Este espaço se destina a discutirmos qualquer assunto de interesse de seus visitantes. Politica, esportes, economia, segurança,relações humanas, ação social,religião, educação, cultura e principalmente saúde, de uma forma simples, direta e sincera para que todos se sintam encorajados a participar.
domingo, 12 de setembro de 2010
O CHEFE. 9º CAPÍTULO.
..2006 Ivo Patarra
Este livro é distribuído pela licença Creative Commons
http://www.escandalodomensalao.com.br/
O Chefe, por Ivo Patarra
66 – 18/7/2005 O Brasil debate o caixa 2. É crime de falsidade ideológica prestar
informações fraudulentas sobre a arrecadação de dinheiro para campanhas políticas,
sem declarar o dinheiro à Justiça Eleitoral. Omitir receitas também é crime de
sonegação fiscal. Para a legislação de crimes contra o sistema financeiro nacional, é
fraude movimentar recursos de forma paralela, à margem da contabilidade legal. O
caixa 2 também é crime contra a ordem tributária.
Na prática, porém, o uso de caixa 2 em campanhas eleitorais não recebe punição.
No máximo, multa. Ninguém é preso por crime eleitoral. Muito mais grave é dar
propina a parlamentares. Neste caso, o crime de corrupção pode condenar a 12 anos de
prisão, fora processos e outras penas, caso seja constatada formação de quadrilha,
lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. E isso sem mencionar a perda de mandato, por
crime de responsabilidade ou falta de decoro parlamentar.
Por isso o esforço para descaracterizar a existência de um esquema de
pagamento de mensalões. Ao circunscrever tudo ao rol de crimes eleitorais, os delitos
poderão ser diluídos para um número grande de receptores, se possível anônimos, o que,
afinal, dificultará a comprovação e a responsabilização dos culpados.
Prossegue o imbróglio de milhões de reais. A promiscuidade entre público e
privado, as informações desencontradas, as incongruências envolvendo os supostos
empréstimos de Marcos Valério ao PT. Da mesma forma, o Brasil debate o uso suspeito
do dinheiro do “valerioduto”, pelo partido do presidente da República. Os números
contraditórios sobre as dívidas do PT. Uma lambança.
As notícias ocupam páginas e páginas dos jornais, país afora: o Banco do Brasil
teria dispensado a apresentação de garantias e avalistas nos empréstimos concedidos ao
PT. Escândalo. R$ 15,9 milhões de operações de crédito do BMG destinados ao PT
tiveram como garantia o contrato de publicidade da SMPB de Valério com os Correios.
Ou seja, um suporte do próprio governo do PT. Escândalo. Um outro empréstimo do
BMG, cujo destino final também teria sido os cofres do PT, no valor de R$ 12 milhões,
teve como garantia o contrato de publicidade da DNA de Valério com a Eletrobrás.
Escândalo. Suspeita-se de uma série de “contratos de boca”, entre Valério e a cúpula do
PT. Escândalo.
Cai o presidente da Petrobrás, o ex-senador José Eduardo Dutra (PT-SE). Em
seu lugar assume José Sérgio Gabrielli, filiado ao PT. Justificativa do governo para o
afastamento: Dutra vai disputar uma vaga no Senado em 2006. Faltam 15 meses para o
pleito. Pela legislação, a desincompatibilização precisa ocorrer seis meses antes da
eleição. História mal contada.
Outras mudanças no governo: Antônio Batista Brito, diretor Comercial da Brasil
Veículos, e Josenilton Andrade, do Centro Cultural Banco do Brasil, são afastados do
Banco do Brasil. Motivo: reportagem do Correio Brazilense envolveu os dois num
episódio dentro do apartamento de Henrique Pizzolato, o ex-diretor de marketing do
Banco do Brasil. Os dois altos funcionários, mais Pizzolato, teriam pressionado o
mensageiro Luiz Eduardo Ferreira da Silva a assumir a responsabilidade pelo saque de
R$ 326 mil, o mesmo que ajudou a derrubar Pizzolato. O dinheiro foi retirado no Banco
Rural, da conta bancária da DNA de Marcos Valério, e entregue a Pizzolato. O
mensageiro resistiu.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan, de São Paulo, o respeitado senador Pedro
Simon (PMDB-RS) comenta as acusações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Para ele, o escândalo do mensalão vem sendo comprovado por fatos novos, todos os
dias. O esquema de corrupção que circunda o governo Lula e o PT é mais grave do que
aquele que vitimou o ex-presidente Fernando Collor:
– A coisa lá, a Operação Uruguai e tudo mais, foi bem inferior. Lá eles usaram
dinheiro das empresas, fizeram garantias, só que isso aconteceu com eles fora do
governo. Agora, o partido está dentro do governo, e foram usadas empresas públicas
como o Correio e Furnas, para fazer transações ilícitas. Favoreceram essas empresas em
troca do dinheiro dado ao partido. O nome disso é peculato, é formação de quadrilha.
Roberto Busato, presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil):
– Valério e Delúbio são personagens menores, nessa comédia infame que
estarrece a nação. Valem menos pelo que são e mais pelos personagens que buscam
inutilmente ocultar e aos quais serviram, com ações criminosas nos subterrâneos da
política.
67 – 19/7/2005 Provas do mensalão. Deputados fizeram saques de dinheiro em
contas das empresas de Marcos Valério, em agências do Banco Rural em Belo
Horizonte e Brasília. Documentos em poder da CPI dos Correios mostram autorizações
para retiradas, beneficiando três deputados do PT, um do PP e um do PL.
Márcia Milanésio Cunha, mulher do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), fez
um saque de R$ 50 mil. Anita Leocádia Pereira Costa, assessora do deputado Paulo
Rocha (PT-PA), então líder do PT na Câmara, outro de R$ 470 mil. O deputado Josias
Gomes (PT-BA), por sua vez, sacou duas vezes. Ele próprio, em pessoa. R$ 50 mil de
cada vez. João Cláudio Carvalho Genu, o chefe de gabinete de José Janene (PR), líder
do PP, retirou R$ 1,1 milhão. Em nome do deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), saíram
R$ 150 mil.
Simone Vasconcelos, a principal operadora de Valério e autora dos pagamentos
do mensalão, fez retiradas de R$ 6,1 milhões. Outubro de 2003, Brasília, coisa de
cinema: Simone efetuou dois saques, um de R$ 800 mil e outro de R$ 650 mil. O
dinheiro foi entregue em carro-forte no escritório da SMPB na capital federal.
Tem mais: Jacinto Lamas, tesoureiro do PL, retirou R$ 1,3 milhão. As seguintes
pessoas também: Vilmar Lacerda, presidente do PT no Distrito Federal, R$ 100 mil.
Raimundo Ferreira da Silva Júnior, assessor do deputado Paulo Delgado (PT-MG), R$
100 mil. Roberto Costa Pinho, ex-assessor, tem currículo extenso: trabalhou para os
ministros da Cultura e da Fazenda, Gilberto Gil e Antônio Palocci (PT-SP), e para o
senador Delcídio Amaral (PT-MS), o presidente da CPI dos Correios. Sacou R$ 350
mil. José Luiz Alves, secretário de Governo da Prefeitura de Uberaba (MG), pegou R$
150 mil. O prefeito de lá, Anderson Adauto (PL), foi ministro dos Transportes de Lula.
E Solange Pereira de Oliveira, funcionária da tesouraria do PT de São Paulo, recebeu
R$ 100 mil.
