domingo, 18 de setembro de 2011

AFINAL QUEM MANDA? (POLITICA CAPIXABA)

PAPO DE REPÓRTER

O fim da novela envolvendo a filiação de Max Filho ao PSB, com a negativa dos socialistas, deflagrou uma busca das lideranças do Estado pela companhia do ex-governador Paulo Hartung. Isso mostra que no pleito de 2012 o PMDB vai se fortalecer para dar uma sustentação a Hartung. Sustentação para o quê, não se sabe.

Nerter: – A semana começou com uma reviravolta política muito grande no episódio do desconvite do PSB à filiação do ex-prefeito Max Filho ao partido e acabou com a movimentação intensa do PMDB ocupando os espaços abertos pelo governador Renato Casagrande no campo político depois desse caso. Apesar de o governador Renato Casagrande tentar se esquivar da responsabilidade e tentar encerrar o assunto, essa discussão parece que vai longe.

Renata:
– Vai longe e terá repercussões para dentro e para fora do PSB, em 2012 e em 2014. Esse episódio foi um erro estratégico muito grande do governador, e em um momento em que ele não podia errar. Dada à dificuldade que ele vem enfrentando desde que chegou ao governo para dialogar com a classe política, esse recuo aumentou a insegurança sobre a postura de grande líder do Estado na figura do governador.

Nerter: – Uma coisa, aliás, que não se via quando Hartung estava no palácio Anchieta. Com uma dinâmica bem conservadora, ele colocou todos os partidos e lideranças do Estado sob sua regência. Os que ousavam se desalinhar desse arranjo político – leiam-se Max Filho e Max Mauro – sofreram as consequências com o isolamento. Outros sentiram a força do arranjo institucional que colocou o Ministério Público e o Judiciário numa função de caça às bruxas, eliminando qualquer tentativa de rebeldia.

Renata: – Pois é, o Renato Casagrande mudou essa dinâmica. Em vez de colocar uma posição firme e vertical sobre os caminhos a serem seguidos pela classe política, adotou a estratégia parlamentar de ouvir, prometer e cozinhar o galo. Isso abriu um precedente para que a base aliada pressionasse, algo impensável na era Hartung.

Nerter: – O recuo foi justamente para acalmar a base aliada. O problema é que, uma vez criado o precedente, ou seja, Casagrande cedendo diante da pressão da base aliada, será difícil o governador conseguir qualquer coisa sem enfrentar resistência. O governador corre o risco de ficar refém de sua base.

Renata: – Outro sério risco que Casagrande corre é o de sair da eleição do próximo ano enfraquecido. O partido está perdendo um importante parceiro nesse processo. O PSDB, que vinha costurando alianças nos municípios com o partido do governador, agora se reconcilia com Hartung. O PT vai pressionar muito para conseguir repetir seu desempenho de 2008, forçando o PSB a abrir mão de uma importante prefeitura, Colatina, onde disputaria com o deputado federal Paulo Foletto. Mas o PT, com necessidade de tirar o socialista do caminho da reeleição de Leonardo Deptulski, vai intensificar esse debate.

Nerter: – É bom o Foletto ficar esperto, porque em nome da governabilidade, apesar de todas as costuras que ele já preparou, não há mais uma garantia de que ele vá mesmo disputar, não pelo PSB. E não para por aí. Na Serra, a coisa é até mais complexa. Audifax não tem sequer o apoio do diretório municipal do PSB. O prefeito Sérgio Vidigal e seu PDT fazem parte do primeiro pelotão de aliados e não foram contemplados a contento na distribuição de cargos no governo. Muito porque o partido gira em torno de Vidigal, assim como o PSB gira em torno de Casagrande, diga-se de passagem. Mais do que uma demarcação de território ou demonstração de força política, a reeleição em 2012 é uma questão de sobrevivência política para Vidigal.

Renata: – Em menos de uma semana, o PSB saiu de estrela da eleição na Grande Vitória para um sério risco de isolamento em 2012. Se a estratégia tivesse sido bancada pelo governador, o partido teria candidato na Serra, com Audifax Barcelos; em Vila Velha, com Max Filho, e em Cariacica, com Juninho. Max foi desconvidado, Juninho não quis embarcar nessa furada e há quem diga que perder Audifax é uma questão de tempo. Saindo enfraquecido em 2012, Renato Casagrande terá dificuldade para erguer seu palanque à reeleição em 2014, o que ele mesmo admite.

Nerter: – Se por um lado Casagrande saiu enfraquecido dessa discussão, o mesmo não se pode dizer do ex-governador Paulo Hartung. Diante do erro estratégico do socialista, o presidente do PMDB, deputado Lelo Coimbra, voz e ouvidos de Hartung no partido, saiu a campo para ocupar o espaço aberto com esse episódio. Acelerou as investidas à classe política, conseguindo atrair os favoritos na disputa em vários municípios do Estado. Isso vai permitir que o partido venha para a eleição com uma articulação política forte, o que vai deixar o PMDB muito fortalecido para 2014.

Renata: – Aí é que fica o questionamento. Ao se fortalecer, o PMDB fortalece, é claro, Paulo Hartung. Agora, o que ele fará com esse capital é que não se sabe, ainda. Se Hartung não confirma nem a participação no pleito de 2012, imaginar o que ele fará em 2014 seria muita pretensão nossa. O fato é que ele terá um bom arco de lideranças políticas eleitas no sistema dele, restabelecendo assim seu posto de comando na política capixaba.

Nerter:
– E esse é o fantasma com que Casagrande terá de lidar até 2014. O governador pode até disputar a reeleição, mas terá que fazer com o crivo deste sistema que se consolida em 2012. E Casagrande já parece ter entendido esse recado.

Fonte: Séculodiário

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