domingo, 24 de julho de 2011

ENGRENAGENS CORROMPIDAS DO SISTEMA.

A crise no Ministério dos Transportes e as suspeitas seguidas de corrupção, que se arrastam há três semanas, vêm contribuindo para a descrença na política e nas instituições. Desta vez as denúncias deixaram mais à vista as engrenagens de um sistema corrompido.

O novo escândalo domina e paralisa a agenda nacional, e ganha repercussões nos Estados, por causa de obras e contratos duvidosos do Dnit e outros órgãos do ministério.

Doações generosas de empreiteiras para campanhas, licitações direcionadas nas brechas da lei, convênios superfaturados, partilha do poder público entre os partidos, indicações e loteamentos políticos em cargos de chefia, parentes de autoridades envolvidos nas fraudes e enriquecendo da noite para o dia. Foi o que vimos nos últimos dias.

Nada disso foi criado agora. Vem de outros governos, por exemplo, a ironia sobre o maior partido do país ser o "PE - Partido das Empreiteiras". Porém, é cada vez mais gritante o estrago desse modelo que leva para o ralo da corrupção o dinheiro do contribuinte. Em pleno 2011, por exemplo, só 13% do 1,5 milhão de quilômetros da malha rodoviária do país é asfaltada, como mostrou reportagem recente de O Globo. Uma estatística colonial.

A única notícia animadora nessa história é que a presidente Dilma Rousseff mostra determinação em extirpar a banda podre de seu governo. Começou a faxina pelos indicados pelo PR, que controla os Transportes. Outras pastas devem passar por essa "assepsia".

É algo que seu antecessor não fez. Ao contrário, Lula jogou dentro desse sistema de certa forma o incentivou. E agora, o próprio ex-presidente alerta a pupila de que a "limpeza" pode implodir a base partidária no Congresso e dificultar a governabilidade.

Nesse cenário, contudo, chama a atenção a apatia de setores da sociedade com os escândalos. Não ocorrem mais grandes mobilizações contra a corrupção. Não há respostas fáceis para isso, e as possíveis razões ultrapassam o campo da política.

No entanto, está claro que a impunidade incentiva os corruptos a agirem livremente e vem produzindo um efeito devastador na expectativa geral de mudanças. Além disso, movimentos sociais que puxavam manifestações, como representantes dos estudantes e de sindicatos, hoje estão atrelados ao governo e recebem recursos federais.

O cenário é bastante desanimador, portanto. Mas experiências em países de democracia mais avançada já mostraram ser possível cercear a corrupção na esfera pública. O caminho passa pela transparência, leis mais rigorosas e punição. A questão é que para se chegar a esse ponto é preciso fiscalização da sociedade - que hoje está anestesiada -, e pela moralização das instituições. Diante do que temos hoje, o percurso pode ser longo

Fonte: A Gazeta

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