SABE A TEREZA ?

Dr. Antonio, Promotor de Justiça, casado com D.Marta, pai de 5 filhos, católico fervoroso, filho de família tradicional e cristã, lá pelos anos 60 morava em pequeno município no interior de Minas Gerais. Fama de durão, incorruptível, vivendo com alguma dificuldade, já que naquela época a profissão não tinha o glamour de hoje, dividia seu tempo entre o trabalho no Fórum, as aulas de inglês que ministrava no curso ginasial. Ir às sessões de cinema aos domingos no único cinema da cidade, era obrigação.

 Dona Marta,pernambucana, mulher de rara beleza, ciumenta ao extremo, dedicava-se a criação dos filhos e ouvir pelo rádio as emoções das novelas, tão em moda naquela época. Seus dois filhos mais velhos já estudando, eram motivos de preocupação com as tarefas escolares que teimavam em não fazer corretamente.

Aos domingos, cumprido a obrigação religiosa de ir a missa com toda família, confissão e comunhão para todos, D.Marta se esmerava em preparar o almoço, pois o marido fazia questão da companhia do padre, sempre frango ensopado, macarrão e um bom vinho de mesa. A tardinha, passeio com a turma toda no Rover, automóvel inglês de lataria de alumínio, fazia a alegria da garotada.

A vida corria tranqüila, família crescendo, paz e sossego típico das cidadezinhas do interior brasileiro, tudo ia muito bem a não ser por um detalhe, a Tereza. Morena, bonita, cabelos pretos e longos, ancas largas, vizinha do sobrado ao lado, assanhada demais, segundo D. Marta que se mordia de ciúmes, pois jurava ter visto o marido dando umas olhadas para a bela vizinha, fato negado enfaticamente pelo promotor. Parecendo saber dos ciúmes da vizinha, Tereza teimava em ficar por horas a fio debruçadas no varandão do sobrado, pernas à mostra, numa clara insinuação, o que causava brigas intermináveis entre o casal , que só terminaram quando para alivio de D. Marta a família da Tereza mudou-se para outra cidade.

Passados dois ou três anos, um belo dia o Dr. Antonio passou mal e cismou que ia morrer, como a cidade não tinha médicos o farmacêutico foi chamado, juntamente com o padre, pois o promotor católico que era, fazia questão que lhe ministrasse a extrema unção. Os filhos, avisados vieram do colégio, já com lágrimas escorrendo pelas faces, antevendo a perda do pai. A esposa , dedicada, preocupada, insistia em dizer-lhe que o farmacêutico a tinha tranqüilizado, dizendo tratar-se apenas de um mal estar passageiro, na pior das hipóteses uma crise de nervos. Dr. Antonio insistia que ia morrer, chamou o filho mais velho e recomendou-lhe que tomasse conta da mãe e dos irmãos, para desespero do garoto, e então veio a decisão final, pediu que todos saíssem do quarto, chamou D.Marta e travou o seguinte diálogo:

-Marta, sei que vou morrer,

-Vai não Antonio, daqui a pouco vai estar bom, isso não é nada,

-Vou sim, olhe, não posso morrer com este peso na consciência e sem o seu perdão,

-Deixe de bobagem homem, morrer o que,

-Vou sim, tenho certeza  e não posso levar comigo esse segredo,

-Tá bom, já que faz questão, se te acalma, fale,

Dr. Antonio, suspirou fundo, silenciou por uns instantes como a criar coragem, e falou,

-Marta, sabe a Tereza? Comi a Tereza,

E o pior, NÃO MORREU !!!!!!

Recentemente fizeram Bodas de Diamantes, os filhos garantem que ele pagou a vida inteira pela confissão.

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