Brasília vive um corre-corre. João Paulo Cunha (PT-SP) não comenta. Sai-se
com um “tudo tem explicação”. O deputado Professor Luizinho (PT-SP) defende
Cunha:
– A informação que tenho, do próprio João Paulo, é de que a Márcia esteve no
Rural para resolver problema da televisão a cabo.
O ex-ministro Anderson Adauto não foge da briga. Delúbio, o tesoureiro do PT,
o ajudou a pagar uma dívida de campanha:
– Encerrei 2002, quando me elegi deputado federal, com uma dívida de
campanha. Então, pedi para o Delúbio e ele me ajudou. Não sei precisar a quantia, mas
foi entre R$ 100 mil e R$ 150 mil.
Foram R$ 150 mil, e Adauto era o ministro dos Transportes:
– Não vejo nenhuma irregularidade em ser ajudado para pagar dívidas de
campanha.
Nas fileiras do PT, algumas explicações: Wilmar Lacerda recebeu dinheiro para
pagar dívidas de campanha. Solange Pereira de Oliveira, do diretório paulista, não quer
comentar. E Raimundo Ferreira da Silva Júnior, que também é vice-presidente do PT do
Distrito Federal, cumpriu ordens de Delúbio. Buscou o envelope, mas não sabia quanto
tinha dentro:
– O Delúbio me ligou de São Paulo e pediu para que eu fosse até a agencia do
Rural, onde deveria pegar um dinheiro que ele estava precisando para umas despesas.
Ele me disse que precisava de alguém de confiança para buscar o pacote. Como sou
amigo dele, nada mais natural.
O escândalo do jipe Land Rover. Silvio Pereira está na CPI dos Correios, com
habeas-corpus para não ser preso. Não precisa responder, se não quiser. Pode evitar
perguntas, e mesmo cair em contradição. Não sairá algemado. Show de cinismo. O exsecretário-
geral do PT nunca ouviu falar em mensalão. Não tem idéia sobre
empréstimos de Marcos Valério ao PT.
O que fez Silvinho? Apenas um banco de dados, com mais de 5 mil nomes de
pessoas, prontas para assumir postos no governo Lula. Gentilmente, informa aos
integrantes da CPI: existem 1.400 cargos ocupados por filiados do PT, na administração
federal.
Pressionado, Silvinho não se lembra se viajou no avião de César Roberto Santos
Oliveira, alto executivo da empresa GDK, uma prestadora de serviços da Petrobrás.
– Eu mantinha contatos institucionais com César Oliveira, mas repito que não
intermediei interesses da empresa.
Silvinho cala-se. Recusa-se a dizer se ganhou um jipe Land Rover de Oliveira:
– Não falo sobre meu patrimônio, por orientação dos advogados.
Tarde demais. O Jornal Nacional, da TV Globo, localiza o vendedor do jipe. O
carro está em nome de Silvio Pereira. Um telefonema para o homem que fez o depósito,
de R$ 73,5 mil. Ele é funcionário da GDK, e confirma tudo. O Brasil fica sabendo.
Assessores do PT reconhecem o negócio, mas insistem: não houve irregularidades. Diz
Silvio Pereira:
– Todas as informações estão no meu Imposto de Renda e poderão ser analisadas
pela CPI.
Cai Marco Antônio Silva, o diretor de eventos da Secom, a Secretaria de
Comunicação da presidência da República, um dos mais importantes auxiliares do exministro
Luiz Gushiken. Militante do PT, foi acusado de favorecimento ilícito e tráfico
de influência. É casado com Telma dos Reis Menezes da Silva, funcionária da Multi
Action, a empresa de organização de eventos de Marcos Valério. Em um ano de
governo Lula, a Multi Action movimentou R$ 28 milhões.
Marco Antônio Silva integrou a comissão julgadora da licitação que escolheu a
agência de publicidade contratada pelos Correios. Venceu a SMPB de Valério.
Contratada a SMPB, a Multi Action foi chamada para prestar serviços aos Correios.
Em depoimento à CPI dos Bingos, José Vicente Brizola acusa o PT gaúcho: o
partido fez caixa 2 para a campanha eleitoral de 2002. Ele foi procurado por Carlos
Fernandes, filho da candidata a senadora Emília Fernandes (PT-RS). Carlos Fernandes
queria uma intermediação para pedir contribuições de campanha a empresários de jogo.
Na época, Brizola, filho do ex-governador Leonel Brizola, presidia a Lotergs (Loteria
do Rio Grande do Sul):
– Fui procurado pelo filho da senadora e por ela. Eles me propuseram que
angariasse recursos para a campanha majoritária, com concessionárias e outros
operadores, legais e ilegais.
Derrotada nas urnas, Emília Fernandes ocupou por um ano a secretaria especial
da Mulher, no governo Lula.
O Campo Majoritário, corrente petista liderada por José Dirceu (PT-SP), obtém
vitória em reunião da executiva nacional do partido, a mais alta instância partidária: por
18 votos a 7 fica rejeitada a suspensão das atividades partidárias do ex-tesoureiro
Delúbio Soares, por 60 dias.
68 – 20/7/2005 Mais provas do mensalão. Chega ao Conselho de Ética da
Câmara o teor de um depoimento prestado à Polícia Federal. É de Simone Vasconcelos,
a diretora administrativa e financeira da SMPB, a agência de publicidade de Marcos
Valério.
A confissão de Simone choca. Sozinha, sacou R$ 6,1 milhões de contas de
Valério no Banco Rural. Os números foram apurados pela CPI dos Correios e são
irrefutáveis. Simone entregou pacotes de dinheiro a desconhecidos. Ela pagava o
mensalão. Era gente que a procurava na agência do Rural em Brasília, a mando de
Valério. Todos pegavam os pacotes, sem conferir, e punham o conteúdo em pastas
executivas.
Simone não tem a mínima idéia do destino do dinheiro, mas confessa: sentia-se
“constrangida e preocupada de estar sendo identificada por desconhecidos”, e também
por estar “entregando altas somas de dinheiro para estes, sem ao menos saber quem
eram”.
Numa ocasião, Valério queria saber a cor da blusa de Simone, “para que fosse
identificada pelo estranho que deveria receber o dinheiro”. Os valores variavam de R$
50 mil a R$ 300 mil, sendo que, em algumas ocasiões, teve de levar altas somas até as
mãos de Valério, em hotéis de luxo. Uma vez, levou o dinheiro até um táxi, que a
esperava na frente de um centro de compras em Brasília.
Novas pessoas, novos saques. A CPI dos Correios usa os dados da quebra do
sigilo bancário de Marcos Valério para identificar o caminho do dinheiro. Surge Zilmar
Fernandes da Silveira, a sócia do publicitário Duda Mendonça. Foi identificada uma
retirada de Zilmar de R$ 250 mil. Duda é ligado ao presidente Lula e responsável pela
campanha eleitoral de 2002, que o elegeu. Além de orientar ações do presidente,
administra os contratos de publicidade da Petrobrás, Ministério da Saúde e Secom, a
Secretaria de Comunicação da presidência da República.
Rodrigo Barroso Fernandes, assessor do prefeito de Belo Horizonte, Fernando
Pimentel (PT), sacou R$ 274 mil. Com a notícia, é desligado da Prefeitura. E começa a
novela de um tal Roberto Marques, o amigo de José Dirceu (PT-SP) que fugiu feito o
diabo da cruz, de uma retirada de R$ 50 mil.
