Revoltados, chocados, indignados, qualquer destes termos serve para demonstrar o sentimento de todos os brasileiros ao tomar conhecimento e até assistir ao vivo pela TV ou internet, a tragédia que se abateu sobre o Rio de janeiro e outras cidades do Estado, principalmente a do Morro do Bumba em Niterói. Mais indignados ficamos, entretanto, com a tentativa de justificar e explicar o inexplicável pelas autoridades. Entre o eu não sabia, tão em moda, a culpa da natureza, a fatalidade, o que realmente mais absurdo é o que a culpa é dos moradores, dos que morreram, ou como diria, parafraseando o Lula, os que se deixaram morrer. Por que as pessoas se submetem a morar em tais áreas? Primeiro é o sonho de se ter um cantinho seu, fugir do aluguel, o segundo, a falta de uma política habitacional que contemple esse segmento da sociedade, uma política séria, com propostas de se resolver o problema com dignidade, com a infra-estrutura necessária de transporte, saneamento básico, presença do Estado na saúde, educação e segurança pública. Programas com fins eleitoreiros, gestados às pressas como o Minha casa, minha vida, não inspira confiança e não atende a demanda. Um programa habitacional, além de atender os pressupostos acima, deve levar em consideração também o respeito ao meio ambiente e ao local de trabalho dos futuros moradores, senão o que se gasta com transporte, fica acima do que permite os rendimentos do dito beneficiado morador.
Quando se pergunta e às vezes, confesso, indagamos o por que as pessoas não abandonaram suas casas destas áreas sabidamente de alto risco, esquecemos que àquele imóvel não representa só uma construção de alvenaria , de madeira, ou seja lá do que seja feito, representa sim, um lar, geralmente construído com muito sacrifício de toda família e geralmente do trabalho de toda uma vida. Existe também o medo de ao voltar, encontrar sua casa invadida ou saqueada, tornando ainda mais freqüente o risco de se permanecer, submetidos ao risco e a ocorrência de tragédias como a que estamos assistindo.
Outra vertente desta responsabilidade é o do Poder Público que permite e até estimula, muitas vezes com fins políticos eleitoreiros o assentamento destas áreas , se não o fosse, como explicar que ruas sejam asfaltadas , creches e postos de saúde sejam construídas em tais terrenos senão o incentivo a que ali permaneçam? Quando o Prefeito diz que não sabia dos riscos, esquece-se que não é dado a Ele tal direito, principalmente no caso de Niterói onde o mandatário está em seu terceiro mandato. Administrar é também saber tomar atitudes impopulares em benefício do bem comum e não cair na tentação de não desagradar para não perder votos , cabos eleitorais ou Presidente de Associações ditas dos moradores, estrategicamente encasteladas nesses bairros.
Outro grande problema em relação aos alagamentos é o lixo que entope valas e bueiros tornando ainda mais grave a situação e neste caso a culpa maior é a falta de educação dos moradores e também a omissão do Poder Público, como no caso de São Gonçalo, onde o lixo não era retirado das ruas por muito tempo, contribuindo em muito para o que ocorreu naquela cidade, demonstrando mais uma vez a omissão e o pouco caso das autoridades. A sociedade exige que se apurem as responsabilidades e que os culpados sejam punidos, o que lamentavelmente temos dúvidas que ocorra, já que o sentimento de impunidade prevalece e o desrespeito às leis é incentivado até por quem tem o dever constitucional de defender.
Que as centenas de vidas preciosas perdidas não seja em vão, é preciso que se tire desta tragédia a lição de que o imediatismo deve ser substituído por soluções humanizadas e de longo prazo, que novos administradores respeitem e continuem projetos anteriores, que não os abandone com perda de milhares de reais, simplesmente por vaidade política, querendo desmerecer o antecessor, elaborando novos projetos que também podem ser abandonados no futuro, criando uma bola de neve da insensatez.
Este é um ano decisivo para nosso povo, que das urnas de outubro saia a esperança de um País mais justo e democrático, chega de demagogia, populismo e assistencialismo irresponsável como esse de prover, ajudar e incentivar as ocupações irracionais e depois vir à televisão chorar pelos mortos, como se isso fosse o suficiente para aplacar a nossa revolta e indignação, não o é, podem ter certeza.
