Ao distribuir verbas públicas de forma desigual, um político é mais responsável do que São Pedro quando o céu desaba sobre a cabeça de brasileiros. No caso, brasileiros que atendem os pedidos de Lula para votar em Dilma Rousseff
Leonardo Cavalcanti
Em linha reta, o município baiano de Salvador e a cidade alagoana de Santana do Mundaú estão a 480km de distância. Na última semana, porém, a política rasteira uniu os dois locais de uma forma definitiva em episódios distintos. O primeiro ocorrido na última segunda-feira. O outro, na quarta-feira passada. Vamos a eles, pois.
Cena 1: Dilma Rousseff (PT) e Geddel Vieira Lima (PMDB), em um mesmo palanque, festejam a homologação da candidatura do peemedebista ao governo da Bahia.
Cena 2: Quitéria Celestina lamenta a impossibilidade de sair de casa e tentar encontrar comida para a família no município de Alagoas devastado pelas chuvas.
O elo entre as duas cenas está escondido em números da burocracia governamental. Mais especificamente do Ministério da Integração Nacional. O que segue a partir daí é uma ciranda.
Um ministério há até bem pouco tempo comandado pelo peemedebista Geddel, hoje um dos cabos estaduais de Dilma, a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que colocou — ou pelo menos teve de engolir — e manteve o político baiano na Esplanada.
Aí está o pulo do gato. Reportagem do Correio mostrou que, de 2004 a 2009, o Ministério da Integração Nacional, comandado por Geddel a partir de 2007, pagou R$ 357 milhões para obras preventivas a desastres nos estados.
Do total de recursos, 37% foram parar na Bahia, onde Dilma e Geddel comemoram a candidatura do ex-ministro na segunda-feira.
Alagoas, o estado onde na quarta-feira Quitéria Celestina tentava encontrar comida, ficou com 0,3%.
É o tal do jogo político rasteiro. Ao distribuir dinheiro de forma desigual, um político é mais responsável do que São Pedro quando o céu desaba. Eu sei, é a segunda vez que cito o santo aqui neste espaço, mas isso não significa que tenha alguma procuração para defendê-lo ou mesmo seja devoto.
No caso de Geddel, ele até fez graça em abril passado, depois que as chuvas devastaram os morros de Niterói, no Rio de Janeiro: “Não é bem assim, mas enquanto disserem que eu dei mais dinheiro para a Bahia não deixa de ser bom para mim”.
(...) Ainda no último mês de abril, Lula saiu em defesa de Geddel ao falar sobre os desmoronamentos no Rio de Janeiro. “É uma leviandade de quem falou. O que eu acho pobre neste país é que as pessoas esperam acontecer uma desgraça dessa magnitude para ficar tentando fazer um joguinho político pequeno.”
Na quinta-feira passada, em visita a Alagoas, Lula não falou sobre Geddel ou fez qualquer defesa a políticos. Ao contrário, mostrava-se emocionado ao ver in loco a tragédia que abateu brasileiros de Pernambuco e de Alagoas. No caso, brasileiros que atendem pedidos de Lula para votar em Dilma.
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