Outros nomes: Paulo Menegucci, diretor dos Correios. Recebeu R$ 205 mil. Jair
dos Santos, motorista do presidente do PTB, Flávio Martinez. Sacou R$ 300 mil. Nestor
Francisco de Oliveira, assessor do deputado Roberto Brant (PFL-MG). Pegou R$ 102
mil no banco. Cantídio Cotta Figueiredo, candidato a deputado pelo PTB. Sacou R$ 68
mil. Luiz Carlos de Miranda Faria, outro candidato do PTB. Fez retirada de R$ 68 mil.
Benoni Nascimento de Moura, da corretora Bônus-Banval. Pôs a mão em R$ 255 mil. E
Luiz Carlos Masano, também ligado à Bônus-Banval. Recebeu R$ 50 mil. Suspeita-se
das ligações da Bônus-Banval com o deputado José Janene (PP-PR).
Chamam a atenção, ainda, os saques atribuídos a David Rodrigues Alves, um
policial mineiro, no valor de R$ 4,9 milhões. Localizado o policial, ele explica que foi
contratado por Cristiano de Mello Paz, sócio de Marcos Valério.
A história dele: recebia entre R$ 50 e R$ 100 sempre que ia buscar dinheiro no
Banco Rural e o levava diretamente a Paz, na SMPB em Belo Horizonte. Diz o policial:
– Os pacotes já estavam prontos nas agências, eu apenas assinava o recebimento.
Meu trabalho era retirar o dinheiro e entregar na SMPB. Quero deixar claro que eu fazia
a retirada do dinheiro do banco. Eu não sacava e não sei de quem era o dinheiro.
Paz, o sócio de Valério, informa, por meio da assessoria, que não conhece o
policial. O policial devolve, à altura: foi apresentado a Paz por um doleiro, Haroldo
Bicalho.
O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) admite nos bastidores renunciar ao
mandato. A mulher dele, Márcia Milanésio Cunha, sacou mesmo R$ 50 mil do
valerioduto, no Banco Rural. Cunha chegou a escrever a carta de renúncia, mas José
Dirceu (PT-SP) e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDBAL),
presidente do Senado, o convencem a recuar.
Cunha não comenta a quase-renúncia. A assessoria, porém, já está pronta para
rebater: os R$ 50 mil foram gastos integralmente na campanha eleitoral de Osasco (SP).
Com o tempo, a versão vai ser aprimorada. E o deputado? Viajou com a família para
destino ignorado. Por dez dias.
Não há mais dúvida: Silvio Pereira ganhou o jipe Land Rover da GDK, a
empresa contratada pela Petrobrás. César Roberto Santos Oliveira, vice-presidente da
GDK, deu mesmo o presente ao secretário-geral do PT. José Paulo Boldrin, dono da
revendedora de automóveis Eurobike, de Ribeirão Preto (SP), confirmou o negócio.
Vendeu o carro depois que recebeu um depósito de R$ 73.500,00. O jipe é um Land
Rover modelo Defender 90-SW, ano 2003. O carro já saiu da Eurobike em nome de
Silvinho. E foi entregue na casa dele, em São Paulo.
A GDK doou R$100 mil para a campanha de Lula. Em 2003, primeiro ano de
governo, faturou R$ 145 milhões em contratos com a Petrobrás. Em 2004, venceu dez
licitações promovidas pela estatal. Total em jogo: R$ 512 milhões. O maior contrato foi
para reformar a plataforma de extração de petróleo P-34, no valor de US$ 88 milhões.
Em 2005, mais cinco contratos celebrados com a Petrobrás, no valor de R$ 272 milhões.
Na campanha eleitoral de 2004, a GDK só deu dinheiro para uma campanha
política. Foi a de Osasco (SP), justamente o berço político de Silvinho. Doou R$ 400
mil para o candidato Emídio de Souza (PT), e com isso foi a maior doadora daquela
campanha.
Silvinho chegou a pedir R$ 79 mil pelo Land Rover, mas anuncia que desistiu de
vender. Ele se desliga do PT.
Com estrela do PT na lapela, Delúbio Soares depõe à CPI dos Correios.
Protegido por habeas-corpus, não pode ser preso. Ao longo de todo o escândalo, como
se verá, Delúbio agiu sempre como um grande escudo, protegendo Lula e a cúpula do
PT. Isenta o governo e integrantes do PT de quaisquer responsabilidades pelas
transações financeiras com Marcos Valério. Assume todos os eventuais erros. Mata no
peito. Orientado por advogados, evita o caixa 2:
– Não existe caixa 2, existe dinheiro não-contabilizado.
Nega a existência do mensalão. Deixa dúvidas:
– Eu definia quem iria receber o dinheiro. Quem definia o método de pagamento
do dinheiro era o Marcos Valério. Eu não sei como era feita a entrega do dinheiro.
E foi assim que tudo começou, segundo Delúbio: Valério se ofereceu para pagar
dívidas de campanha, “eu concordei”. Simples assim. Tudo “na base da confiança”.
Sem documentos ou contratos, sem que ninguém do partido tivesse conhecimento. E
como devolver os quase R$ 40 milhões que foram emprestados dos bancos? O
tesoureiro do PT arranca risos dos parlamentares presentes à sessão:
– Estou diante de um grande problema, e preciso resolvê-lo o mais rápido
possível.
Delúbio esquiva-se de responder sobre a quantia de R$ 29.436,26 emprestada
pelo PT ao presidente Lula, em 2003. O dinheiro vai dar muito pano para manga. Por
ora, a informação: no livro-caixa do PT, oficialmente entregue ao TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), o dinheiro foi quitado em quatro vezes. Diz o tesoureiro:
– Nossa prestação de contas é rigorosa.
Questionado sobre a legalidade do ato, encerra o assunto:
– Não convém me pronunciar.
Mais números contra Marcos Valério. Dos R$ 836 milhões faturados nos
últimos seis anos pelas 14 empresas das quais o empresário aparece no período como
sócio, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da
Fazenda) descobre: R$ 500 milhões não tiveram origem identificada. Simples assim. E
surge mais um braço financeiro de Valério, aliás: o BRB (Banco de Brasília), pelo qual
passaram, em dois anos, R$ 100 milhões. É dinheiro atribuído às chamadas “contas
lavanderia”.
A movimentação é descrita como atípica. Depósitos e transferências imediatas,
que vão de R$ 20 mil e R$ 120 mil, feitas pelo sistema TED (Transferência Eletrônica
Direta). O dinheiro é posto instantaneamente nas contas dos beneficiados. Ninguém
sabe, ninguém viu.
Em cinco anos, Valério pagou R$ 26 mil de imposto de renda. Dinheiro para
comprar um carro popular. Para o fisco, ele tem uma renda média mensal pouco
superior a R$ 5.000,00. O patrimônio declarado, porém, é de R$ 18,5 milhões. 80% dos
bens, nos nomes da mulher, Renilda de Souza, e dos filhos. Em 2004, Valério pagou
apenas R$ 2.800,00 de impostos. Em 2005, R$ 3.000,00.
Depoimento à Comissão de Ética da Câmara. Maria Christina Mendes Caldeira,
ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, faz relato sobre a
conversa telefônica entre o ex-marido e o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ). Os dois
trataram de operação financeira para atrair deputados para a bancada do PL.
– Ouvi a conversa e vi o dinheiro, guardado no cofre da nossa casa.
Ela testemunhou a entrega de uma mala repleta de dólares ao deputado
maranhense Remi Trinta. Ouviu o diálogo em que Valdemar pede para Jacinto Lamas, o
tesoureiro do PL, pegar “várias malas” em Belo Horizonte:
– Ele era como o boy do Valdemar.
