quarta-feira, 16 de março de 2011

CONSULTANDO O MÉDICO ( BY Marco Sobreira )

Nesses meus 35 anos de atuação como médico e atuando na saúde pública, jamais faltei um dia sequer por motivos de saúde. Deus tem sido generoso comigo embora que muitas vezes fui obrigado a trabalhar por falta de um colega que me substituísse.


Num desses dias, acordei tremendamente gripado, dor no corpo, dor de cabeça, febre e uma coriza insuportável, não me lembro mais o que tomei, mas fui ao posto de saúde para atender os meus pacientes. Entre eles o Antonio Arruda, sujeito bravo, mau encarado, amante de umas pingas, berganhista de cavalos, relógios ou tudo o mais que lhe proporcionasse um lucrinho como gostava de dizer. Muito sério com seus negócios, vivia disso e ficou muito meu amigo e agradecido, pois portador de uma bronquite crônica, dependia de vez em quando do meu atendimento.

Tão meu amigo que uma madrugada seu irmão bateu à minha casa lá pelas duas da manhã,

-Dr, me desculpe mas o Antonio teve um desentendimento com o sargento, se refugiou na matinha lá perto de casa e disse que só sai em companhia do senhor.

Lá fui eu mato à dentro em companhia do irmão do nosso amigo. Ao me ver aceitou retornar para casa não sem antes me entregar um revólver 38 que carregava. Família agradecida, um bom cafezinho, uns conselhos e o Antonio concordou em ir comigo outro dia na delegacia conversar com o policial.

Voltemos ao posto de saúde, a coriza me incomodando, espirrando de vez em quando, mas atendendo, quando entrou o Antonio Arruda. Cumprimentos, noticias da família, tinha ido consultar porque na noite anterior tinha se excedido na bebida e estava com a pressão alta.

Conselhos, medicação prescrita, se preparava para sair quando olhou muito sério para mim e falou,

-Sei que o senhor é médico, mas vou tomar a liberdade de lhe receitar um remédio para essa gripe, o Sr. Permite?

-Claro Antonio, falei curioso para saber a receita.

Com um ar superior de satisfação falou,

-Olhe, pegue meio copo de conhaque de alcatrão de São João da Barra, esprema um limão, coloque uma colher de sopa de mel de abelha, misture bem e tome tudo de um só gole que é tiro e queda.

Já levantando-se para sair do consultório, voltou-se para mim com um sorriso e disparou,

-Pode até não ficar bom da gripe, mas vai ficar alegrinho, alegrinho!!!

BONS TEMPOS AQUELES...

4 comentários:

  1. Muito bom texto, caro dr.
    e muito bem escrito.
    Adorei!

    MariaAmora

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  2. Que espirituoso! As pessoas simples têm essa riqueza. Inesquecível! @valnobre

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  3. Ehhh delícia.... Adorei a receitinha.... Principalmente pq se ficar alegrinho já é meio caminho andado pra cura dos males do corpo.... Adorei.... E como disse a @Valnobre, "as pessoas simples tem essa riqueza"... Abraços

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  4. Para reforçar o efeito é bom tomar duas doses...rsrsrs

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