LULA E TIRIRICA.

José Carlos Corrêa


O que Lula e Tiririca têm em comum? Ambos são nordestinos, passaram fome na infância e se bandearam para São Paulo em busca de novas oportunidades. Nesta campanha eleitoral, cumprem, cada um a seu modo, o triste papel de debochar da democracia. Tiririca ao perguntar, cinicamente, aos eleitores se eles sabem o que faz um deputado federal para, em seguida, dizer: "Eu também não sei. Mas se for eleito, vou contar pra vocês". Lula ao se dirigir a uma multidão, mesmo diante da confissão da Receita Federal de que houve o crime de quebra de sigilo de centenas de cidadãos brasileiros: "Cadê esse tal de sigilo, que não apareceu até agora? Cadê o vazamento das informações?"

Mas é evidente que há grandes diferenças entre Tiririca e Lula. Tiririca é um humorista que se utiliza do horário da propaganda eleitoral gratuita para divulgar a sua candidatura, sem se importar em parecer bizarro ou ridículo. A começar pelo chapéu vermelho, roupa supercolorida, peruca loira e o mesmo bigodinho preto com que se apresenta nos programas de humor na TV. Ou seja, o Tiririca que adota o slogan "Vote em Tiririca, pior que tá não fica" e que diz que há muito "abestado no Congresso" é o mesmo Tiririca que gravou "Florentina" e que pergunta a Tom Cavalcante "Quem é o cantô?" no Show do Tom.

Enfim, Tiririca não disfarça e chega a confessar que é candidato para "ajudar os mais necessitados", inclusive a sua própria família. Em outras palavras, não é possível esperar algo mais, além de deboche, de um personagem que ganhou notoriedade como palhaço de circo.

De Lula, entretanto, é legítimo esperar um comportamento mais responsável em um período eleitoral. Até porque é ele o presidente da República. E o presidente da República, em princípio, é o presidente de todos os brasileiros e, como tal, aquele que deveria ser o primeiro a defender os interesses dos seus conterrâneos quando estes têm os seus direitos constitucionais desrespeitados. Diante da constatação da quebra de sigilo por parte da Receita o presidente deveria, no mínimo, para resguardar a integridade das apurações, afastar de imediato aqueles que admitem não ter o controle do órgão que dirigem.

Mas Lula não liga para essas coisas quando está em jogo o seu interesse político maior. Não foi por outra razão que foi multado quase uma dezena de vezes por fazer propaganda política fora do período legal. Que debochou da Justiça Eleitoral ao desdenhar as multas. Que insiste em dizer que o crime de violação do sigilo pela Receita não passa de uma "armação política" contra a sua candidata.

Não é a primeira vez que Lula age dessa forma diante de crimes cometidos por pessoas que lhe são próximas. Ele diz que também teria sido "uma armação" o flagrante em que dois petistas, com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, tentavam, em 2006, comprar um falso dossiê contra os então candidatos a governador José Serra e a presidente Geraldo Alkmin. Quando do escândalo do mensalão, Lula tentou minimizar o episódio classificando-o como um caixa 2 que todos os partidos têm. Agora, diante da quebra do sigilo dos tucanos, entre os quais a filha e o genro de Serra, comprovadamente feita por petistas, Lula prefere zombar da inteligência dos eleitores ao perguntar onde está o "tal de sigilo".

Seria até engraçado, se não fosse o fato de se tratar de um crime cometido por um Estado que, como bem lembrou Marina Silva, deveria ser, antes de tudo, impessoal no trato com os cidadãos.

Faria bem ao país se Lula passasse a se comportar como um presidente da República, deixando apenas para Tiririca o papel vergonhoso de brincar com coisa séria.