É previsível que o PT, que tem ascendência sobre os movimentos sociais, as universidades e o meio cultural, venha a controlar, ou ao menos neutralizar, as manifestações populares espontâneas contra a corrupção.
O que se viu no sete de setembro, nas ruas de algumas capitais, foi uma ação inorgânica, de sincera inspiração apartidária, com a predominância de gente jovem, estudantes de classe média.
Ocorre que, nos seus ambientes sociais, esses mesmos jovens convivem com o aparelhamento ideológico de entidades como UNE, ONGs ambientais, raciais, homossexuais, culturais e de diversos outros matizes, dentro da estratégia petista de segmentar a sociedade para melhor controlá-la.
Esses grupos podem ter sido surpreendidos com a dimensão dos protestos, mas daqui em diante irão buscar (já estão) um meio de deles se apropriar e ajustá-los a seus interesses.
Há grande margem de manobra para tal. Os que protestaram não elegeram um vilão em especial. Ou por outra, elegeram “os políticos” de um modo geral, sem distingui-los, o que é sempre um perigo, já que não há democracia sem eles.
Em Brasília, por exemplo, o bode expiatório foi a deputada Jaqueline Roriz, personagem secundaríssima, flagrada recebendo dinheiro de um meliante, Durval Barbosa, que exerceu a função de operador do caixa dois dos governos Roriz e Arruda e depois se transformou em delator do esquema em que pontificava.
Jaqueline foi absolvida pela Câmara, o que é um escândalo, embora não inédito. Ao contrário, trata-se de prática que se reproduz nos escalões mais elevados da administração pública, tendo inclusive envolvido a cúpula governamental anterior, segundo processo em curso no Supremo Tribunal Federal, o chamado mensalão.
No governo atual, já houve a demissão de três ministros por corrupção – Casa Civil, Transportes e Agricultura – e sabe-se que poucos escapariam se a mesma devassa recaísse sobre suas pastas. Não recairá porque, como se sabe, o recente congresso do PT sepultou a faxina, que teve início à revelia do governo, por imposição dos fatos, relatados pela imprensa.
Há dois tipos de corrupção: a individual e a sistêmica. Uma boa analogia é a do pirata e do corsário. O pirata trabalhava por conta própria; o corsário servia informalmente a uma bandeira nacional. França e Inglaterra serviram-se exaustivamente desse expediente.
Enquanto o pirata roubava para si, com seus meios, correndo todos os riscos, o corsário era equipado pelo Estado e dividia a rapina.
No contexto brasileiro, a corrupção revestiu-se historicamente da lógica pirata. Pequenos grupos dentro dos governos se associavam para roubá-lo, contando com um estreito horizonte de cumplicidade. O caráter artesanal da operação limitava o prejuízo do erário.
No presidencialismo de coalizão, levado ao paroxismo pela Era Lula, a corrupção é sistêmica, como se viu no mensalão. A dimensão da rapina dá-se em proporções geométricas.
Há uma engrenagem sofisticada que recebe estímulo do próprio comando político, dividindo entre os aliados os ministérios e estatais, distribuídos “com porteira fechada” – isto é, dando ao titular o direito de preencher pelo “critério político” todos os cargos estratégicos.
No Ministério da Agricultura, um lobista fazia de escritório a sala onde se decidiam as licitações. No Ministério do Turismo, os ocupantes dos mais altos cargos foram não só demitidos como presos.
O governo não gostou; Lula protestou; os aliados ameaçaram romper. Em tal estrutura, não basta prender esse ou aquele corrupto. Se o esquema não for desfeito, outro ocupará seu lugar.
Diante de tal contexto, o que é uma Jaqueline Roriz? Um nada, uma amadora, alguém que quis ser pirata no reino dos corsários. Deve ser punida, claro, mas está longe de ser o símbolo desta era, que não será desfeita a partir de manifestações estudantis – sinceras, significativas, mas impotentes diante da engrenagem que aí está.
Ruy Fabiano
O que se viu no sete de setembro, nas ruas de algumas capitais, foi uma ação inorgânica, de sincera inspiração apartidária, com a predominância de gente jovem, estudantes de classe média.
Ocorre que, nos seus ambientes sociais, esses mesmos jovens convivem com o aparelhamento ideológico de entidades como UNE, ONGs ambientais, raciais, homossexuais, culturais e de diversos outros matizes, dentro da estratégia petista de segmentar a sociedade para melhor controlá-la.
Esses grupos podem ter sido surpreendidos com a dimensão dos protestos, mas daqui em diante irão buscar (já estão) um meio de deles se apropriar e ajustá-los a seus interesses.
Há grande margem de manobra para tal. Os que protestaram não elegeram um vilão em especial. Ou por outra, elegeram “os políticos” de um modo geral, sem distingui-los, o que é sempre um perigo, já que não há democracia sem eles.
Em Brasília, por exemplo, o bode expiatório foi a deputada Jaqueline Roriz, personagem secundaríssima, flagrada recebendo dinheiro de um meliante, Durval Barbosa, que exerceu a função de operador do caixa dois dos governos Roriz e Arruda e depois se transformou em delator do esquema em que pontificava.
Jaqueline foi absolvida pela Câmara, o que é um escândalo, embora não inédito. Ao contrário, trata-se de prática que se reproduz nos escalões mais elevados da administração pública, tendo inclusive envolvido a cúpula governamental anterior, segundo processo em curso no Supremo Tribunal Federal, o chamado mensalão.
No governo atual, já houve a demissão de três ministros por corrupção – Casa Civil, Transportes e Agricultura – e sabe-se que poucos escapariam se a mesma devassa recaísse sobre suas pastas. Não recairá porque, como se sabe, o recente congresso do PT sepultou a faxina, que teve início à revelia do governo, por imposição dos fatos, relatados pela imprensa.
Há dois tipos de corrupção: a individual e a sistêmica. Uma boa analogia é a do pirata e do corsário. O pirata trabalhava por conta própria; o corsário servia informalmente a uma bandeira nacional. França e Inglaterra serviram-se exaustivamente desse expediente.
Enquanto o pirata roubava para si, com seus meios, correndo todos os riscos, o corsário era equipado pelo Estado e dividia a rapina.
No contexto brasileiro, a corrupção revestiu-se historicamente da lógica pirata. Pequenos grupos dentro dos governos se associavam para roubá-lo, contando com um estreito horizonte de cumplicidade. O caráter artesanal da operação limitava o prejuízo do erário.
No presidencialismo de coalizão, levado ao paroxismo pela Era Lula, a corrupção é sistêmica, como se viu no mensalão. A dimensão da rapina dá-se em proporções geométricas.
Há uma engrenagem sofisticada que recebe estímulo do próprio comando político, dividindo entre os aliados os ministérios e estatais, distribuídos “com porteira fechada” – isto é, dando ao titular o direito de preencher pelo “critério político” todos os cargos estratégicos.
No Ministério da Agricultura, um lobista fazia de escritório a sala onde se decidiam as licitações. No Ministério do Turismo, os ocupantes dos mais altos cargos foram não só demitidos como presos.
O governo não gostou; Lula protestou; os aliados ameaçaram romper. Em tal estrutura, não basta prender esse ou aquele corrupto. Se o esquema não for desfeito, outro ocupará seu lugar.
Diante de tal contexto, o que é uma Jaqueline Roriz? Um nada, uma amadora, alguém que quis ser pirata no reino dos corsários. Deve ser punida, claro, mas está longe de ser o símbolo desta era, que não será desfeita a partir de manifestações estudantis – sinceras, significativas, mas impotentes diante da engrenagem que aí está.
Ruy Fabiano
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