"Ideologia, eu quero uma pra viver!". Essa foi a frase cantada por Cazuza em 1988. Junto ao clamor que fazia por um norte em sua vida, o polêmico poeta deixou um desabafo ainda contemporâneo: "Meu partido
é um coração partido".
Na época de Cazuza, as gerações que iam mudar o mundo entenderam que a política poderia ser o mecanismo ideal para tal transformação. Surgiram, assim, os partidos populares, que levantavam bandeiras em nome da mudança. Porém, passados vinte anos, falar de ideologia na política chega a ser cômico, uma utopia juvenil. Mas que atire a primeira pedra aquele que não tem um ideal! Ou melhor... Espere um pouco! Dadas as atuais circunstâncias políticas, parece-me prudente não incitar tal ato, pois é certo que receberia pelo menos 27 pedradas. Vinte e sete: o número de partidos políticos registrados no Brasil.
Em primeira análise, o exagero partidário pode aparentar multiplicidade de ideias. Mas se é assim, como explicar a coligação formada, por exemplo, para eleger o atual governador do Estado? Para os que não se recordam, foram dezesseis siglas diferentes (mais da metade existente no país!), "Juntas pelo Futuro". É, contudo, improvável que tantos pensamentos convirjam para uma só pessoa. O fato é que o exemplo capixaba é a prova viva de que tais grupos só pensam no poder. Por aqui é assim: Ideologia, eu quero uma pra vender!
Aliado ao absurdo das coligações, o cenário brasileiro coloca-nos diante de contradições que se apresentam logo de cara. O significado das legendas partidárias e as supostas ideologias nelas contidas são lastimáveis. O PT (Partido dos Trabalhadores) é a piada pronta. Para falar de sua ideologia, parafraseio o humorista Danilo Gentili, em seu espetáculo Politicamente Incorreto: "Para mim, petista perdeu o direito de discutir política quando Lula se aliou a Collor e a Sarney. Se querem ganhar a eleição, assumam. Mas não venham falar de ideologia".
Ainda interpretando a esquerda (se é que ela existe), tem-se a Causa Operária (PCO), que não opera, os Trabalhadores Unificados (PSTU), que não se unificam e os Socialistas (PSOL), que não socializam. Já à "direita", vê-se a inexpressiva oposição do PSDB e a invisível contribuição dos democratas (DEM). Diante disso, evidencia-se a confusão dos princípios e das práticas. E nesse contexto paradoxal, nossa realidade é ilustrativa: afinal, o que faz o governador Casagrande filiado ao Partido Socialista Brasileiro? Qual o conceito de socialismo do governador?
Com tantas polêmicas, certeza é que ideal político é algo inexistente nas coligações brasileiras. Contudo, direcionar críticas a partidos ainda significa tocar na ferida dos filiados. E ai temos nosso grande problema: ainda não dissociamos a paixão da política. Para alguns, as bandeiras partidárias estão acima do bem e do mal, e esperanças passadas encobrem os fatos rotineiros. Dessa forma, àqueles que crêem em suas vendas, recomendo Cazuza: "As ilusões estão todas perdidas. Os meus sonhos foram todos vendidos".
A empolgação, por vezes cega, dos chamados "militantes", somada à ignorância propagada pelo partidarismo, mantém o Brasil "deitado eternamente em berço esplêndido". E a conclusão é trágica: enquanto não acordarmos desse sono profundo, e enxergarmos quem está por trás
das máscaras partidárias, seremos sempre um povo que aplaude e defende bandidos.
A tentativa de mudar o mundo que as gerações de 70 e 80 empregaram foi, de fato, frustrada e teve seu fim. Com isso, o momento atual é novo, diferenciado. Portanto, deve ser encarado a partir de uma nova mentalidade. O racionalismo do século XXI deve ser aplicado em resposta aos joguetes partidários. Ao mesmo tempo, devemos ser realistas, mas sonhadores (sim, isso é possível). Realistas para não perdermos a crítica essencial à inteligência e sonhadores para nunca deixarmos de crer em nós mesmos. Hoje sei que "meus inimigos estão no poder". Portanto, caro leitor, "Ideologia, eu quero uma pra viver".