Quando se fala em mudança através das urnas, fico pensando se a população mais carente, que infelizmente é maioria em nosso País, realmente quer esta mudança. Criou-se no Brasil uma figura de que os partidos políticos que adotam uma política "assistencilista" seriam os salvadores da pátria e estamos vendo que na prática é bem diferente! Será que o povo (baixa renda) que necessita da "assistência" do governo quer esta mudança? Sempre fui a favor de "ensinar a pescar ao invés de dar o peixe". Mas na falta de alguém que ensina a pescar, o peixe ganhado está de bom tamanho. Até que ponto o povo está disposto a mudar em detrimento do seu peixe de cada dia? São questionamentos que nos fazem pensar, que a população que mais sofre com o descaso do poder público é exatamente a que mais precisa da política de assistencialismo do governo, e não arriscaria a perder esta "assistência", ainda que tenha que ser condenado a viver e padecer das mazelas de uma gestão fracassada de governo. Temos que conscientizar que a política de "assistência social" adotada pelo governo não tem que ser uma esmola e sim obrigação dos governantes. Desejo profundamente que as coisas mudem a partir de Janeiro do próximo ano, mudança essa que iniciará em outubro. Farei o possível para que isso ocorra.
ResponderExcluirDr.
ResponderExcluirVivemos em um estado messianico.Precisamos sempre de um salvador. Desde a vassoura do Jânio ao "minha casa, minha vida" é o discurso de uma nota só.
Salve-se quem souber.
Pra ser muito sincero não sei em quem votar nem que grupo apoiar, pois não acredito nos ideais de nenhum e não confio em nenhum.
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ResponderExcluirMeu prezado Dr Marcos Sobreira, saudações.
ResponderExcluirSeu post segue exatamente a mesma linha de raciocínio que tenho e que já expus em comentários feitos não apenas aqui nos blogs, como nos meio político que frequento.
Eu visito constantemente várias comunidades carentes aqui no RJ e observei exatamente o que o amigo descreveu com grande conhecimento de causa.
As ocupações dos morros, encostas e margens de rios são uma realidade.
Várias cidades do Brasil e particularmente do Estado do RJ estão literalmente cercadas por comunidades carentes que se desenvolveram sem a mínima infra estrutura em seu derredor, patrocinadas em sua maioria, por grupos políticos ligados a movimentos de esquerda que fizeram dessas comunidades, verdadeiros currais eleitorais. No início dos anos 80, vários grupos de pessoas lideradas por pessoas ligadas à política da região, "ocuparam" tais áreas os quais, como estratégia de ocupação formaram Associações de Moradores e assim obtiveram de políticos e autoridades coniventes, o apoio para se instalarem e construirem moradias, em troca de seus votos e garantia de permanencia no poder dessas comunidades.
Atualmente quem chega ao RJ já não se depara apenas com as belezas naturais, como o Pão de Açucar, as praias e a imagem do Cristo Redentor, pois gradativamente nos ultimos anos, a paisagem do Rio de janeiro foi sendo modificada pela ocupação irregular dos morros e áreas de risco.
Basta só olhar por trás dos edifícios da zona sul, suburbio e periferia e será fácil constatar que o RJ transformou - se em um favelão.
Foi preciso acontecer essa lamentavel tragédia que enlutou milhares de famílias e envergonhou o nosso país, para que os governos municipal, estadual e federal começassem a discutir um programa habitacional decente e determinassem a imediata remoção de famílias de várias comunidades edificadas sobre lichoes e áreas de sabidamente de risco.
Daqui nós precisamos manter acesa essa discussão e cobrar dos atuais e dos futuros governantes, a adoção de medidas enérgicas, ainda que impopulares, porém necessarias, a fim de que tragédias como essa não se repitam no Brasil.
É preciso cobrar das autoridades constituidas deste país, um programa habitacional sério para abrigar não só as famílias envolvidas nessa tragédia, bem como outras famílias que vivem em péssimas condições, a fim de que possam finalmente desfrutarem de um lar dígno e seguro para criarem os seus filhos.
A tragédia do Rio de Janeiro foi uma forma da mãe natureza ensinar os homens a viverem dentro de regras e de uma conduta ética !!!
@DRLUIZSANTANNA