terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A MEGASENA DA VIRADA E A LOTERIA DAS TRAGÉDIAS DE VERÃO



Atílio Vivácqua é um pequeno município localizado no sul do Espírito Santo, é banhado  pelo rio Muqui que tem sua cabeceira nos municípios de Muqui e Mimoso do Sul. Lá pelo inicio dos anos 70 não tínhamos telefone e apenas um posto sob os cuidados de Dona Arminda nos ligava ao mundo.

Em época de chuvas e temporais, éramos alertados pela zelosa senhora sobre o nível do rio nas cidades acima, pois ao menor sinal de enchentes, ela ligava para saber o que estava acontecendo em Muqui e não raras vezes fomos alertados de que uma tromba d’agua tinha caído na cidade vizinha, pronto, todos se apressavam em avisar aos ribeirinhos para elevar os móveis e procurarem abrigo que a água não tardava a chegar.
Com esse rudimentar sistema de alerta, vidas foram poupadas e prejuízos materiais evitados.

Nos dias atuais virou rotina todo inicio de ano, ficarmos assustados com as tragédias de inicio do ano, ficando apenas a dúvida sobre qual estado e quais cidades serão atingidas, então a cena se repete, inundações, mortes, prejuízos materiais , gente saindo às pressas de suas casas, desespero. Políticos se apressam em prestar solidariedade, Prefeitos decretam estado de calamidade pública na esperança de receberem sem muita burocracia recursos para recuperação dos estragos, isso sem falar  nos desvios da verba para os bolsos dos corruptos .

Este ano, Minas Gerais está sendo o estado mais atingido, mas a região serrana, o norte do Rio de Janeiro e o Espírito Santo também estão sendo castigados e foi olhando as imagens dos municípios do norte-fluminense que me lembrei de como seria fácil evitar grandes transtornos se a defesa civil se concentrasse no que acontece nas cabeceiras dos rios e com os recursos tecnológicos de hoje certamente muitas vidas seriam salvas e os moradores retirados a tempo das áreas ribeirinhas.

Hoje uma outra noticia me chamou a atenção, depois da tragédia de 2011, onde mais de 900 pessoas morreram na região serrana do Rio de Janeiro, promessas e mais promessas foram feitas, como se isso amenizasse a dor de quem perdeu um ente querido, mas pelo menos  criou-se a expectativa de que os que sobreviveram teriam uma ajuda que lhes dessem ao menos um pouco de dignidade. E o que vimos? Do dinheiro prometido, colocado no orçamento, pasmem, nem um centavo foi empenhado ou liberado para o reassentamento dos que tudo perderam e para prevenção de novas tragédias.

O Governador Sérgio Cabral tratou o povo serrano com total desrespeito e sua entrevista grotesca tentando justificar o injustificável foi de uma hopocrisia tal que não me lembro de ter assistido outra igual. É preciso cobrar de quem foi eleito e reeleito mais respeito pelo povo que nele confiou.

Para piorar a situação, os recursos liberados pelo Governo Federal e as doações de todo o Brasil que se comoveu pelo sofrimento daqueles irmãos, foram desviados pelos Prefeitos que foram afastados mas pelo que me lembre, nenhum real foi devolvido aos cofres públicos.

Assim caminha o Brasil, pagamos a mais alta taxa de impostos do mundo, não temos saúde, educação, segurança, estradas e ainda ficamos no final do ano torcendo pela megasena da virada , para não sermos sorteados na loteria das tragédias de verão e não temos mais muitas Donas Armindas por aí.  

Marco Sobreira

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