Gabriel Tebaldi, 18 anos, é estudante de História da Ufes
é um coração partido".
Na época de Cazuza, as gerações que iam mudar o mundo entenderam que a política poderia ser o mecanismo ideal para tal transformação. Surgiram, assim, os partidos populares, que levantavam bandeiras em nome da mudança. Porém, passados vinte anos, falar de ideologia na política chega a ser cômico, uma utopia juvenil. Mas que atire a primeira pedra aquele que não tem um ideal! Ou melhor... Espere um pouco! Dadas as atuais circunstâncias políticas, parece-me prudente não incitar tal ato, pois é certo que receberia pelo menos 27 pedradas. Vinte e sete: o número de partidos políticos registrados no Brasil.
Em primeira análise, o exagero partidário pode aparentar multiplicidade de ideias. Mas se é assim, como explicar a coligação formada, por exemplo, para eleger o atual governador do Estado? Para os que não se recordam, foram dezesseis siglas diferentes (mais da metade existente no país!), "Juntas pelo Futuro". É, contudo, improvável que tantos pensamentos convirjam para uma só pessoa. O fato é que o exemplo capixaba é a prova viva de que tais grupos só pensam no poder. Por aqui é assim: Ideologia, eu quero uma pra vender!
Aliado ao absurdo das coligações, o cenário brasileiro coloca-nos diante de contradições que se apresentam logo de cara. O significado das legendas partidárias e as supostas ideologias nelas contidas são lastimáveis. O PT (Partido dos Trabalhadores) é a piada pronta. Para falar de sua ideologia, parafraseio o humorista Danilo Gentili, em seu espetáculo Politicamente Incorreto: "Para mim, petista perdeu o direito de discutir política quando Lula se aliou a Collor e a Sarney. Se querem ganhar a eleição, assumam. Mas não venham falar de ideologia".
Ainda interpretando a esquerda (se é que ela existe), tem-se a Causa Operária (PCO), que não opera, os Trabalhadores Unificados (PSTU), que não se unificam e os Socialistas (PSOL), que não socializam. Já à "direita", vê-se a inexpressiva oposição do PSDB e a invisível contribuição dos democratas (DEM). Diante disso, evidencia-se a confusão dos princípios e das práticas. E nesse contexto paradoxal, nossa realidade é ilustrativa: afinal, o que faz o governador Casagrande filiado ao Partido Socialista Brasileiro? Qual o conceito de socialismo do governador?
Com tantas polêmicas, certeza é que ideal político é algo inexistente nas coligações brasileiras. Contudo, direcionar críticas a partidos ainda significa tocar na ferida dos filiados. E ai temos nosso grande problema: ainda não dissociamos a paixão da política. Para alguns, as bandeiras partidárias estão acima do bem e do mal, e esperanças passadas encobrem os fatos rotineiros. Dessa forma, àqueles que crêem em suas vendas, recomendo Cazuza: "As ilusões estão todas perdidas. Os meus sonhos foram todos vendidos".
A empolgação, por vezes cega, dos chamados "militantes", somada à ignorância propagada pelo partidarismo, mantém o Brasil "deitado eternamente em berço esplêndido". E a conclusão é trágica: enquanto não acordarmos desse sono profundo, e enxergarmos quem está por trás
das máscaras partidárias, seremos sempre um povo que aplaude e defende bandidos.
A tentativa de mudar o mundo que as gerações de 70 e 80 empregaram foi, de fato, frustrada e teve seu fim. Com isso, o momento atual é novo, diferenciado. Portanto, deve ser encarado a partir de uma nova mentalidade. O racionalismo do século XXI deve ser aplicado em resposta aos joguetes partidários. Ao mesmo tempo, devemos ser realistas, mas sonhadores (sim, isso é possível). Realistas para não perdermos a crítica essencial à inteligência e sonhadores para nunca deixarmos de crer em nós mesmos. Hoje sei que "meus inimigos estão no poder". Portanto, caro leitor, "Ideologia, eu quero uma pra viver".
Gabriel Tebaldi, 18 anos, é estudante de História da Ufes
Faltam ideologia e vergonha na cara desses politicos que sao os maiores inimigos do povo.
ResponderExcluirParabens pelo texto, excelente.
Claudia LCastro