Etapa de aprofundamento dos conhecimentos básicos, antessala do ensino superior, preparatório para a entrada no mercado de trabalho. Qual é, afinal, o objetivo do ensino médio? Com 12 disciplinas obrigatórias e a tarefa de ensinar cerca de dez conteúdos por ano em cada uma delas, o ensino médio brasileiro carece de ferramentas para se tornar atrativo. Tem um currículo sobrecarregado e vive a dificuldade de apontar caminhos. Também enfrenta uma crise de identidade, cujo ápice aconteceu há dois anos, com a mudança do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Recém-divulgado, o resultado das escolas no Enem 2010, aliás, é quem coloca as cartas na mesa: o desempenho das redes de ensino tem melhorado, mas a média das escolas não se compara a resultados de outros países em desenvolvimento, dizem especialistas.
foto: Chico Guedes
O mau desempenho não encontra respostas apenas na (má) qualidade do ensino público. Nas escolas particulares do Estado, a média no exame foi de 604 pontos, quando consideradas as instituições com mais de 75% de participação dos alunos nas provas - pouco mais da metade de pontos possíveis.
Em outros Estados e na maioria das instituições (públicas ou privadas), a situação não é muito diferente, com exceção de alguns centros de excelência, que alcançaram até 761 pontos.
ReprogramaçãoPara o gerente de projetos sociais do Instituto Unibanco - que oferece apoio técnico para o desenvolvimento de projetos em escolas públicas brasileiras -, Vanderson Berbat, o Enem coloca na agenda pública a urgência de se repensar e reprogramar o ensino médio. "Essa etapa da educação deveria ser a porta de saída do jovem para a vida adulta. Mas hoje, com a quantidade de conteúdos obrigatórios que possui, não consegue oferecer isso com clareza. Ficamos no meio do caminho", argumenta.
Vanderson é um entre muitos especialistas em educação que defendem a substituição do atual currículo por um currículo básico, sem muitos "adendos". A obrigação de ensinar conteúdos de Matemática, Física, Química e Biologia aprofundados, além de Filosofia, Sociologia e até Inglês, "incha" o currículo do ensino médio e pouco contribui para o desenvolvimento de habilidades e competências que o próprio Enem vem tentando imprimir à vida escolar, ele afirma.
Isso sem falar nos conteúdos "transversais", previstos em legislações específicas, como a educação ambiental, a educação para o trânsito e a educação em Direitos Humanos, que, por motivos diversos, muitas vezes mal conseguem sair do papel. Cabe às políticas públicas, professores e gestores educacionais encontrar formas de colocar tudo isso em prática.
Qualificação
Para o presidente-executivo do Movimento Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos, a saída é investir na qualificação de professores e na ampliação da carga horária. "Temos exemplos de escolas bem-sucedidas no país que estão focando no ensino médio profissionalizante ou na preparação para o ensino superior. As escolas não precisam ser todas iguais. Outra saída é contratar professores com a formação específica das disciplinas e ofertar mais aulas no contraturno", explica.
Mozart critica o fato de mais de 60% dos professores de Física do ensino médio, no país, não terem formação na área ou em áreas correlatas. "A legislação privilegia apenas a formação pedagógica."
Situações como essas se refletem nas taxas de evasão que, em 2010, chegaram a 8% no Estado. O número é quatro vezes maior que o registrado no ensino fundamental, mas já caiu em relação a 2009, quando alcançou 12% dos estudantes. Mas a alta evasão também se explica por outros motivos, que mantém relação direta com a falta de identidade do ensino médio, como a falta de interesse dos estudantes e a necessidade que muitos têm de entrar no mercado de trabalho antes mesmo da conclusão de seus estudos.
Na escola da rede estadual Professor Fernando Duarte Rabelo, em Vitória, por exemplo, os alunos defendem o ensino médio, mas criticam o aprendizado "raso" que muitas vezes precisam encarar. "Se você quer ser alguém na vida, um dos caminhos é o ensino médio", diz o estudante do 3º ano Antônio Carlos dos Santos Junior, 17 anos.
