quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Brasil ante as disputas geopolíticas na América Latina - Parte III

AMIGOS, NÃO SOU MONARQUISTA, MAS ACHEI INTERESSANTE E MOSTRO AQUI A TRANSCRIÇÃO DA PALESTRA EFETUADA NO XX ENCONTRO MONÁRQUICO, REALIZADO NO RIO DE JANEIRO EM SETEMBRO/2009 E POSTADA ORIGINALMENTE NO BLOG "COMENTA-SE POR AÍ.." DA NOSSA AMIGA @AsteriscoCris.

José Carlos Sepúlveda da Fonseca

Outro fato grave: enquanto todos gritavam "Fora Sarney", o Presidente Lula foi à Bolívia, visitar os plantadores de coca, aliados de Evo Morales, oferecer mais de 300 milhões do BNDES para construir uma estrada, que segundo o ex-prefeito César Maia, irá escoar toda a cocaína para o Brasil. Quer dizer, financiar a entrada da cocaína no Brasil.




A Bolívia, segundo dados internacionais, aumentou sua produção de cocaína em 70% e quase toda a cocaína vem parar nos morros do Rio de Janeiro. Além disso, Lula vai apoiar e participar de um comício eleitoral de Evo Morales, na Bolívia. Enquanto todos estavam a gritar "fora Sarney", Lula estava na Bolívia com um colar de folhas de coca ao pescoço.



Então, devemos prestar a atenção de que nem sempre as notícias que se estampa na mídia são as mais graves.



Outra coisa: o governo decidiu pagar três vezes mais pela energia de Itaipu (exigência do Paraguai). Consequência: a conta de luz vai acrescer em 3% para todos os brasileiros para poderem financiar isso. Por que ele fez isso? Marco Aurélio Garcia afirma: "Nós vamos fazer isso com o cuidado de não modificar o tratado, para não ter que passar no Congresso". Quer dizer: tudo na base do golpe!



Qual a intenção disso? O Estado de S. Paulo estampa um editorial que diz o seguinte: "Nada mais é do que a sustentação de um líder bolivariano (Lugo) que está ameaçado, não pela mídia, mas pelos escândalos sexuais dele." Um homem que está com a sua popularidade ameaçada e Lula atenta contra os bens nacionais para defender um aliado ideológico. Isso é caso para se destituir um presidente!



No caso de Honduras, sem discutir se foi ou não golpe o que houve por lá, embora juristas tenham dito que foi golpe por parte de Zelaya, há um fato que ninguém pode negar: Zelaya era um homem que estava sendo manipulado por Hugo Chávez. Zelaya quis deliberar contra a ordem do Supremo Tribunal, contra a ordem do Congresso, quis fazer um referendo e pediu a Chávez que mandasse as urnas, os boletins de voto para dentro de Honduras. Isso não é uma intervenção no país? Quer dizer, um desrespeito ao país. Ele pega um outro presidente para que o ajude a organizar o que estava proibido, o que não há dúvida que é golpe. Ainda pediu apoio das Forças Armadas para ajudá-lo neste golpe, porque são elas que têm o poder de organizar os referendos. As Forças Armadas se recusaram. Não houve o referendo, mas foram encontradas atas, já com os resultados do referendo. É um sistema tão "evoluído" que já se tem o resultado antes de ser votado.



Mário Vargas Llosa, que escreve em diversos jornais do mundo, escreveu um artigo "O Golpe das Mentiras" mostrando o que é óbvio e o que todo mundo fica silenciando: o que estava havendo em Honduras era um golpe... do Chávez. Mas depois a situação se tornou mais grave: o ex-presidente Zelaya passou a ser uma marionete do Chávez, viajando, inclusive com aviões do Chávez para todo o lado. A tentativa de volta a Honduras para causar um banho de sangue em Honduras foi feita pelo Chávez. Portanto, Zelaya passou a ser a peça fundamental no jogo do chavismo. Os chavistas, então, se reuniram em La Paz, para pressionarem os EUA e outros países para apressarem a volta de Zelaya ao poder. Quem estava presente nesta reunião com o grupo de chavistas? O ministro Celso Amorim, que cancelou todos os seus compromissos para poder estar ali.



Então, é o não é o governo brasileiro um caudatário do projeto chavista na América do Sul?



O sociólogo Demétrio Magnoli que também escreve em vários jornais e até acabou de escrever um livro muito interessante sobre a questão do racismo, fala de como o PT está levantando, está criando um neo-rascismo no Brasil.



Cabe um parêntese: estas alianças com o mundo islâmico, o afastamento de Israel e o renascer de uma teoria racista, faz lembrar muito o Nacional-Socialismo e, talvez não seja por acaso que o Partido Nazista se chamava Partido Nacional socialista dos Trabalhadores.



