O mundo político tremeu novamente ontem, e caiu para várias lideranças, num terremoto que superou de longe o do “fico”. Até a noite de ontem, persistiam muitas dúvidas sobre os reais motivos para uma mudança tão grande, surpreendente e repentina na aliança palaciana. Porque até a semana passada o governador Paulo Hartung (PMDB) declarava que antes de junho não manifestaria apoio ao vice-governador Ricardo Ferraço (PMDB) ou a quem quer que seja.
Além disso, Hartung mantinha pronunciamentos que mais soavam como indiretas contra a candidatura do senador Renato Casagrande (PSB), que agora, inesperadamente, é ungido a candidato palaciano.
O acordo costurado via Brasília para Ferraço desistir da disputa soou como enquadramento para boa parte da classe política. As expressões de Hartung e Ferraço na entrevista ontem talvez indiquem tal pressão vinda de cima. Mas, por si só, o fato não explica completamente o novo abalo político, embora pareça ter sido preponderante.
Mas é reprovável, claro, a retirada ou a colocação de candidaturas desse modo, restringindo as opções de participação dos eleitores. Talvez por isso, na entrevista, Hartung, Ferraço e Casagrande tenham negado a influência da reunião com o presidente Lula, na noite de terça-feira, para o anúncio oficial de ontem.
Mas é bastante provável que a palavra final tenha saído dessa reunião. A reviravolta teria sido, também, uma importante contrapartida à saída de Ciro Gomes da disputa presidencial.
Todavia, desde o anúncio, circulam com mais força informações de que o novo quadro teria começado a se desenhar desde a passagem misteriosa do ex-ministro José Dirceu ao Estado, no início deste mês, para uma conversa com Hartung. Especulações à parte, o fato é que nos últimos dias, aumentou o diálogo entre Hartung, Casagrande e Ferraço.
Ao mesmo tempo, é fato que Ferraço sofreu reveses seguidos. Na verdade, desde o início, o governador nunca expôs publicamente uma defesa mais forte da candidatura dele. Embora tenha dado todas as condições para o vice se cacifar no jogo.
Ocorre que na reta final do “fico” de Hartung, Ferraço quase foi trocado pelo prefeito João Coser (PT) na chapa. Só não teria sido rifado de vez porque o prefeito Sérgio Vidigal (PDT) colocou o pé na porta e virou o principal avalista do vice no jogo. Fato que teria incomodado Hartung, na avaliação da governistas.
O próprio “fico” representou um desgaste para o vice, porque ele não assumiu a cadeira de governador. Além disso, virou alvo indireto da fúria verbal do senador Magno Malta (PR), que passou a colocar a aliança em xeque.
Esse imbróglio terminou de modo dramático, com o PR se negando a fechar com o bloco palaciano, após perceber os vários sinais de instabilidade na candidatura ferracista, em especial com o silêncio controverso de Hartung.
Quanto a Casagrande, ele teve muito méritos no jogo, sobretudo nesta reta final – embora a posição anterior dele, de governista independente, já esteja sendo questionada. De todo modo, ele se mostrou um jogador habilidoso, peitando até o fim o projeto da unanimidade, ao lado do PSDB do deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas, e suportando a pressão e o isolamento.
No apagar das luzes, ele colocou na mesa do PT nacional que o partido tinha mais a ganhar numa aliança com ele aqui no Estado.
A questão é que o novo terremoto rearranjou de forma surpreendente as forças políticas. Literalmente da noite para dia, Casagrande, que era o candidato governista em situação mais complicada, virou o maior beneficiado. Só que o sismo também derrubou meio mundo. E a principal incógnita agora, talvez, é o novo mundo que vai se eguer dos escombros.
Pelo teor de suas declarações ontem, o deputado Theodorico Ferraço (DEM) sinaliza que vai endurecer o posicionamento quanto ao governo na Assembleia O senador Renato Casagrande veio às pressas de Brasília para o anúncio público de Hartung. Ele retorna hoje para um novo jantar com o presidente Lula. Desta vez, o cardápio é o debate sobre o pré-sal
E agora? Vai ser difícil o vice-governador Ricardo Ferraço explicar para o prefeito Sérgio Vidigal e para o PDT a mudança radical de ontem. Manifestações de integrantes do partido ontem no Twitter deram uma ideia dos ânimos no partido.
Por Brasília. Vidigal foi comunicado da reviravolta política no Estado pelo presidente nacional do PDT, Carlos Luppi, na noite de terça-feira. Embora o partido esteja no palanque nacional da petista Dilma Rousseff, Luppi liberou a sigla para buscar o melhor caminho aqui no Estado.
Aliança nacional. Após a decisão do governador Paulo Hartung, o DEM sinalizou que deve ficar no palanque local do PSDB. É possível que o PPS faça o mesmo.
Explicação. O deputado Giulianno dos Anjos (DEM) explica que demitiu a maioria dos servidores do gabinete não afinados com seu projeto. Candidatíssimo à reeleição, ele buscará o apoio do governador Paulo Hartung e do pai, o conselheiro aposentado Enivaldo dos Anjos.
Radanezi Amorim
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