Na década de 40 do século passado, a opinião pública brasileira mobilizou-se em favor da campanha O petróleo é nosso.
Passaram-se 40 anos, o povo tomou praças e avenidas, em todo o país, pelas Diretas já, reclamando o fim da ditadura e o direito de escolher seus dirigentes. Mais três décadas, e a "voz rouca das ruas" — como definiu as manifestações populares o então deputado Ulysses Guimarães — está de volta, firme e forte, desta vez, pela ética na política.
Não se via nada igual no país desde os caras pintadas que, no início dos anos 1990, defenderam o impeachment do presidente Fernando Collor, acusado de corrupção. O movimento de agora teve início sem alarde e com significativo sucesso, ao mobilizar, via internet, mais de 2 milhões de eleitores para assinar o projeto de iniciativa popular que resultou na Lei da Ficha Limpa.
Está claro que há muito a avançar no combate à corrupção — e, por tabela, à impunidade —, e também que esse é um direito legítimo e um anseio nacional, assim como no caso das outras campanhas aqui citadas. Em parte, a das eleições diretas frustrou-se (o primeiro presidente civil depois dos generais que se sucederam no poder a partir de 1964 foi escolhido por um Colégio Eleitoral), mas não de todo, pois foi de grande valia para a redemocratização do país.
Portanto, sejam bem-vindas às ruas a massa e suas bandeiras. Afinal, só com soberania popular se constrói uma grande nação. Importante é que haja respeito às instituições estabelecidas. Diferentemente da Primavera Árabe, desencadeada para destituir déspotas há décadas no poder, a questão no Brasil é aperfeiçoar a democracia, no que a intensa participação da hora tem todo potencial para colaborar. Inclusive com novos projetos de iniciativa popular. Por si só, o estímulo à conscientização política já é de suma relevância nesse processo.
Na prática, o povo na rua pode dar o norte e desemperrar no Congresso Nacional a reforma política que vai sendo empurrada com a barriga das conveniências de parlamentares dispostos a não abrir mão de privilégios. Estão na raiz do movimento bandeiras como o fim do voto secreto que favorece a impunidade e o corporativismo, a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa e a autonomia do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Alerta-se, contudo, para a necessidade de, preventivamente, evitar-se a contaminação do movimento por interesses paralelos. Entre milhares de manifestantes, sempre pode surgir alguém portando faixa fora do tom, algum aventureiro com discurso ou ato desafinado com a democracia. Que não se admitam violências nem a infiltração de agentes dispostos a tirar proveitos adversos aos da coletividade. Do contrário, a reação popular periga cair nos vícios que rejeita, e a envelhecer precocemente. A luta é pela integridade, não contra ela. Preservada a autenticidade, a esperança é que, além da limpeza ética, o país passe por uma renovação de suas lideranças.
Fonte: Correio Brasiliense
Passaram-se 40 anos, o povo tomou praças e avenidas, em todo o país, pelas Diretas já, reclamando o fim da ditadura e o direito de escolher seus dirigentes. Mais três décadas, e a "voz rouca das ruas" — como definiu as manifestações populares o então deputado Ulysses Guimarães — está de volta, firme e forte, desta vez, pela ética na política.
Não se via nada igual no país desde os caras pintadas que, no início dos anos 1990, defenderam o impeachment do presidente Fernando Collor, acusado de corrupção. O movimento de agora teve início sem alarde e com significativo sucesso, ao mobilizar, via internet, mais de 2 milhões de eleitores para assinar o projeto de iniciativa popular que resultou na Lei da Ficha Limpa.
Está claro que há muito a avançar no combate à corrupção — e, por tabela, à impunidade —, e também que esse é um direito legítimo e um anseio nacional, assim como no caso das outras campanhas aqui citadas. Em parte, a das eleições diretas frustrou-se (o primeiro presidente civil depois dos generais que se sucederam no poder a partir de 1964 foi escolhido por um Colégio Eleitoral), mas não de todo, pois foi de grande valia para a redemocratização do país.
Portanto, sejam bem-vindas às ruas a massa e suas bandeiras. Afinal, só com soberania popular se constrói uma grande nação. Importante é que haja respeito às instituições estabelecidas. Diferentemente da Primavera Árabe, desencadeada para destituir déspotas há décadas no poder, a questão no Brasil é aperfeiçoar a democracia, no que a intensa participação da hora tem todo potencial para colaborar. Inclusive com novos projetos de iniciativa popular. Por si só, o estímulo à conscientização política já é de suma relevância nesse processo.
Na prática, o povo na rua pode dar o norte e desemperrar no Congresso Nacional a reforma política que vai sendo empurrada com a barriga das conveniências de parlamentares dispostos a não abrir mão de privilégios. Estão na raiz do movimento bandeiras como o fim do voto secreto que favorece a impunidade e o corporativismo, a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa e a autonomia do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Alerta-se, contudo, para a necessidade de, preventivamente, evitar-se a contaminação do movimento por interesses paralelos. Entre milhares de manifestantes, sempre pode surgir alguém portando faixa fora do tom, algum aventureiro com discurso ou ato desafinado com a democracia. Que não se admitam violências nem a infiltração de agentes dispostos a tirar proveitos adversos aos da coletividade. Do contrário, a reação popular periga cair nos vícios que rejeita, e a envelhecer precocemente. A luta é pela integridade, não contra ela. Preservada a autenticidade, a esperança é que, além da limpeza ética, o país passe por uma renovação de suas lideranças.
Fonte: Correio Brasiliense
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