Além de movimentar altas somas, o ex-marido tinha o costume de andar de
jatinho e torrar milhões em cassinos. Em uma noite, perdeu US$ 500 mil numa casa de
jogo do Uruguai. Outra vez, foram US$ 300 mil em Las Vegas, nos Estados Unidos.
– Na volta de uma viagem acabei trazendo, sem saber, uma mala de dinheiro.
O Congresso Nacional instala a CPI do Mensalão. O governo tem o controle da
comissão, com a nomeação do senador Amir Lando (PMDB-RO) para presidente, e do
deputado Abi-Ackel (PP-MG) para relator. Lando foi ministro da Previdência de Lula, é
peemedebista fiel ao Planalto. Quem o banca é o líder do governo no Senado, Aloizio
Mercadante (PT-SP). Abi-Ackel foi ministro da Justiça do presidente João Figueiredo
(1979-1985). Diz Mercadante:
– É um deputado acima de qualquer suspeita.
69 – 21/7/2005 Mais um deputado do PT no escândalo do mensalão. É José
Mentor (SP), ligado a José Dirceu (PT-SP) e à ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP), da
qual foi líder de governo na Câmara Municipal de São Paulo. Mentor recebeu dois
cheques, no total R$ 120 mil. Os documentos estão entre os comprovantes de R$ 50
milhões transferidos de contas de Valério, via Banco do Brasil.
Os R$ 120 mil vieram da 2S Participações, empresa ligada a Valério, que
movimentou R$ 26,4 milhões em dois anos. O dinheiro foi transferido para o escritório
de advocacia de Mentor. O deputado o vincula a um serviço jurídico que prestou a
Rogério Tolentino, sócio de Valério. Importante: no escritório de Mentor não há cópias
do parecer que diz ter elaborado.
Mentor foi identificado por causa de um cheque nominal. Na maior parte dos
casos, porém, os cheques do Banco do Brasil em poder da CPI dos Correios só
mencionam números sigilosos, as próprias contas bancárias dos favorecidos.
Outro detalhe importante: em julho de 2004, quando Mentor pôs as mãos nos
cheques, ele ainda ocupava o cargo estratégico de relator da CPI do Banestado. A
comissão investigava lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Suspeita-se que Mentor
poupou o Banco Rural, ligado a Valério, no relatório final da CPI.
O deputado Paulo Rocha (PT-PA), líder do PT na Câmara dos Deputados,
afasta-se do cargo. Ligado a José Dirceu (PT-SP), foi tesoureiro do PT do Pará e
presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT) paraense. Sai sem
explicar saques no total de R$ 470 mil, supostamente feitos pela assessora Anita
Leocádia Pereira Costa. O dinheiro foi retirado de uma conta bancária de Valério, no
Banco Rural. Rocha até prometeu dar entrevista, mas depois voltou atrás. E sumiu do
gabinete.
A nota da assessoria de Rocha, coerente com as explicações de Lula, Delúbio e
Valério, mas contradizendo o que ele dissera anteriormente: o deputado pedira R$ 300
mil a Delúbio para quitar gastos de campanha no Pará. Não há menção sobre os R$ 170
mil restantes. Como se verá, há mais dinheiro envolvido.
A Polícia Federal avança no caso da cueca milionária. Reúne indícios sobre a
origem dos R$ 200 mil encontrados numa maleta e os US$ 100 mil escondidos nas
partes íntimas, tudo transportado por José Adalberto Vieira da Silva, o assessor do
deputado José Nobre Guimarães (PT-CE). Tudo indica que é propina. A suspeita vem
do fato de Vieira da Silva ter se encontrado com um dono de empreiteira. Do
procurador Márcio Torres, sobre o depoimento de Vieira da Silva ao Ministério Público
Federal:
– Ele confirma que esteve com o empresário José Petronilho de Freitas. Disse
que foi fazer uma visita e conversaram amenidades, nada a ver com o dinheiro.
O empresário é ligado a Cavan. Está em jogo um negócio de R$ 450 milhões. O
sistema de transmissão de energia elétrica do Nordeste prevê a construção de um linhão
de 550 quilômetros. Vai ligar Teresina a Fortaleza. O empreendimento tem
financiamento do BNB (Banco do Nordeste do Brasil). Envolve ainda a Chesf
(Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco).
Recapitulando: quando recebeu ordem de prisão no aeroporto de Congonhas,
flagrado com a dinheirama, Vieira da Silva telefonou ao amigo petista e assessor
especial do BNB, Kennedy Moura, que seguiu para São Paulo. A propósito, também
estava na capital paulista o deputado Guimarães. Foi ele, aliás, quem indicou Moura
para o BNB de Lula. Suspeita-se que Vieira da Silva era apenas “mula”, alguém
incumbido de transportar dinheiro.
Em depoimento à CPI dos Bingos, o procurador da República Ronaldo Meira de
Vasconcellos acusa Waldomiro Diniz, “a mão invisível que estimulava a jogatina no
país”. Waldomiro, que então presidia a Loterj, estatal das loterias, foi o responsável pela
portaria que autorizou os jogos eletrônicos no Rio. Vários Estados copiaram o
dispositivo legal. Diz o procurador da República:
– Era um convite estimulando a prática da jogatina.
Lula demite Olívio Dutra (PT-RS), o ministro das Cidades. É um acordo para
dar espaço ao PP. Em seu lugar assume Márcio Fortes, uma indicação do presidente da
Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). Dutra não esconde o ressentimento:
– O PT tem problemas muito sérios, que acabam respingando no governo.
Para Dutra, “disputa” e “concentração de poder no governo” deram espaço para
o crescimento da “erva daninha” da corrupção. Ele não explica nem cita nomes, mas
acrescenta, com gravidade:
– O problema foi provocado por figuras e políticos que predominaram por certo
tempo dentro do nosso partido.
“Escárnio à nação”. O título, do editorial da Folha de S.Paulo. Fala dos saques
nas contas das empresas de Marcos Valério, que “indicam que o dinheiro não servia
apenas para financiar ou saldar dívidas de campanhas, mas para complementar
salários”:
“Vai ficando cada vez mais claro que os desvios praticados pelo Partido dos
Trabalhadores não dizem respeito a um esquema pelo qual irregularidades seriam
cometidas em nome de uma causa política – o que, de qualquer forma, caracterizaria
corrupção e crime.”
Outro trecho:
“Perplexos, os brasileiros que acompanham o desenrolar dos depoimentos e das
revelações da imprensa vão assistindo ao desvelamento de um amplo esquema de
apropriação da máquina pública e movimentação irregular de recursos orquestrado pela
cúpula do PT, com evidentes ramificações no governo federal.”
70 – 22/7/2005 A dívida de R$ 29.436,26 do presidente Lula. Durante cinco
dias, a Folha de S.Paulo procurou explicações do Palácio do Planalto. Queria saber
como o débito fora pago. O governo, finalmente, emitiu uma nota: “A Presidência da
República não tem conhecimento dessas informações, que devem ser buscadas junto ao
Partido dos Trabalhadores”.
A Folha recorda: no segundo dia, o Planalto ainda respondeu que o dinheiro se
referia a viagens de Lula, como presidente de honra do PT. Em seguida, estranhamente,
retirou a informação. Ou seja, ela não procedia. Depois disso, nenhuma nova
manifestação.
Dados da prestação de contas do PT, assinados pelo então tesoureiro Delúbio
Soares e entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral): a primeira das quatro parcelas
que quitou a dívida de R$ 29.436,26 foi de R$ 12 mil. O dinheiro foi depositado em 30
de dezembro de 2003, ao final do primeiro ano do governo Lula.
