sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

SILÊNCIO CÚMPLICE

O fato de a presidente Dilma Rousseff ter se recusado, ao visitar Cuba, a criticar o governo dos irmãos Castro pelo desrespeito aos direitos humanos não causa surpresa. O ex-presidente Lula já tinha feito o mesmo anteriormente, com o agravante de ter comparado os presos políticos cubanos a presos comuns. Dilma e Lula, cada um a seu tempo, preferiram se calar em um silêncio cúmplice, mesmo diante de mortes de dissidentes cubanos em greve de fome.

Não cabem, no caso, as desculpas de que o Brasil não opina sobre assuntos internos de outros países. Lula chegou a permitir que Manuel Zelaya usasse a embaixada brasileira como trincheira para tentar voltar ao governo de Honduras. E Dilma, em Havana, se sentiu à vontade para criticar os Estados Unidos por manter prisioneiros em Guantánamo há dez anos sem julgamento. A ditadura cubana, contudo, parece ser um caso especial, que tem merecido dos governantes brasileiros um tratamento diferenciado, próximo ao de proteção e cumplicidade.

A repercussão negativa do silêncio de Dilma se deve ao fato de ela ter feito juras de amor à defesa dos direitos humanos. É dela a frase dita em entrevista ao Washington Post: "Por ter experimentado a condição de presa política, tenho um compromisso histórico com todos aqueles que foram ou são prisioneiros somente por expressarem suas visões". O "compromisso histórico" pode até estar mantido, mas Dilma acaba de perder uma grande oportunidade de colocar o discurso em prática. Seu passado certamente daria maior significado a um apelo que ela se dispusesse a fazer em favor dos presos políticos cubanos. Isso poderia contribuir para a criação de um ambiente propício a uma distensão política. Sendo otimista, poderia ser um passo adiante que levasse ao fim do embargo econômico e do regime do partido único e da ausência da liberdade de expressão. É por essa razão que se lamenta tanto o fato de Dilma ter preferido olhar para outro lado como se o direito universal à liberdade fosse uma questão menor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário