segunda-feira, 5 de julho de 2010

Farinas responsabiliza irmãos Castro por sua futura morte.

HAVANA- O dissidente cubano Guillermo Farinas, debilitado após 131 dias de greve de fome para exigir a liberação de presos políticos, disse nesta segunda-feira, 5, estar consciente de que sua vida está acabando e responsabilizou os irmãos Fidel e Raúl Castro pela sua morte.


Opositores publicaram nesta segunda uma declaração ditada por Farinas por telefone da cama de um hospital público, aonde - segundo o publicado pela jornal oficial Granma - os recursos para mantê-lo com vida se esgotam a cada dia.

"Estou consciente de meu falecimento próximo e o considero uma honra, pois salvo a vida de 25 presos políticos e de consciência de que a pátria precisa como líderes", disse o dissidente em sua resposta ao Granma.

"Os únicos responsáveis pela minha futura morte são os irmãos Fidel e Raúl Castro", acrescentou o texto, divulgado em sua íntegra no twitter da blogueira Yoani Sanchez.

Um médico do hospital onde Farinas está internado em Santa Clara, 270 km ao leste de Havana, disse ao Granma que o dissidente "corre risco potencial de morte" devido a um coágulo na jugular que pode se deslocar ao coração e aos pulmões.

Além disso, uma infecção está complicando a injeção de líquidos e alimentos por via intravenosa, que Farinas recebe desde que foi internado, em março.

O psicólogo e jornalista independente de 48 anos começou seu jejum em 24 de fevereiro, um dia após a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo depois de 85 dias de greve de fome em um protesto por melhores condições nas prisões cubanas. A morte de Zapata desencadeou críticas internacionais sobre Havana.

O agravamento da saúde de Farinas poderia complicar o diálogo iniciado em maio entre o presidente Raúl Castro e a Igreja Católica, que até agora já alcançou a liberação de um dissidente em cadeira de rodas. Segundo a Igreja, novas libertações serão feitas.

A mensagem de Farinas foi divulgada horas antes da visita do chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, a Cuba. O diplomata disse esperar "resultados positivos" a respeito de direitos humanos.

Segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos, cerca de 40 presos políticos começaram a ser entrevistados e também fotografados pelas autoridades nos cárceres, um sinal de sua possível libertação.

Em Viena, O vice-ministro da Cultura de Cuba, Fernando Rojas, criticou "duplo padrão" nas pressões internacionais pelo caso de Farinas, da mesma forma que elogiou a "vontade do Governo espanhol de ter uma relação construtiva" com Havana.

Em declarações à Efe, Rojas qualificou de "desejável" a visita iniciada hoje por Moratinos, "como é desejável qualquer visita de um funcionário de um país europeu".

Antes de partir para Cuba, o chefe da diplomacia espanhola afirmou em Madri que "o melhor para todos" é que Fariñas "abandone a greve de fome", ao ter alcançado seu objetivo "de representar a situação em Cuba para toda a comunidade internacional".

Rojas, por sua parte, destacou que a greve de fome é uma decisão pessoal que Farinas tomou por "livre e espontânea vontade".

Com a ação, o opositor chamou a atenção da comunidade internacional "sobre assuntos que são de nossa competência soberana. E isso não diz respeito a nenhum outro país, somente a nós. Aí você vê claramente o tratamento discriminatório", acrescentou. Ao mesmo tempo, destacou que Cuba "faz o possível pela vida desse homem. Ele tem o melhor atendimento do mundo".

Rojas fez estas declarações após inaugurar e Viena o primeiro museu de arte cubano no exterior e assinar dois acordos de cooperação cultural com instituições austríacas.

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