No mesmo dia, coincidência! Extratos bancários do PT encaminhados ao mesmo
TSE revelam um depósito on line na conta do diretório nacional. Nos extratos aparece o
nome da funcionária Solange Pereira Oliveira, da tesouraria do PT. O nome dela
também faz parte da lista dos sacadores de dinheiro das contas de Marcos Valério.
Retirou R$ 100 mil, em dinheiro vivo.
A grande dúvida, que perdura: a dívida de Lula teria sido paga com dinheiro de
caixa 2, das contas de Valério? Outra informação, apurada pelos repórteres Marta
Salomon e Rubens Valente: no mesmo 30 de dezembro de 2003, um saque na conta da
SMPB de Valério. Não há identificação a respeito. O nome do sacador desapareceu
dentro da sala da CPI dos Correios. Intrigante. Quem desapareceu também foi Solange.
Desapareceu da sede do PT. A nova direção do PT não se manifesta a respeito.
Em viagem ao Rio, Lula ridiculariza as investigações sobre o escândalo do
mensalão:
– O que o povo quer mesmo é resultado. É saber se, no frigir dos ovos, a sua
vida vai estar melhor do que quando nós entramos no governo.
Em outras palavras, Lula defende o “rouba, mas faz”.
Após almoçar com trabalhadores na refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias
(RJ), o presidente, exaltado, diz que ninguém lhe dá lição de ética:
– Eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida neste país. E não vai ser a
elite brasileira que vai me fazer abaixar a cabeça.
Não se trata disso, evidentemente. Trata-se, isso sim, de um sofisticado esquema
de corrupção, montado por um grupo de políticos que gravita em torno do presidente.
Surgem evidências contra mais um deputado do PT. O Professor Luizinho (PTSP)
também usufruiu os serviços de caixa 2 de Marcos Valério. Ex-líder do governo
Lula na Câmara, Luizinho é ligado a José Dirceu (PT-SP). Ele, no entanto, manda
Rosana Lima, sua solícita chefe de gabinete, negar: o José Nilson dos Santos
identificado entre os sacadores do esquema do mensalão não é o José Nilson dos Santos
que trabalha para ele. É um homônimo.
O José Nilson assessor, segundo a chefe de gabinete, trabalha em Santo André
(SP). “Nunca esteve em Brasília com a finalidade de sacar dinheiro no Rural. Não sacou
R$ 20 mil de forma alguma”. Acreditou?
O deputado José Borba (PMDB-PR) vai para o noticiário. Ele não aparece como
sacador, nem funcionários dele aparecem como sacadores. Mas Borba esteve no Banco
Rural em Brasília, no mesmo dia e horário que Simone Vasconcelos, a diretora
administrativa e financeira de Marcos Valério.
Em 26 de novembro de 2003, ela fez quatro saques, num total de R$ 400 mil. De
acordo com o sistema de controle, Borba entrou no prédio apenas dois minutos antes de
Simone. Saiu cinco minutos depois. Cena de cinema. Uma semana depois, 3 de
dezembro: Borba e Simone, novamente. No mesmo dia, no mesmo Banco Rural.
71 – 23/7/2005 A revista Veja noticia: Marcos Valério pediu ao deputado João
Paulo Cunha (PT-SP) garantias de que não será “enjaulado” por causa do escândalo do
mensalão. Além disso, exigiu dinheiro para garantir o futuro da família. Valério teria
mandado recado: se não for atendido, vai para Brasília com “quilos de documentos”.
Frase atribuída a Valério, com referência a Lula:
– Vocês vão se ferrar. Avisa ao barbudo que tenho bala contra ele.
Outra ameaça:
– Quem tiver motivos para preocupação, pode ir se preocupando.
Conforme Veja, Valério pediu ao governo para deixá-lo intermediar uma
operação de corretagem, envolvendo a liquidação do Banco Econômico. Um negócio
que renderia R$ 200 milhões.
Em outro momento, Valério menciona o procurador-geral, Antonio Fernando de
Souza, e o tesoureiro Delúbio Soares:
– A realidade é bem simples. O PT me pediu dinheiro emprestado e está provado
que tomei os empréstimos nos bancos. Entreguei todos os contratos ao procurador-geral
da República. O tesoureiro diz que o dinheiro foi para o PT. A nova direção fala que vai
dar o cano nos empréstimos que beneficiaram o PT. O beneficiado foi o PT e as pessoas
que ele apontou. Não paguei a ninguém da minha cabeça. Se mandou pagar ao PL ou ao
PP, ou a que partido for, se foi para pagar dívidas de campanha ou para gastos de précampanha,
isso não me diz respeito.
A revista Época acusa o deputado Abi-Ackel (PP-MG), o relator da CPI do
Mensalão. Ele teria ligações com Marcos Valério, que doou R$ 100 mil para a
campanha dele a deputado federal, em 1998. O filho, Paulo Abi-Ackel, recebeu R$ 50
mil de Valério.
Abi Ackel dá entrevista. Diz não se lembrar do fato, ocorrido sete anos atrás.
Mas nega que as supostas doações possam prejudicar o trabalho do relator:
– Estou apurando o mensalão, que pressupõe uma contribuição periódica para
votar com o governo. Em 1998, era outra situação.
Mais tarde, a explicação: a contribuição de Valério foi recebida não por ele, mas
pelo setor financeiro da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB), candidato na época a
governador de Minas. O depósito, decisão de Cláudio Mourão, o tesoureiro da
campanha.
A Folha de S.Paulo vai a Santo André (SP). O promotor Amaro José Thomé
Filho suspeita que a Prefeitura funcionou como um “laboratório” para o esquema de
caixa 2 do PT em Brasília. A comparação é com uma suposta operação de coleta de
propina de empresários de ônibus. O promotor investiga corrupção na gestão do exprefeito
Celso Daniel (PT), assassinado em 2002:
– Com o andamento das investigações, tanto no âmbito municipal quanto no
federal, podemos chegar à conclusão de que Santo André pode ter servido de
laboratório para a implantação de um esquema muito maior.
Entre as semelhanças dos dois esquemas de “sangria” de verbas públicas, a
participação de empresários, tesoureiros de partido, membros da cúpula do PT, o uso de
malas para transportar dinheiro e a presença do deputado José Dirceu (PT-SP).
Outro promotor do caso, Roberto Wider Filho, critica o arquivamento do pedido
de abertura de inquérito para investigar Dirceu. Foi decisão de Nelson Jobim, o
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal):
– A gente teve notícia de que o dinheiro iria para José Dirceu. Isso foi
encaminhado à Procuradoria, mas o ministro Jobim impediu a instauração de um
inquérito.
A Folha traz artigo de Cláudio Weber Abramo, diretor-executivo da
Transparência Brasil. Trata de caixa 2:
“Se uma empresa não doa abertamente recursos para um partido, mas prefere
fazê-lo por debaixo do pano, isso não se explica por anseios de discrição quanto a
fervores ideológicos, mas por uma entre duas hipóteses possíveis. Em período préeleitoral,
trata-se de investimento com expectativa de retorno material futuro, na forma
de vantagens de diferentes tipos, todas elas fraudulentas. Em período pós-eleitoral,
trata-se do pagamento da propina devida pela materialização daquelas vantagens.”
Outro trecho: “Caixas 2 são montados com dinheiro proveniente de corrupção.
São subornos oriundos de contratos superfaturados, conseguidos pelo direcionamento
de licitações públicas, da leniência na fiscalização de contratos, do perdão ou redução
de dívidas e multas previdenciárias e tributárias, da promulgação de regulações que
beneficiam inteiros setores econômicos, de achaques para a concessão de licenças, da
omissão cúmplice de agências reguladoras e de uma multidão de outros mecanismos
fraudulentos”.
