segunda-feira, 31 de outubro de 2011

DUAS MEDIDAS



Tão logo veio a público que exames detectaram a presença de um câncer na laringe de Luiz Inácio da Silva, não demorou muito para que a notícia se espalhasse pelo mundo como se rastilho de pólvora fosse. De igual modo, não precisou minutos extras para que eclodisse a maledicência de alguns incautos, que trocaram a divergência política pela sordidez humana. A exemplo do que fizemos no caso do câncer enfrentado pela presidente Dilma Vana Rousseff, torcemos pela franca recuperação de Lula da Silva, que, apesar dos erros colossais que cometeu, faz parte do processo democrático. Em outras palavras, o melhor é torcer para que o ex-metalúrgico fique bom. Especialmente porque não devemos desejar ao próximo aquilo que não queremos que aconteça conosco.

Quando Dilma se submeteu a um duro tratamento contra um câncer linfático, a revista Veja, que em algumas vezes tem mostrado desconhecer a ética jornalística, trouxe em uma de suas edições um título covarde e desnecessário: “A candidata e o câncer”. À época fizemos duras críticas à semanal publicação, como no último sábado (29) contestamos alguns que repentinamente passaram a torcer pelo calvário de Lula. O bom combate se dá com ideias e ideais, não com mau agouro.

Se por um lado há a necessidade intrínseca de se torcer pela recuperação de Luiz Inácio da Silva, no outro existem pelo menos dois assuntos a serem considerados. O primeiro deles é que, diferentemente do que o próprio Lula garantiu em meados de 2006, a saúde pública no Brasil não está a um passo da perfeição. Fossem verdadeiras suas pretéritas palavras, Lula não teria recorrido aos médicos do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, como não concordaria em enviar amostras do tumor para biópsia no exterior. Na rede pública de saúde há quem morra na fila à espera de um reles atendimento.

O segundo ponto que merece reflexão é que o problema de saúde de Lula da Silva não pode servir como atenuante do período mais corrupto da história política nacional. Que a sociedade não repita a genuflexão burra a que se entregou por conta da luta do finado José Alencar Gomes da Silva, ex-vice-presidente, que morreu em março de 2011 em decorrência das complicações de um resistente e longevo câncer abdominal.

O político Lula deve, sim, ser julgado pelos cidadãos de bem por causa de seus desmandos e galhofas, mas o ser humano Luiz Inácio da Silva deve estar sob a decisão do Criador, com quem ele haverá de prestar contas

Fonte: Ucho.Info

Nenhum comentário:

Postar um comentário