Mas isso, eles sabem bem, depende muito do professor que está à frente da turma. "Muitos não querem saber de ensinar, só de passar a matéria no quadro. Isso acaba atrapalhando quem quer aprender e precisa sair dali preparado para trabalhar", rebate Quily Mendes, 17, colega de turma de Antônio.
Ela e os amigos Anderson Silveira Gonçalves, 16, Eduardo Rodrigues, 15, e Andressa Reinoso, 17, esperam concluir o ensino médio com o passaporte garantido para o ensino superior, mas com chances de aliar o curso a um emprego
Fonte: A Gazeta
foto: Chico Guedes
Em outros Estados e na maioria das instituições (públicas ou privadas), a situação não é muito diferente, com exceção de alguns centros de excelência, que alcançaram até 761 pontos.
ReprogramaçãoPara o gerente de projetos sociais do Instituto Unibanco - que oferece apoio técnico para o desenvolvimento de projetos em escolas públicas brasileiras -, Vanderson Berbat, o Enem coloca na agenda pública a urgência de se repensar e reprogramar o ensino médio. "Essa etapa da educação deveria ser a porta de saída do jovem para a vida adulta. Mas hoje, com a quantidade de conteúdos obrigatórios que possui, não consegue oferecer isso com clareza. Ficamos no meio do caminho", argumenta.
Vanderson é um entre muitos especialistas em educação que defendem a substituição do atual currículo por um currículo básico, sem muitos "adendos". A obrigação de ensinar conteúdos de Matemática, Física, Química e Biologia aprofundados, além de Filosofia, Sociologia e até Inglês, "incha" o currículo do ensino médio e pouco contribui para o desenvolvimento de habilidades e competências que o próprio Enem vem tentando imprimir à vida escolar, ele afirma.
Isso sem falar nos conteúdos "transversais", previstos em legislações específicas, como a educação ambiental, a educação para o trânsito e a educação em Direitos Humanos, que, por motivos diversos, muitas vezes mal conseguem sair do papel. Cabe às políticas públicas, professores e gestores educacionais encontrar formas de colocar tudo isso em prática.
Qualificação
Para o presidente-executivo do Movimento Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos, a saída é investir na qualificação de professores e na ampliação da carga horária. "Temos exemplos de escolas bem-sucedidas no país que estão focando no ensino médio profissionalizante ou na preparação para o ensino superior. As escolas não precisam ser todas iguais. Outra saída é contratar professores com a formação específica das disciplinas e ofertar mais aulas no contraturno", explica.
Mozart critica o fato de mais de 60% dos professores de Física do ensino médio, no país, não terem formação na área ou em áreas correlatas. "A legislação privilegia apenas a formação pedagógica."
Situações como essas se refletem nas taxas de evasão que, em 2010, chegaram a 8% no Estado. O número é quatro vezes maior que o registrado no ensino fundamental, mas já caiu em relação a 2009, quando alcançou 12% dos estudantes. Mas a alta evasão também se explica por outros motivos, que mantém relação direta com a falta de identidade do ensino médio, como a falta de interesse dos estudantes e a necessidade que muitos têm de entrar no mercado de trabalho antes mesmo da conclusão de seus estudos.
Na escola da rede estadual Professor Fernando Duarte Rabelo, em Vitória, por exemplo, os alunos defendem o ensino médio, mas criticam o aprendizado "raso" que muitas vezes precisam encarar. "Se você quer ser alguém na vida, um dos caminhos é o ensino médio", diz o estudante do 3º ano Antônio Carlos dos Santos Junior, 17 anos.
Mas isso, eles sabem bem, depende muito do professor que está à frente da turma. "Muitos não querem saber de ensinar, só de passar a matéria no quadro. Isso acaba atrapalhando quem quer aprender e precisa sair dali preparado para trabalhar", rebate Quily Mendes, 17, colega de turma de Antônio.
Ela e os amigos Anderson Silveira Gonçalves, 16, Eduardo Rodrigues, 15, e Andressa Reinoso, 17, esperam concluir o ensino médio com o passaporte garantido para o ensino superior, mas com chances de aliar o curso a um emprego
Fonte: A Gazeta
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