72 – 24/7/2005 O instituto DataFolha divulga pesquisa. 78% da população
acreditam existir corrupção no governo Lula. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o
respeitável senador Jefferson Péres (PDT-AM) diz estar convencido de que o presidente
sabia de todo o esquema de corrupção. Foi poupado apenas dos detalhes. Péres acredita
nos pagamentos:
– Talvez não na forma de uma mesada, mas acho que eram pagamentos
pontuais. Sempre que precisavam, os parlamentares subornados, para aderir ou
permanecer no governo, recorriam ao caixa 2 do Delúbio. Pouco importa que tenha sido
mensal, semestral ou esporádico. Configura suborno, corrupção.
A Folha traz o editorial “A Lavabrás”. Trata da lavanderia “de dinheiro escuso
destinado a alimentar campanhas, partidos e políticos”:
“A documentação que vai chegando às mãos da CPI e as revelações trazidas pela
imprensa começam a completar, pouco a pouco, o quebra-cabeça do esquema de
movimentação irregular de dinheiro por intermédio das empresas do publicitário
Marcos Valério Fernandes de Souza. Ao que tudo indica, o país está diante de uma
grande operação de captação de recursos de caixa 2 e lavagem de dinheiro pela qual o
empresário vinha abastecendo o Partido dos Trabalhadores e os políticos por ele
indicados.”
O editorial prossegue: “Os fatos apurados já reduziram a pó a fantasiosa versão
de que as empresas de Valério apenas ofereceram uma providencial ajuda à legenda do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontrava em dificuldades para saldar
compromissos de campanha e se viu forçada a operar com dinheiro ‘não
contabilizado’”. E mais:
“São cada vez mais enfáticos os sinais de que o publicitário conta com uma rede
de empresas utilizada para intermediar doações clandestinas e procurar ‘esquentá-las’.
Não se sabe ainda a dimensão do fundo que se acumulou, mas os indícios são de que
parte considerável da arrecadação se encontra no exterior.”
O jornal O Estado de S. Paulo revela bastidores do “esquema megalomaníaco”
montado pelo PT. Descreve como o tesoureiro Delúbio Soares “terceirizou” a Secretaria
de Finanças do partido, repassando atribuições a Marcos Valério. Para a repórter Vera
Rosa, o “gabinete de crise” do PT estima em R$ 160 milhões as dívidas do partido,
acumuladas em dois anos e meio de governo Lula.
A reportagem menciona gastos milionários em aluguel de jatinhos e
helicópteros, para transportar dirigentes partidários. Durante as viagens, hospedagens
em suítes de hotéis de luxo:
“Enquanto isso, as empresas de Marcos Valério, dono das agências SMPB e
DNA, amealhavam contratos e negócios no governo, principalmente em estatais, como
Correios, Banco do Brasil e Eletronorte. Para agradar aos petistas, vez por outra o
publicitário financiava festas de embalo, que contavam com participação de dirigentes
da legenda, deputados e até funcionários do Banco do Brasil.”
Declaração do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP):
– É muito curioso que empréstimos vultosos do Banco Rural, BMG e Banco do
Brasil tenham sido dados sem nenhum tipo de garantia, só por relação de amizade.
Segundo a experiente repórter, José Dirceu (PT-SP) “sempre foi visto como o
homem que dava as cartas no partido mesmo à distância, durante a gestão de Genoino”.
E mais:
“Sempre em dobradinha com Valério, um seleto grupo de petistas distribuía
dinheiro conforme suas conveniências e mantinha operadores próprios em Estados e
municípios. Candidatos amigos ou que serviam para alavancar projetos políticos futuros
ganhavam mundos e fundos. Os outros recebiam o que se convencionou chamar no PT
de ‘ração’: pacote básico ‘estrela’, com material institucional.”
Ainda em O Estado: fundos de pensão de empresas estatais aplicaram, durante o
governo Lula, R$ 600 milhões. Os principais beneficiários, apenas três bancos. Dois
deles estão no centro da crise: BMG e Banco Rural. O outro, o Banco Santos.
73 – 25/7/2005 Equipe de reportagem da TV Globo flagra Delúbio Soares ao
deixar seu apartamento nos Jardins, em São Paulo. Está no automóvel Marea HLX, com
acessórios e blindagem, comprado pelo PT por R$ 104 mil. Faz quase três semanas que
o tesoureiro supostamente está desligado do partido, embora o salário, de R$ 12 mil,
continue sendo pago pelo partido.
Depois do flagrante, o novo tesoureiro, deputado José Pimentel (PT-CE),
apressa-se em recolher o carro blindado e a anunciar a venda do veículo. Delúbio e
Silvio Pereira, o Silvinho, são clientes dos advogados Arnaldo Malheiros e Celso
Vilorde, dois dos mais prestigiados criminalistas do país, com serviços advocatícios
cotados em R$ 2 milhões. As novas lideranças do PT garantem que o partido não pagará
mais advogado para ex-dirigente. Não é bem assim.
O deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) admite o recebimento de R$ 102 mil do
valerioduto. O dinheiro veio da conta da SMPB no Banco Rural, em 31 de agosto de
2004. Queiroz assegura: o repasse não ficou com ele, foi transferido para candidatos do
interior de Minas Gerais, do PTB e do PT. O deputado não fornece nomes.
Mais um beneficiário do caixa 2 do PT. É o secretário de Finanças do PT de
Minas Gerais, Carlos Magno Ribeiro Costa. Ele recebeu R$ 90 mil. Em férias, não é
localizado para dar explicações.
A CPI dos Correios identifica novos depósitos milionários. A corretora Bônus-
Banval fora relacionada ao deputado José Janene (PP-PR). Num primeiro momento
apareceram saques efetuados no Banco Rural, num total de R$ 305 mil, destinados a
pessoas ligadas à empresa. Agora a coisa ficou mais séria. A Bônus-Banval recebeu R$
2,9 milhões da empresa 2S, de Valério, por meio de sete transferências eletrônicas feitas
no Banco do Brasil.
Surgem também depósitos suspeitos de R$ 6 milhões na conta da Garanhuns
Empreendimentos, Intermediações e Participações. São transferências por meio de
cheques do Banco Rural. Garanhuns (PE), a propósito, é a cidade de nascimento de
Lula. No endereço registrado da empresa, em Santana do Parnaíba (SP), um terreno
baldio, usado como campinho de futebol.
Jorge Moura, ex-presidente da Refer, o fundo de pensão dos ferroviários, acusa:
Marcelo Sereno, homem de confiança de José Dirceu (PT-SP), tentou influenciar um
investimento de R$ 1,4 bilhão da Refer. Para Moura, Sereno tentou direcionar as
aplicações do fundo de pensão para os bancos Rural, BMG, Santos e Pactual.
Ele denuncia outras pressões, vindas do deputado Carlos Santana (PT-RJ). A
mulher dele, Tânia Santana, ocupava cargo na diretoria da Refer. Do esquema
participariam Cristina Montemor, a presidente do conselho deliberativo da Refer, ligada
a Santana, e Juarez Barroso, integrante do PT e secretário de Administração da
Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ).
O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) defende a quebra de sigilos dos fundos
de pensão. Quer provar que não existiram empréstimos dos bancos Rural e BMG para o
PT:
– Não tem empréstimo, o que houve foi um ajuste contábil para maquiar a
entrada do dinheiro nos cofres do partido.
