Após tantos anos de profissão, a maioria dos quais dedicado ao serviço público não foram suficientes para que eu não fique indignado com a saúde pública oferecida ao povo do meu país, o caso que vou relatar abaixo serve mais para um desabafo pois estou perdendo as esperanças que algo possa mudar nessa República onde o objetivo principal dos nossos governantes é meter a mão no dinheiro do povo.
Sr. Manoel , 89 anos, acamado por seqüelas de um AVC há alguns anos foi internado em nossa enfermaria, apresentava desnutrição , anemia e úlceras de pressão infectadas nos tornozelos e na perna direita, mas o que o levou ao hospital foi o fato de estar urinando sangue. Morava sozinho numa pequena casa de sua propriedade numa comunidade rural, vivia de pequena aposentadoria e pagava a vizinha para fazer sua comida e limpar a casa de vez em quando.
Nos exames diagnosticamos uma lesão vegetante na bexiga, causa da hematúria macroscópica (sangue na urina), aí começou nossa luta contra o sistema. Solicitamos avaliação do urologista que indicou ressecção do tumor na bexiga. Seguindo o protocolo solicitamos à Central de Regulamentação de Vagas internação no Serviço de Oncologia do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim, referência na especialidade para o sul do Esp. Santo.
Enquanto aguardávamos a vaga, fomos tratando do paciente, dieta hiperproteica e hipercalórica, debridamos suas feridas infectadas, antibióticoterapia, hidratação, por duas vezes fizemos concentrado de hemácias, já que a perda sanguínea o espoliava diariamente. Fomos informados que não poderíamos interná-lo na oncologia porque era preciso primeiro tratar das úlceras infectadas e fazer primeiro a ressecção da lesão vegetante e biópsia para então tratar o tumor.
Como os urologistas não faziam o procedimento pelo SUS , fomos orientados a solicitar à Superintendência Regional de Saúde a compra do procedimento, assim o fizemos, com a ajuda na nossa Assistente Social montamos o processo e encaminhamos o pedido e enquanto aguardávamos fomos tratando de manter o Sr. Manoel no melhor estado possível, o que era difícil , já que o sangramento constante só o debilitava cada vez mais.
Mais de 30 dias se passaram sem que o procedimento fosse comprado, procuramos então a Secretaria Municipal de Saúde para ver a possibilidade da Prefeitura pagar o procedimento, fomos autorizados e satisfeitos encaminhamos o paciente novamente ao urologista para nova avaliação e valor da ressecção para que finalmente resolvêssemos o problema. Para nossa decepção o paciente retornou com laudo dizendo da impossibilidade do procedimento em função do precário estado geral do paciente.
Com o Sr. Manoel piorando tentamos transferi-lo novamente para a oncologia sem sucesso e com os mesmos argumentos mas conseguimos para um prazo de dez dias consulta com um colega oncologista que ia avaliar as possibilidades terapêuticas para o tumor do nosso paciente.
Na véspera da consulta me ligaram às 4,30 h para comunicar que o Sr. Manoel tinha falecido. Entre a internação e o óbito passaram-se 3 meses, não comuniquei a Superintendência de Saúde, vou aguardar a autorização para o procedimento, espero que saia antes de se completar um ano da morte do nosso velhinho, quero ter o prazer de comunicar que chegou tarde demais.
Resumindo, temos uma referência em oncologia que só quer tratar, não quer gastar com exames para o diagnóstico, temos urologistas que se recusam a fazer procedimentos pelo SUS, temos uma Superintendência que não consegue atender a esses casos com o tempo necessário e tínhamos um paciente que poderia ter vivido um pouco mais.
Este é o retrato do SUS no sul do Espírito Santo, retrato fiel do que se passa em todo o BRASIL.
ESTOU CANSADO!!!
Triste retrato do nosso país na saúde. Infelizmente, Marco!
ResponderExcluirA saúde pública do Brasil está uma caos, não muito distante de um holocausto. Porém, para o senhor Padilha a saúde está bem obrigado! São milhões sendo investidos. Se há investimento, por que não há retorno?! Algo está errado nessa filosofia do senhor Padilha. É inadmissível, que em pleno século XXI ainda surgem tantas mortes por conta do descaso na administração da saúde pública!
ResponderExcluirPois é doutor, entendo claramente seu relato.
ResponderExcluirEstou com um parente próximo, com um tumor na garganta e aguardando essa maldita autorização de vaga, solicitada com URGÊNCIA pelo especialista, pasme de um Hospital Especializado no Controle do Cancer.
Fazem 10 dias que todos os procedimentos foram realizados, mas o SUS até o momento não deu a devida autorização, que basta apenas apertar um botão num terminal de computador. Até parece que vivemos na idade das pedras e tudo tem que ser transportado em lombo de burro.
Médico e Hospital dispõe de recursos e vagas, só falta o SUS liberar.
Cobrei do Ministro da Saúde, via Twitter, ele perguntou onde isso ocorria, detalhei, não voltou mais a tocar no assunto.
Como ficamos nós, com a pessoa engasgando, tossindo frequentemente, praticamente se asfixiando e sem ter a quem recorrer?
Aí, a gente perde a paciência e o contrôle, vai até um posto do SUS qualquer, quebra tudo e somos taxados de desiquilibrados.
Estou mais que cansado... totalmente desanimado.
Perdemos minha mãe num PS assim…
ResponderExcluirInternaram por uma infecção urinária pq acharam q ela estava magrinha, olhando feio p nós.
Após 2 semanas, com o stress fazendo a glicemia subir (ela ñ era diabética) transferiram para a ala dos "esquecidos". Mais 2 semanas numa guerra para falar com os médicos, para saber o que ela estava tomando, para conseguir que colocassem a maquininha de respiração e que puxa a secreção… Com minha mãe já em agonia, fizeram o teatrinho de correr com ela para a UTI…
Ela e meu pai pagaram INSS por 65 anos (se juntar os 2) para morrerem assim, desimportantes. só estatística…
Estamos cansados, meu amigo. É revoltante o que a burocracia faz com as doenças - atende depois que o paciente morre. Tive uma empregada que, se eu não tivesse mandado para um médico particular e ele não fosse uma pessoa boníssima, hoje estaria mortinha. Muito cruel o que o ROUBO faz com as pessoas. Talvez seja esse o objetivo da erradicação da miséria - acabar com os miseráveis, matando-os ou por falta de atendimento ou de raiva.
ResponderExcluirAffffffffff.... E pensar que querem controlar minha voz indignada.... Fique cansado mas nunca desista! Abçs
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