Demitido o ex-ministro Alfredo Nascimento dos Transportes, o desafio da presidente Dilma Rousseff agora é fazer a faxina há muito necessária na pasta. A dúvida é se será possível, com a turma do PR mantida por lá. Chega a ser bizarro que o próprio Nascimento participe da escolha de seu sucessor, mesmo após ter saído queimado por graves denúncias.
O mais sensato seria banir de imediato o partido do governo, mas a presidente se vê diante do dilema de precisar do apoio dos 40 votos dos deputados federais e dos sete senadores do PR.
E é por isso que o partido tem o descaramento de se sentir o dono do feudo dos Transportes, ameaçando a presidente para assegurar o domínio na pasta, mesmo com todo o histórico de escândalos e denúncias registrados nos últimos anos.
De qualquer forma, o episódio deveria colocar em discussão o fim desse modelo em que o poder tem de ser loteado entre os aliados e partidos, a ponto de o governante se tornar refém de acordos eleitorais.
"O ex-presidente Lula reuniu uma base extremamente heterogênea, sem fundamentação doutrinária e programática. Isso é o que se chama fisiologismo. E a presidente Dilma está pagando essa conta", avaliou o professor de Ética e Política da Unicamp Roberto Romano, em entrevista ontem à Rádio CBN.
As suspeitas sobre o "ministério das empreiteiras", como disse Romano, não vêm apenas do governo Lula. Mas, as denúncias que vieram à tona indicam que o PR ampliou a máquina de corrupção no setor e nos órgãos ligados a ele.
O partido também sai queimado do episódio, mas ainda não dá para mensurar o quanto isso se refletirá na sigla aqui no Estado. Ontem, uma influente liderança do PR capixaba avaliou que as denúncias que levaram à queda do ministro teriam origem na cúpula do PMDB. Seria, portanto, uma disputa por espaços de poder no governo.
De qualquer forma, é grave que em seis meses de governo dois ministros caiam cercados por suspeitas de corrupção. Imprime uma marca ruim à gestão, e dá a impressão de que ela não consegue decolar.
Outro desafio da presidente e de seus auxiliares agora é espantar a crise e impedir que o PR ou outros partidos coloquem o governo contra a parede. De qualquer forma como afirmou o professor Roberto Romano, se o governo não se realiza e não se fortalece até o segundo ano, não consegue mais deslanchar: "É um governo perdido".
O momento é preocupante. A presidente tem nas mãos uma base fisiológica, uma "herança maldita" do governo anterior. E se por um lado não demonstra disposição para atender esses apetites, também não indica ter paciência ou traquejo para o trato político
Fonte: Praça oito, A Gazeta
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