Não há outra leitura possível: Belo Monte é uma estatal. E que será fortemente subsidiada por você, leitor amigo. Se os R$ 83 megawatt-hora já eram considerados um valor proibitivo por empresas como Odebrecht e Camargo Corrêa, que não são exatamente inexperientes no assunto, imaginem os R$ 78, com deságio de 6,02%, da oferta do consórcio vencedor, o Norte Energia, formado de afogadilho, na última hora.
O governo acabou enganando todo mundo, inclusive o consórcio que estava talhado para vencer, liderado, na parte privada, pela Vale e pela Andrade Gutierrez. Quando a Odebrecht e a Camargo Corrêa anunciaram que estavam saindo do negócio, o governo se viu numa sinuca, e Lula, percebendo que seu remédio era ruim, resolveu dobrar a dose para ver se funcionava: anunciou que a usina seria construída de qualquer maneira, nem que fosse com recursos do Estado. E atuou para isso. E é o que vai acontecer. A um custo rigorosamente desconhecido. O governo fala em R$ 19 bilhões; as empresas, em R$ 30 bilhões. As obras, em regra, custam sempre mais do que o inicialmente previsto. Imaginem, então, quando, na largada, há tal discrepância de previsões.
O Planalto se agitou para tentar formar um consórcio que conferisse ao menos a aparência de competitividade. Mobilizou inicialmente os fundos de pensão das estatais, e se esperava a sua entrada num novo consórcio. Subitamente, houve uma mudança de rumo, e o Norte Energia ganhou corpo sem eles. Paralelamente, Erenice Guerra, atual chefe da Casa Civil, mobilizou Odebrecht e Camargo Corrêa para que voltassem, de algum modo, à disputa, aí ao lado do grupo liderado por Vale e Andrade Gutierrez. Não seriam parte do consórcio propriamente, mas uma espécie de construtoras-âncoras.
Só que “venceu” o tal Norte Energia, que chegou ao leilão já com fraturas internas. A Queiroz Galvão exigiu da Eletrobras a garantia de que teria, como empreiteira, 80% da sobras civis de Belo Monte. Não conseguiu, anunciou a saída, embora tenha depositado a sua parte (R$ 19 milhões) na garantia de R$ 190 milhões que se exigia de cada consórcio. Agora teria pedido sete dias para decidir se volta ou não. A J. Malucelli também desistiu.
Dado o andamento das coisas, talvez se pense lá nas bandas do Planalto: “Tanto melhor!” Os fundos de pensão — Petrus e Funcef — e a Eletronorte voltaram à narrativa e tentam encontrar um jeito, sob inspiração do governo, de aderir ao consórcio vencedor. Então ficamos assim: a Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), subsidiária da Eletrobras, detém, individualmente, a maior fatia do consórcio (quase 50%); o BNDES financiará 80% da obra; fundos de pensão e Eletronorte devem entrar na jogada, e haverá incentivos fiscais para a usina.
O que isso significa? Trata-se de uma estatal! O “Modelo Dilma” para a infra-estrutura prefere dispensar o capital privado; opta por fazer tudo às expensas do estado; considera mais produtivo remunerar as construtoras do que tê-las como investidoras em energia e está disposta a sustentar a sua “energia barata” com subsídios do conjunto da sociedade. Recupera-se, assim, a pior prática no regime militar nessa área.
Ideologia? Incompetência? Coisa pior? Vai saber… Talvez seja uma soma de tudo isso. Uma coisa é certa: decisão dessa envergadura não se toma no apagar das luzes do governo, a não ser que se esteja interessado em fazer propaganda, como certamente veremos, de caráter eleitoreiro — exaltando, naturalmente, as virtudes do Brasil grande, em clima de “ninguém segura estepaiz…”
O “modelo Dilma” da “energia barata” deu nessa maravilha que estamos vendo — e o país pagará o custo dessa opção nos próximos anos. Ainda que com ingredientes um pouco diferentes, conhecemos as conseqüências da opção pelo “pedágio barato” nas rodovias federais: continuam a ser uma coleção de buracos e desbarrancamentos, e seu maior custo se mede em vidas.
Lula disse que faria a usina de qualquer maneira. Está cumprindo a promessa. Será de qualquer maneira
é total falta de respeito licitar uma obra desta a meses de deixar o governo
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