74 – 26/7/2005 Depoimento à CPI dos Correios. É de Renilda Maria Santiago
Fernandes de Souza, mulher de Marcos Valério, sócia das agências de publicidade DNA
e SMPB. Ponto alto do que diz: o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) participou das
negociações que culminaram nos dois empréstimos concedidos pelos bancos Rural e
BMG ao PT, operações avalizadas por Valério.
Renilda Maria dá detalhes: Dirceu viajou a Belo Horizonte no fim de 2004, para
se reunir com dirigentes do Banco Rural e discutir empréstimos para o PT. O encontro
foi no Hotel Ouro Minas. Segundo ela, o ex-ministro também esteve com diretores do
BMG em Brasília. Numa tacada, Valério espeta Dirceu e ainda sustenta a tese da
conveniência, a dos empréstimos para rechear os cofres do caixa 2 do PT.
Por meio de nota, Dirceu não foge. Manteve encontros com executivos dos dois
bancos, mas nega ter tratado de empréstimos ao PT. De acordo com a assessoria, a
conversa com diretores do BMG, no Palácio do Planalto, tratou da conjuntura
econômica.
A agenda do Ministério da Casa Civil informa, ainda, que houve uma terceira
reunião, em agosto de 2003, em Brasília, com Kátia Rabelo, a presidente do Banco
Rural. Durante os 30 meses em que permaneceu à frente da Casa Civil, Dirceu manteve
encontros com dirigentes de quatro bancos: Rural, BMG, Bradesco e Citibank.
Da jornalista Dora Kramer, em O Estado de S. Paulo:
“Está bem que José Dirceu não tenha falado com as diretorias dos bancos Rural
e BMG sobre os empréstimos ao PT e, como alega o Rural, tenha se reunido com eles
para discutir a liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco. Desde quando é normal
um ministro da Casa Civil fazer reuniões em hotéis para tratar com diretores de bancos
da liquidação de instituições financeiras? A emenda parece pior que o soneto.”
Não foi só o jipe Land Rover de Silvio Pereira. A GDK, contratada da Petrobrás,
também emprega Mônica Wagner, filha do novo ministro das Relações Institucionais de
Lula, Jaques Wagner (PT-BA). Ela trabalha na empresa desde maio de 2004. Na época,
o pai comandava o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, nomeado por
Lula. Em 2002, a GDK doou R$ 225 mil para a campanha do PT na Bahia. Wagner era
o candidato a governador.
75 – 27/7/2005 A CPI dos Correios aprova pedido de prisão preventiva para
Marcos Valério. A decisão ocorre duas semanas após a descoberta das notas e
documentos da DNA, queimados em Minas. A justificativa para a prisão é o risco de
Valério destruir provas que possam contribuir para a elucidação do escândalo.
O PL consultou o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti
(PP-PE). Nos bastidores, a idéia de retirar a representação que pediu a abertura do
processo de cassação de Roberto Jefferson (PTB-RJ). É a primeira tentativa de acordão.
Teme-se uma cassação em massa de deputados.
Em troca, o PTB desistiria de pedir processos contra cinco deputados do PL. O
repórter Ranier Bragon, da Folha de S.Paulo, questiona o líder do PL, deputado Sandro
Mabel (GO). Mabel quer saber de Jefferson:
– Se ele voltar atrás, nossa representação perdeu o efeito, aí nós não temos
problema nenhum. O que nós temos de limpar é essa história de mensalão, nunca existiu
isso. Se ele falar: “Ó, o mensalão eu não provei, mas provei que existiu dinheiro de
campanha etc”, aí é outro departamento. Agora essa história de tirar para fazer acordo...
Acordo de quê?
Segundo Mabel, Jefferson é o interessado no acordo. Deseja ser governador do
Rio e por isso tenta evitar a cassação. A manobra se frustra porque vem a público. Diz
Jefferson:
– Não negocio com vagabundos.
Apesar das negativas, José Nilson dos Santos é mesmo o assessor do deputado
Professor Luizinho (PT-SP), ex-líder do governo Lula na Câmara. Sacou R$ 20 mil em
dinheiro, de conta bancária da SMPB de Marcos Valério. Foi em 23 de dezembro de
2003, no Banco Rural. Deixou o número do RG na agência. Reação do Professor
Luizinho:
– Alguém está montando documentação falsa. Vou processar todos.
Em Santo André (SP), o assessor confirma o número do RG, mas alega estar
surpreso:
– Não sei o que aconteceu. Nunca entrei em uma agência do Banco Rural. Nem
aqui nem em Brasília.
José Nilson dos Santos está na lista das 11 pessoas indicadas pelo PT a Valério.
Todas autorizadas a fazer saques de dinheiro, diretamente do caixa 2 do partido. Já faz
sete anos que o assessor trabalha com Luizinho.
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), envia ofício ao Conselho de
Ética da Câmara. Confirma que alertou Lula sobre o esquema de pagamentos a
parlamentares, em 5 de maio de 2004. Diz o documento:
“Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a
parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas. Repeti
o inteiro teor das informações que havia recebido. O senhor presidente disse que não
tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria. Não sei quais
foram as providências tomadas.”
Perillo aponta duas testemunhas da conversa, que estavam dentro do carro. O
motorista e o chefe da segurança do presidente. Nunca foram chamados pela CPI dos
Correios, jamais depuseram.
Mais uma mala, com R$ 200 mil em dinheiro, nas mãos de um integrante do PT.
O líder do partido na Câmara Municipal de Vitória da Conquista (BA), vereador
Alexandre Pereira, não fala sobre o assunto. Ele foi procurado pelo repórter Biaggio
Talento, do jornal O Estado de S. Paulo, que procurava detalhes sobre o que ocorrera
com Geraldo Reis, membro do diretório do PT da Bahia
Reis tem ligações com o deputado Guilherme Menezes (PT-BA). Em 12 de
julho de 2005, foi assaltado quando transportava a tal mala, numa viagem de ônibus
entre Salvador a Vitória da Conquista. Ficou de mãos vazias. De acordo com o relato de
passageiros do ônibus, até os assaltantes ficaram surpresos com a quantidade de
dinheiro. Reis não faz comentários.
Para Pereira, agora, não eram R$ 200 mil, mas R$ 20 mil. E dinheiro para pagar
os advogados do prefeito de Vitória da Conquista, José Raimundo Fontes (PT). O
assalto da mala não teve registro na polícia. Não foi pedida investigação.
76 – 28/7/2005 Manifestações populares contra a corrupção ocorrem no Rio e
em Porto Alegre. Nos protestos, chuva de ovos e confrontos entre populares e policiais
militares. Em Brasília, o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza,
descarta a prisão preventiva de Marcos Valério. Para ele, não existem fatos que
indiquem uma tentativa de obstrução das investigações. Só isso justificaria a prisão. O
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim, nega pedido de
prisão de Valério, formulado pela Polícia Federal. A representação baseava-se na
queima e destruição de documentos da agência DNA.
Cheiro de pizza no ar. A abertura de diversas frentes de investigação dá a
sensação de perda de controle das apurações. Exatamente como o governo queria. O
turbilhão de informações tira o foco dos trabalhos da CPI dos Correios. Nos jornais,
denúncias sobre o envolvimento de membros da oposição em esquemas de corrupção
repercutem e confundem a opinião pública. São acusações envolvendo as agências de
Valério na campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas, em 1998. Ele
não foi eleito.
