Excesso de juros tende a tolher o crescimento econômico, mas não garante que a inflação seja anulada. Essa discussão ganha fôlego em função dos elevados índices inflacionários e do novo aperto da política com a fixação da Selic em 11,75%."O Banco Central está incorrendo no perigoso erro pelo excesso", adverte nota oficial da Fiesp.
A entidade empresarial pode ter razão, mas nada indica que o ciclo de alta da taxa básica tenha cessado. Desde já o setor financeiro aposta que a Selic vai subir novamente em abril. As medidas macroprudenciais estão produzindo efeito na economia, porém não tanto quanto o esperado. A demanda por crédito caiu neste início de 2011 - derrubada pelos juros elevadíssimos e por restrições a financiamentos de longo prazo (60 meses para automóveis), medida tomada para reduzir a liquidez e o risco de bolha por inadimplência. Mas, ainda assim, a febre inflacionária continua. O IPCA-15 subiu 0,97% (de 15 de janeiro a 15 de fevereiro) e a projeção anual é de 5,8%. Esse patamar alimenta expectativas inflacionárias - fator que, por si, pressiona os preços. Ademais, a indexação é ainda muito forte. Os governos FHC e Lula se descuidaram dessa parte.
A projeção do mercado financeiro (média captada pelo Boletim Focus) para o IPCA ao longo de 2011 é de 5,8%, mas o sentimento geral indica que se essa expectativa não for reduzida já a partir deste mês, surgirá o risco concreto do IPCA ultrapassar 6,5%, limite máximo do intervalo de tolerância do regime de metas, cujo centro é de 4,5%. Ora, só o fato de essa possibilidade existir já coloca em xeque a credibilidade da política monetária, nas circunstâncias atuais, como remédio anti-inflacionário. Por enquanto, o aperto de liquidez tem provocado recuo maior no PIB do que na inflação. Já tem analista achando prudente não esperar em 2011 expansão acima de 4%, se tanto.
Quais são os fatores relevantes na construção do cenário atual de inflação? A demanda doméstica, por certo, não é a única vilã. Vale lembrar que, nos últimos 40 dias, os preços de algumas commodities subiram mais de 6%. Em seis meses acumulam alta média de 30% - por injunções do mercado internacional. A inflação de alimentos tem molas de impulsão que os juros não conseguem comprimir. E se o barril de petróleo chegar a US$ 120, o governo vai segurar a onda evitando o repasse? O clima de conflito no Oriente Médio e na África transmite inquietação econômica que fomenta inflação. É lógico que a questão geopolítica produz um quadro completamente fora do controle de qualquer país, mas requer discussão sobre políticas econômicas.
Em relação à desejável sintonia de movimentos entre as políticas monetária e fiscal, é bom que se diga que o anunciado corte de R$ 50 bilhões de despesas no orçamento federal deste ano pode não ser suficiente para o objetivo proposto (esfriar a demanda agregada). As despesas do Executivo subiram 9,4% em 2010, em termos reais e, mesmo com o contingenciamento, devem crescer 3,2% neste ano. É um bom corte, mas apenas R$ 9,7 bilhões referem-se a custeio. Deveria ser mais.
Enfim, o combate à inflação merece ser discutido com transparência entre governo e diferentes segmentos da sociedade. Política monetária não é tudo. Só para lembrar: impostos deveriam ser reduzidos para ajudar a diminuir preços.
Fonte: A Gazeta - http://glo.bo/gxli8g
A entidade empresarial pode ter razão, mas nada indica que o ciclo de alta da taxa básica tenha cessado. Desde já o setor financeiro aposta que a Selic vai subir novamente em abril. As medidas macroprudenciais estão produzindo efeito na economia, porém não tanto quanto o esperado. A demanda por crédito caiu neste início de 2011 - derrubada pelos juros elevadíssimos e por restrições a financiamentos de longo prazo (60 meses para automóveis), medida tomada para reduzir a liquidez e o risco de bolha por inadimplência. Mas, ainda assim, a febre inflacionária continua. O IPCA-15 subiu 0,97% (de 15 de janeiro a 15 de fevereiro) e a projeção anual é de 5,8%. Esse patamar alimenta expectativas inflacionárias - fator que, por si, pressiona os preços. Ademais, a indexação é ainda muito forte. Os governos FHC e Lula se descuidaram dessa parte.
A projeção do mercado financeiro (média captada pelo Boletim Focus) para o IPCA ao longo de 2011 é de 5,8%, mas o sentimento geral indica que se essa expectativa não for reduzida já a partir deste mês, surgirá o risco concreto do IPCA ultrapassar 6,5%, limite máximo do intervalo de tolerância do regime de metas, cujo centro é de 4,5%. Ora, só o fato de essa possibilidade existir já coloca em xeque a credibilidade da política monetária, nas circunstâncias atuais, como remédio anti-inflacionário. Por enquanto, o aperto de liquidez tem provocado recuo maior no PIB do que na inflação. Já tem analista achando prudente não esperar em 2011 expansão acima de 4%, se tanto.
Quais são os fatores relevantes na construção do cenário atual de inflação? A demanda doméstica, por certo, não é a única vilã. Vale lembrar que, nos últimos 40 dias, os preços de algumas commodities subiram mais de 6%. Em seis meses acumulam alta média de 30% - por injunções do mercado internacional. A inflação de alimentos tem molas de impulsão que os juros não conseguem comprimir. E se o barril de petróleo chegar a US$ 120, o governo vai segurar a onda evitando o repasse? O clima de conflito no Oriente Médio e na África transmite inquietação econômica que fomenta inflação. É lógico que a questão geopolítica produz um quadro completamente fora do controle de qualquer país, mas requer discussão sobre políticas econômicas.
Em relação à desejável sintonia de movimentos entre as políticas monetária e fiscal, é bom que se diga que o anunciado corte de R$ 50 bilhões de despesas no orçamento federal deste ano pode não ser suficiente para o objetivo proposto (esfriar a demanda agregada). As despesas do Executivo subiram 9,4% em 2010, em termos reais e, mesmo com o contingenciamento, devem crescer 3,2% neste ano. É um bom corte, mas apenas R$ 9,7 bilhões referem-se a custeio. Deveria ser mais.
Enfim, o combate à inflação merece ser discutido com transparência entre governo e diferentes segmentos da sociedade. Política monetária não é tudo. Só para lembrar: impostos deveriam ser reduzidos para ajudar a diminuir preços.
Fonte: A Gazeta - http://glo.bo/gxli8g
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