O impeachment de Collor, o mensalão de Lula e a atual rebeldia na base da presidente Dilma não são fenômenos isolados. Essas crises têm ocorrido com alguma frequência no chamado presidencialismo de coalizão, expressão criada pelo cientista político Sérgio Abranches para designar o sistema de governo do país, tema abordado em reportagem do jornalista Rondinelli Tomazelli, publicada na sexta-feira. Nesse sistema, um governo nem sempre sai das urnas com maioria no Congresso, não há relação direta, para o eleitor, entre as eleições para presidente e para deputado e, depois de eleito, o presidente tem que construir maioria - normalmente, na base da distribuição de cargos e verbas.
Tudo isso num cenário com regras frouxas de fidelidade partidária e com mais de 20 partidos atuando no Congresso, a vasta maioria sem identidade ideológica.
Collor não caiu somente por corrupção ou por pressão dos caras-pintadas: caiu, em síntese, porque não tinha base parlamentar, vinha de um partido pequeno e artificial, o PRN, criado apenas para sustentar a sua candidatura presidencial. O país dava os primeiros passos na redemocratização. Hoje está claro que um governo precisa de uma base ampla para garantir um mínimo de estabilidade.
A corrupção certamente tem outras origens, desde o histórico patrimonialismo às deficiências dos mecanismos de fiscalização, mas o presidencialismo de coalizão, com uma base partidária heterogênea, hoje sem alinhamento em torno de uma agenda, montada a partir do loteamento do governo, e com partidos sem identidade, acaba criando um ambiente propício a crises. Interessante notar que tanto a crise do mensalão como a rebelião atual em setores do PMDB e PR têm origem na própria base do governo, e não em ofensivas da oposição.
Dilma, contudo, já demonstrou algumas diferenças em relação ao antecessor. Não acobertou os denunciados nem responsabilizou as elites e a imprensa. Sérgio Abranches, naquela reportagem, assinala que é possível, sim, fazer acordos que não sejam fisiológicos: "Ela tem apoio da sociedade na faxina, está tomando as rédeas do governo e pode enfrentar a banda podre dos partidos se unindo à banda boa". Tomara.
Andre Hees - A Gazeta
Tudo isso num cenário com regras frouxas de fidelidade partidária e com mais de 20 partidos atuando no Congresso, a vasta maioria sem identidade ideológica.
Collor não caiu somente por corrupção ou por pressão dos caras-pintadas: caiu, em síntese, porque não tinha base parlamentar, vinha de um partido pequeno e artificial, o PRN, criado apenas para sustentar a sua candidatura presidencial. O país dava os primeiros passos na redemocratização. Hoje está claro que um governo precisa de uma base ampla para garantir um mínimo de estabilidade.
A corrupção certamente tem outras origens, desde o histórico patrimonialismo às deficiências dos mecanismos de fiscalização, mas o presidencialismo de coalizão, com uma base partidária heterogênea, hoje sem alinhamento em torno de uma agenda, montada a partir do loteamento do governo, e com partidos sem identidade, acaba criando um ambiente propício a crises. Interessante notar que tanto a crise do mensalão como a rebelião atual em setores do PMDB e PR têm origem na própria base do governo, e não em ofensivas da oposição.
Dilma, contudo, já demonstrou algumas diferenças em relação ao antecessor. Não acobertou os denunciados nem responsabilizou as elites e a imprensa. Sérgio Abranches, naquela reportagem, assinala que é possível, sim, fazer acordos que não sejam fisiológicos: "Ela tem apoio da sociedade na faxina, está tomando as rédeas do governo e pode enfrentar a banda podre dos partidos se unindo à banda boa". Tomara.
Andre Hees - A Gazeta
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