A pesquisa Vox Populi divulgada no final da tarde desta terça-feira, com a ampliação da margem possível de votos da candidata petista, Dilma Rousseff, sobre o adversário tucano, José Serra, repercutiu com um tom amargo no cafezinho servido durante a reunião de última hora, realizada na capital paulista, para a qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi convocado e declarou, ao deixar o encontro, sua dúvida quanto à solidez da aliança com o Partido Democratas (DEM), de extrema direita. Observadores próximos aos dois partidos, no entanto, já prevêem que o DEM irá ceder para que a aliança com os tucanos seja preservada.
– O DEM, na realidade, não tem outra opção a não ser ir a reboque do PSDB. Além de não dispor, imediatamente, de um candidato à Presidência da República, corre o risco de ajudar, ainda mais, a candidata petista (Dilma Rousseff) a obter mais tempo de televisão na propaganda eleitoral. Ou cede, ou desaparece do panorama político nacional de forma irreversível. Mas, com certeza, o candidato (José Serra) já perdeu o apoio entusiasta que receberia do DEM. À essa altura, no mínimo, consideram-se traídos pela direção do partido aliado – disse um parlamentar do Democratas, que preferiu o anonimato.
Ainda segundo o deputado do DEM, que conversou com o Correio do Brasil, por telefone, a queda de Serra nas pesquisas é um fator que irá catalizar ainda mais o afastamento gradual de seu partido da campanha serrista.
– Nos municípios onde o DEM ainda guarda uma parcela de apoio político significativo junto aos eleitores, a atitude do PSDB, de preterir os aliados de primeira hora, alia-se ao fato de Serra estar em queda perante a opinião pública. Isso se transforma num efeito cáustico para a candidatura tucana. Ninguém quer aparecer ao lado de um candidato que, além de não cumprir o que combina, ainda está em franca decadência junto ao eleitorado. A equação é perversa, não há como negar – lamentou.
No encontro, que contou também com a presença do presidente nacional do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ) – filho do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia – nem houve acordo para o apoio à candidatura Serra, nem o PSDB cedeu a vaga de vice-presidente na chapa tucana ao DEM.
– Não teve acordo. Vamos trabalhar para que nas próximas horas a gente possa chegar a um acordo – disse Maia ao deixar o hotel onde esteve reunido por mais de três horas. Uma nova rodada de negociações deverá ocorrer ao longo da madrugada desta quarta-feira, dia da convenção nacional do Democratas, em Brasília.
Maia disse estar otimista com as negociações mas, no provável jogo de cena, insiste ainda que o DEM não abre mão de indicar o candidato a vice.
– O PSDB indicou o Serra. Nós entendemos que o Democratas, independentemente do nome, deve indicar o vice, porque gera unidade e gera palanques fortes e políticos empolgados em todos os Estados – afirmou aos repórteres que o abordaram.
Segundo o presidente do DEM, o importante é que os dois partidos tenham a capacidade de compreender a posição do aliado e possam recuar de suas posições. Para vencer as eleições, Maia pediu uma união “verdadeira” entre o PSDB e o DEM.
– Estar unidos de verdade significa o PSDB mostrar ao nosso partido que respeita, que entende a importância do nosso partido na aliança e a importância do nosso partido na vaga de vice-presidente – acrescentou.
O ex-presidente FHC também disse estar otimista ao deixar encontro. Apesar de a convenção nacional do DEM ocorrer nesta quarta-feira, ele afirmou que ainda há tempo para negociar.
– Estou otimista. O que está em jogo é um processo histórico e não pessoas. Não se faz política com precipitação. Tem de conversar muito. Tem muito tempo (até esta quarta-feira) – prevê.
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