Hoje, 18 de outubro, comemora-se o Dia do Médico. A medicina privada, que surgiu para suprir a medicina pública por conta da recorrente omissão do Estado, como um todo, tem transformado a prática médica em um ato meramente mercantilista, não sem antes ser, em muitas ocasiões, uma ode à irresponsabilidade. Não que a irresponsabilidade faça parte da essência de cada médico, mas porque decorre da condição imposta pelo Estado àqueles que escolheram a profissão de Hipócrates.
É nesse exato ponto, no ato irresponsável, pois trata-se da confluência de dois juramentos: o dos eleitos pelo povo, a quem devem defender acima de todas as coisas, e o de Hipócrates, o Pai da Medicina.
Operadores do Estado, os políticos, ao assumirem seus mandatos e cargos, prometem cumprir a Constituição Federal em sua totalidade, sem direito a aliases de que qualquer espécie. Na Carta Magna verde-loura consta, sob a rubrica de cláusula pétrea, que todo cidadão tem direito à saúde. Mas não é isso que acontece no Brasil, que faz de sua Constituição um amontoado de inocuidades, que só recobram a validade no rastro de petições de caros e inacessíveis advogados.
Como espelho da confluência mencionada está o Juramento de Hipócrates, que emoldura, pelo menos em tese, a formatura de cada um dos médicos do planeta. Aqui no Brasil, o Juramento de Hipócrates é diuturnamente vilipendiado, pois aquilo a que a sociedade tem direito lhe é negado de forma covarde e vil. Em meados de 2006, o profético Luiz Inácio da Silva garantiu que a saúde pública no Brasil estava a um passo da perfeição. Daquela data até agora milhares de brasileiros morreram à espera de atendimento na rede pública de saúde.
O confronto entre o Estado e o Juramento de Hipócrates torna-se maior no trecho “a ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda”.
Pois bem, o Estado é, não só no sentido figurado, o remédio mortal a que um dia se referiu Hipocrates. Ávido por dinheiro, o Estado, por meio de seus agentes, alega necessidade de mais recursos para garantir aquilo que constitucionalmente está garantido. Querem mais dinheiro para nada continuar fazendo. Fecham os olhos para os escárnios da medicina privada, pois sabem que a sociedade se manterá submissa e calada. Afinal, contenta-se com pouco aquele que nada teve até então. Como disse certa feita um conhecido filósofo de botequim, “nunca antes na história deste país”. Eis o Brasil, um paciente terminal!
Confira abaixo a íntegra do Juramento de Hipócrates
“Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue:
Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém.
A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substãncia abortiva.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.”
Fonte: Ucho.Info
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