No Congresso, trazem intranqüilidade os boatos sobre a existência de uma lista,
com nomes de mais de 100 parlamentares, todos supostos recebedores de dinheiro do
valerioduto. O governo continua a negar o esquema do mensalão. Refuta atos e crimes
de corrupção, e insiste na tese de que o dinheiro serviu apenas para liquidar dívidas de
campanhas eleitorais. Quer que o problema atinja a todos, indiscriminadamente. Jaques
Wagner (PT-BA), ministro das Relações Institucionais, fala de caixa 2:
– No que toca o financiamento de campanha, pelas regras atuais, todo mundo
tem.
Análise da movimentação das contas bancárias das empresas de Marcos Valério
faz alimentar as provas do esquema de corrupção. Novas revelações vêm a público: o
deputado João Magno (PT-MG) recebeu duas transferências eletrônicas da SMPB, pelo
Banco Rural. Um total de R$ 29 mil, em agosto e setembro de 2004.
Por meio da assessoria, explicações. A mesma ladainha: Magno nunca teve
contato com a SMPB, mas nas eleições de 2002 pediu ajuda financeira a Delúbio
Soares. Ele deu. Mais nada.
Outro que se apresenta para tentar explicar, o deputado Romeu Queiroz (PTBMG).
Os R$ 50 mil depositados na conta dele, transferidos eletronicamente em agosto
de 2004 da conta da SMPB no Banco Rural, são parte das doações de campanha
daquele ano. Vieram da empresa siderúrgica Usiminas, que contribuiu para a eleição de
Queiroz com R$ 102 mil. A SMPB, portanto, apenas repassou o dinheiro,
imediatamente encaminhado por Queiroz, por sua vez, a candidatos a vereador de seis
partidos, em 20 cidades. Quanto aos R$ 50 mil depositados em sua conta, foi um
engano cometido por um assessor. Diz Queiroz:
– Não fiquei com nada.
Levantamento identifica novos saques de R$ 300 mil, atribuídos a Jacinto
Lamas, o tesoureiro informal do PL. O dinheiro foi repassado por meio da conta da
SMPB no Banco Rural. Existem retiradas em nome de Lamas, num total de R$ 1,6
milhão. O irmão dele, Antônio de Pádua Lamas, assessor do PL, também fez um saque,
de R$ 350 mil. Esteve no Banco Rural, em Brasília, em 7 de janeiro de 2004, das 14h22
às 14h36.
A atualização das somas acrescenta mais R$ 1,6 milhão aos saques atribuídos ao
policial mineiro David Rodrigues Alves. Os novos cálculos chegam a R$ 6,5 milhões.
Identificados mais R$ 100 mil sacados pelo assessor do PT, Roberto Pinho. No total,
retirou R$ 450 mil. Célio Siqueira, assessor do deputado Vanderval dos Santos (PL-SP),
outros R$ 150 mil.
O deputado Professor Luizinho (PT-SP) admite, finalmente: José Nilson dos
Santos sacou mesmo R$ 20 mil da conta da SMPB, no Banco Rural. Em nota à
imprensa, reconhece: o assessor se lembrou de um deslocamento para uma agência
bancária, em São Paulo, em dezembro de 2003:
“No final de 2003, procurei o senhor Delúbio Soares para tratar deste assunto.
Ele me orientou que retirasse o valor de R$ 20 mil em uma agência bancária na avenida
Paulista. Só fui me dar conta que era o Banco Rural agora.”
Luizinho, aguerrido defensor do governo Lula, justifica os R$ 20 mil, dez meses
antes da eleição:
– O dinheiro foi usado na preparação de pré-campanhas de vereadores em
municípios paulistas.
Dados atualizados mostram que a empresa Garanhuns recebeu R$ 7,1 milhões.
A origem do dinheiro: cheques emitidos por empresas de Marcos Valério via Banco
Rural, na agência do Brasília Shopping. Aberta mais uma investigação: a CPI dos
Correios suspeita que a Garanhuns é uma empresa de fachada, utilizada para lavar
dinheiro e remeter ilegalmente divisas para o exterior. 99% do capital da empresa estão
nas mãos de uma offshore chamada Esfort Trading, sediada no Uruguai. Outra suspeita:
os R$ 7,1 milhões foram parar nas mãos do tesoureiro Jacinto Lamas, que repassou a
soma a Valdemar Costa Neto (PL-SP).
Entrevista com o economista Paulo de Tarso Venceslau. Ele relata ao repórter
Luiz Maklouf, do jornal O Estado de S. Paulo, um esquema de corrupção, em 1995,
cujo operador era o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. Teixeira
representava uma tal Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios). Por ter
denunciado a trama Venceslau foi expulso do PT, em 1998. Para ele, Teixeira era o
Marcos Valério da época:
– Ele era o grande operador. Ele se apresentava nas Prefeituras em nome do
Lula, para pegar dinheiro para o PT.
Venceslau conversou pessoalmente com Lula, em 1995. Queria alertá-lo para os
métodos ilícitos de Teixeira:
– Lula foi o primeiro a saber do caso. Sabia do comprometimento do seu
compadre, sabia do volume de dinheiro público envolvido, e fez questão não só de
acobertar, mas de punir quem tinha descoberto.
Definição de Venceslau: Lula é um caudilho, “e o partido se ajoelha diante dele.
Esse ajoelhar foi mortal para o PT”:
– O poder do Lula passou a ser quase que absoluto diante da máquina partidária.
O partido se ajoelhou.
Agora, o economista fala do deputado José Dirceu (PT-SP):
– Até então aparentava manter uma velha amizade comigo, mas passou a ser
meu algoz. Naquele momento ele provou ao Lula sua extrema lealdade. Um caudilho
com esse poder, um partido de joelhos e um executor como o Zé Dirceu, só podia levar
a isso que estamos vendo hoje.
– Como pôde ser possível a montagem dessa máquina de dinheiro, o valerioduto,
dentro do PT?
– Silvio, Delúbio, essas pessoas foram postas no entorno de Dirceu. Silvinho,
por exemplo, sempre foi uma pessoa medíocre no PT. Foi alçado a dirigente pelo Zé
Dirceu e virou pau-mandado. Assim como o Delúbio. São pessoas que raciocinam
muito pouco, não precisam pensar muito. Tinham de executar.
– Paus-mandados de quem?
– Do Zé Dirceu, que era o grande comandante, o grande chefe desse pessoal.
Quem mandava e desmandava era Dirceu. A máquina partidária era controlada a mãode-
ferro por ele.
– Delúbio Soares afirma que Dirceu não sabia do esquema.
– Isso é conversa para boi dormir. Zé Dirceu controlava o partido, colocava as
pessoas nos postos que lhe interessavam, mantinha sob rígido controle. É ingenuidade
achar que não sabia a origem dos recursos. Até porque o Delúbio não tem capacidade,
nem origem, formação, preparo nem nada para montar um aparelho desse tipo. Vamos
ser realistas. É um sindicalista do interior de Goiás, professor de carreira do Estado,
neófito em São Paulo, nunca circulou nas rodas do poder e de repente adquire amizade
sólida com um grande operador chamado Marcos Valério. É piada achar que ele fez isso
da cabeça dele.
Sobre Lula:
– O Lula sempre geriu de perto as questões que envolvem sua relação de poder.
Claro que não vai estar mandando fazer, mas saber, ele sabia. Não os detalhes.
Comparando com a época que estourou o negócio do Teixeira: a primeira pessoa que
soube foi Lula. Eu levei para ele, pessoalmente. E o tempo todo fingiu que não sabia.
Evidentemente que Lula não operava, assim como não está operando hoje. Mas como
ele sabia naquela época, ele sabe hoje, sempre soube.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário