaginar que a imprensa deve minimizar esse escândalo, ter um cuidado para não afetar a candidatura ungida pelos atuais operadores do poder. É querer muito.

Em qualquer eleição, o candidato da imprensa é sempre a democracia, cujo representante maior, no momento, é o presidente Lula. Cabe a ele e a todos os brasileiros respeitar a Constituição Federal, que preceitua a liberdade de expressão, consequentemente, a de imprensa. Trata-se de condição essencial para a democracia.

Representa grave distorção de valores achar que a imprensa deve omitir fatos para favorecer políticos

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