A inflação continua sendo a maior ameaça ao consumidor brasileiro e o principal desafio imediato para o governo. Há sinais de arrefecimento da atividade econômica, mas não do consumo. Em fevereiro os índices de preços aumentaram pouco menos que em janeiro, mas não há razão para otimismo. O custo da alimentação continua em alta no atacado, a inflação dos serviços ganhou impulso e o mercado internacional de alimentos, petróleo e outras commodities permanece aquecido, espalhando pressões inflacionárias por todo o mundo. "Estamos extremamente preocupados com a alta de preços dos alimentos, em especial por causa de seu impacto nos mais pobres e mais vulneráveis", disse em Washington a diretora do Departamento de Relações Externas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Caroline Atkinson. Ela se referia principalmente às populações dos países menos desenvolvidos e mais dependentes da importação de comida, mas ninguém - mesmo nos grandes países produtores, como o Brasil - é imune aos desajustes no mercado global.
Em fevereiro, o índice de preços de alimentos da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, ficou 2,2% acima do nível de janeiro e atingiu o ponto mais alto desde sua criação, em 1990. O aumento dos índices é explicável pelas condições mais apertadas de oferta (já conhecidas no ano passado), pela especulação financeira, favorecida pelos juros muito baixos no mundo rico, e pela corrida de alguns governos para formação de estoques. A crise política no Oriente Médio empurrou para cima os preços já elevados do petróleo, criando um duplo risco inflacionário. Além da pressão imediata sobre os preços dos combustíveis, o encarecimento do petróleo serve de base para a projeção de custos mais altos de produção agrícola neste ano.
Diante desse quadro, a pequena melhora dos indicadores nacionais de inflação parece bem pouco significativa.
No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), produzido pelo IBGE e usado como referência para a política oficial, subiu 0,80%, pouco menos que em janeiro (0,83%). A maior parte do aumento resultou das despesas com educação, um problema sazonal. O custo de alimentos e bebidas subiu menos que no mês anterior. Houve uma evolução favorável, mas sobra pouco espaço para otimismo quando se examinam os preços ao produtor pesquisados pela Fundação Getúlio Vargas.
Mais alguns números podem dar uma ideia mais clara da situação. O Índice de Preços ao Produtor Amplo aumentou 1,23% em fevereiro. No mês anterior havia subido 0,96%. A maior pressão veio do grupo "alimentos in natura", com variação de 6,28%, depois de uma taxa negativa de 1,33% em janeiro. As matérias-primas brutas encareceram 2,21%, pouco menos que no mês anterior (2,46%), mas em ritmo ainda acelerado. Somando-se a esse quadro os dados internacionais e a avaliação da FAO, ninguém poderá apontar um bom motivo de tranquilidade.
Mas falta adicionar as condições particulares da economia brasileira. Os números do trimestre final de 2010 mostram uma clara tendência para o desequilíbrio entre oferta e demanda. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5% ao longo do ano, mas sua expansão perdeu impulso nos meses finais. Entre outubro e dezembro o PIB foi apenas 0,7% maior que no trimestre anterior. Isso equivale a um crescimento anualizado de apenas 2,82%. Mas no mesmo período o consumo privado foi 2,5% maior que no terceiro trimestre, ritmo equivalente a 10,38% ao ano.
Os dados parciais da indústria e do comércio no primeiro bimestre de 2011 mostram um mercado consumidor ainda aquecido, com o poder de compra das famílias fortalecido pelo alto nível de emprego, pelos ganhos salariais e pelo crédito ainda farto. No mês passado, a produção e as vendas de veículos foram recordes para os meses de fevereiro. Mesmo com a desaceleração econômica já perceptível em alguns setores, dificilmente o Banco Central poderá evitar novas altas de juros para frear os aumentos de preços. Nesse quadro, o Executivo tem justificativa muito mais que suficiente para conter seus gastos e contribuir para um pouso suave da economia.
Fonte: O Estadão - http://bit.ly/eVnf09
Em fevereiro, o índice de preços de alimentos da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, ficou 2,2% acima do nível de janeiro e atingiu o ponto mais alto desde sua criação, em 1990. O aumento dos índices é explicável pelas condições mais apertadas de oferta (já conhecidas no ano passado), pela especulação financeira, favorecida pelos juros muito baixos no mundo rico, e pela corrida de alguns governos para formação de estoques. A crise política no Oriente Médio empurrou para cima os preços já elevados do petróleo, criando um duplo risco inflacionário. Além da pressão imediata sobre os preços dos combustíveis, o encarecimento do petróleo serve de base para a projeção de custos mais altos de produção agrícola neste ano.
Diante desse quadro, a pequena melhora dos indicadores nacionais de inflação parece bem pouco significativa.
No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), produzido pelo IBGE e usado como referência para a política oficial, subiu 0,80%, pouco menos que em janeiro (0,83%). A maior parte do aumento resultou das despesas com educação, um problema sazonal. O custo de alimentos e bebidas subiu menos que no mês anterior. Houve uma evolução favorável, mas sobra pouco espaço para otimismo quando se examinam os preços ao produtor pesquisados pela Fundação Getúlio Vargas.
Mais alguns números podem dar uma ideia mais clara da situação. O Índice de Preços ao Produtor Amplo aumentou 1,23% em fevereiro. No mês anterior havia subido 0,96%. A maior pressão veio do grupo "alimentos in natura", com variação de 6,28%, depois de uma taxa negativa de 1,33% em janeiro. As matérias-primas brutas encareceram 2,21%, pouco menos que no mês anterior (2,46%), mas em ritmo ainda acelerado. Somando-se a esse quadro os dados internacionais e a avaliação da FAO, ninguém poderá apontar um bom motivo de tranquilidade.
Mas falta adicionar as condições particulares da economia brasileira. Os números do trimestre final de 2010 mostram uma clara tendência para o desequilíbrio entre oferta e demanda. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5% ao longo do ano, mas sua expansão perdeu impulso nos meses finais. Entre outubro e dezembro o PIB foi apenas 0,7% maior que no trimestre anterior. Isso equivale a um crescimento anualizado de apenas 2,82%. Mas no mesmo período o consumo privado foi 2,5% maior que no terceiro trimestre, ritmo equivalente a 10,38% ao ano.
Os dados parciais da indústria e do comércio no primeiro bimestre de 2011 mostram um mercado consumidor ainda aquecido, com o poder de compra das famílias fortalecido pelo alto nível de emprego, pelos ganhos salariais e pelo crédito ainda farto. No mês passado, a produção e as vendas de veículos foram recordes para os meses de fevereiro. Mesmo com a desaceleração econômica já perceptível em alguns setores, dificilmente o Banco Central poderá evitar novas altas de juros para frear os aumentos de preços. Nesse quadro, o Executivo tem justificativa muito mais que suficiente para conter seus gastos e contribuir para um pouso suave da economia.
Fonte: O Estadão - http://bit.ly/eVnf09
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