Um dia antes de completar um mês da saída de Antonio Palloci da Casa Civil, Alfredo Nascimento deixa o Ministério dos Transportes. É a segunda alteração no primeiro escalão motivada por suspeita de atos incompatíveis com a ética e a moralidade. Espera-se que seja a última por tais motivos.
Nascimento não resistiu a novas suspeições. Por determinação da presidente da República, ele havia afastado parte da cúpula dos Transportes até que fossem apuradas acusações de extrema gravidade: cobrança de propina para garantir vitórias em licitações e superfaturamento de obras. No entanto, no dia de ontem, surgiram mais denúncias relacionadas a susposto desvio de verbas públicas, envolvendo pessoas muito próximas ao então titular do ministério.
O engenheiro civil Mauro Barbosa da Silva, chefe de gabinete do ministro Nascimento até a semana passada, é alvo de suspeitas sobre sua conduta. Ele está construindo em Brasília uma mansão com três pavimentos, fincada em área de 1.300 metros quadrados. O imóvel é estimado em cerca de R$ 4 milhões - patrimônio que chama a atenção por pertencer a um funcionário público.
Já Gustavo Morais Pereira, filho de Alfredo Nascimento, está sendo investigado pelo Ministério Público por enriquecimento supostamente ilícito. O fato marcante é que, em apenas dois anos, a Forma Construções, pertencente a Gustavo, teve seu patrimônio aumentado em 86.500%. Foi criada com capital social de R$ 60 mil, logo ampliado para R$ 50 milhões.
As investigações do Ministério Público começaram em 2010, a partir de um nebuloso negócio entre Gustavo Pereira e uma empresa beneficiária de recursos do Ministério dos Transportes. Em 2007, a referida empresa repassou R$ 450 mil ao filho do ministro, conforme documentos em poder da Procuradoria da República do Amazonas. Naquele mesmo ano, a empresa recebeu R$ 3 milhões do Fundo da Marinha Mercante, administrado pela Pasta dos Transportes. Em 2008, a mesma empresa embolsou mais R$ 4,2 milhões. Essa sequência de fatos - que sugere uso da máquina pública em benefício pessoal - tornaram insustentável a permanência de Alfredo Nascimento no governo.
Como se não bastasse, também veio à tona que três empreiteiras, as principais doadoras de campanha do PR, partido que controla o Ministério dos Transportes, receberam, em 2010, ano eleitoral, R$ 986,2 milhões de órgãos vinculados àquele ministério: o Dnit e a Valec, estatal que cuida das ferrovias. Um ótimo "negócio" pois a doação dessas empresas ao PR somou apenas R$ 6 milhões no ano passado.
Crises pontuais estão promovendo reforma ministerial gradual em apenas seis meses do governo Dilma. Além de Palocci e Nascimento, Luis Sérgio foi remanejando para o Ministério da Pesca, por atuação considerada abaixo do esperado na Pasta das Relações Institucionais. A substituição de Nascimento é mais uma oportunidade para a presidente nomear quem responda melhor às diretrizes do governo e às expectativas da sociedade. Espera-se crescimento do governo
Editorial de A Gazeta.
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