domingo, 18 de julho de 2010

PIADA DA PRIVATARIA. SEGURO PARA A TROPA.

Dezoito militares brasileiros morreram no terremoto do Haiti. Foram homenageados e promovidos, suas famílias receberam as pensões a que tinham direito, mais um auxílio especial de R$ 500 mil para cada um. Há poucas semanas começou uma encrenca. De um lado, três viúvas; de outro, a Fundação Habitacional do Exército, a quem está vinculada a Associação de Poupança e Empréstimo, Poupex, bem como a seguradora do Bradesco.


As senhoras argumentavam que tinham direito a receber o seguro por “acidente em serviço”. Atire a primeira pedra quem for capaz de dizer que eles estavam no Haiti senão a serviço. Pelo contrato, a apólice não cobria sinistros provocados por eventos como terremotos. Ainda assim, o Bradesco concordou em pagar o seguro como se os militares tivessem sofrido morte natural, equivalente à metade do valor pela “morte em serviço”.

A encrenca resultou na demissão do general que dirigia a Poupex. Trata-se de uma questão que só a Justiça pode resolver.

Fica uma pergunta: o que é que o Exército tem a ver com os seguros de vida privados de seus oficiais? Os direitos e benefícios da tropa estão amplamente garantidos pelo Tesouro. Em outras ocasiões, a instituição associou o seu nome a seguradoras privadas e meteu-se em fracassos empresariais. Hoje, atrai tensões que não lhe pertencem. Já a seguradora que vende apólices de grupo a clientes que, por profissão, podem se envolver em conflitos armados acaba numa situação absurda. Só um louco venderia seguros para militares que partem para uma guerra. Vendendo-as com cláusulas excludentes, obriga-se a dizer às viúvas que o seguro do combatente não cobre baixas em combate.

Os comandantes dos militares não deveriam associar suas instituições a seguradoras privadas, e a banca não deveria vender seguros em quarteis achando que assume um risco semelhante ao dos bibliotecários.

Durante a guerra do Irã-Iraque, a empreiteira Mendes Junior garantiu no Banco do Brasil negócios que tinha com Saddam Hussein. Parecia piada da ditadura estatizante. Agora, empresas privadas vendem seguros de grupo a forças militares. Piada da privataria.

Élio Gaspari.

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