Demétrio Magnoli diz mais uma coisa interessante: com a luta de Uribe contra as Farc, o sucesso que tem obtido, de como conseguiu resgatar a Ingrid Betancourt e de como conseguiu todos aqueles golpes militares contra as Farc, Chávez está numa situação muito difícil, por isso precisava de Honduras de qualquer maneira. E o grande caudatário do interesse de Chávez em Honduras? O governo brasileiro.



Cabe agora falar sobre a questão das bases americanas, que é a última controvérsia que há por aí. O exército colombiano apreendeu com as FARC, armas suecas, vendidas pelo governo da Suécia ao governo da Venezuela, com a cláusula de só serem usadas pelo Exército da Venezuela. Estas armas foram parar nas mãos de um grupo terrorista. Portanto, o governo venezuelano passou armas compradas com claúsulas de exclusividade para ele, para um grupo terrorista. Junto com isso, armas russas compradas nestes pacotes do Chávez à Russia de Putin, foram parar também nas mãos das FARC. Como se explica que armas que são compradas por um governo vão parar nas mãos de um grupo terrorista, a não ser que este grupo terrorista seja apoiado por este governo?



Os governos da Colômbia e da Suécia pediram explicações a Chávez e este não tinha explicações a dar. Quem foi que deu explicações ao mundo inteiro? Marco Aurélio Garcia. Diz um jornal: "Marco Aurélio Garcia se tornou um porta voz de Hugo Chávez para defendê-lo das armas que foram parar nas FARC." Uma coisa escandalosa, um homem que é assessor do Presidente Lula, ser o porta-voz de Chávez. Que ligação mais íntima pode haver? E isso foi noticiado por vários jornais pelo mundo, inclusive pelo New York Times.



Chávez não tinha o que fazer, como ele então se defendeu? Como a Colômbia estava renovando a sua aliança militar com os EUA (uma aliança que já existe há mais de 10 anos) Chávez lançou esta ofensiva de dizer que os americanos vêm aqui para roubar o nosso petróleo! Aliás, como disse o presidente do Peru, Alan Garcia, na reunião da Unasul: "Roubar o petróleo de vocês não precisa, pois vocês já o vendem todo para os EUA."



Neste momento, quando Chávez precisava de toda esta propaganda internacionalmente, quem é que a fez? O governo brasileiro, através de Celso Amorim, que deu uma entrevista de página inteira para a Folha e disse: "Estamos muito preocupados com as bases americanas." Ao ser perguntado pela repórter sobre as armas da Suécia nas mãos das FARC, ele respondeu: "Isso é apenas um episódio." Um governo que entrega armas a um grupo terrorista é apenas um episódio. Vejam o grau de cinismo nesta questão toda!



Então, o Presidente Lula decidiu convocar reunião da UNASUL para condenar a Colômbia. Na primeira reunião, o Presidente Uribe se recusou a ir e, na segunda ele foi, mas fez exigências. Então Uribe começou a distribuir documentos que comprovavam a existência de bases das FARC na Venezuela. Depois, o Presidente Uribe exigiu que a reunião fosse transmitida ao vivo para o mundo inteiro. Quem foi a pessoa que mais reclamou? O Presidente Lula. Não foi Chávez; foi Lula, exatamente porque ele ia usar a reunião para condenar a Colômbia e ia ficar mal. Lula afirmou então que era um absurdo que a reunião fosse transmitida para o mundo inteiro. É claro, pois iria ficar clara a posição antidemocrática da reunião.



Bem, e qual foi a posição dos militares brasileiros a este respeito? Muitos oficiais de alta patente disseram o seguinte: que a posição do governo brasileiro era totalmente histérica e que não tinha nenhum fundamento. Não havia perigo nenhum com estas bases para o Brasil, que achavam muito boa a presença destas bases, pois eram para combater o narcotráfico e as FARC, e que, o que era estranho no governo é que eles nunca tivessem feito uma crítica à presença das FARC noutros países e nem também à compra de armas russas feita pelo governo da Venezuela. Que isso, sim, era estranho.



O Estado de S. Paulo, em seu editorial "Mais um favor a Chávez" afirmou: "É cada vez maior a subserviência do governo aos projetos do caudilho Hugo Chávez." (Está nos jornais. O Brasil está sendo subserviente a um projeto que parecia histriônico, mas agora se sabe que não é.) “Exigiu que se desse transparência ao acordo entre EUA e Colômbia. Não o fez e muito menos revelou preocupação com a segurança do Brasil, quando à mesa, o caudilho Hugo Chávez colocou a disposição das Forças Armadas russas todos os portos e aeroportos venezuelanos, muito menos quis saber publicamente de detalhes dos acordos de cooperação militar, assinados por Caracas e Moscou." Por que isso não é importante?



Bem, encerrando esta análise, se há pessoas aqui no Brasil que se interessam pelo bem do País, são os Príncipes! Esta é a missão, a vocação deles! E é por isso que eles nos convidam para que nos interessemos pelos assuntos do país. Então a primeira coisa importante é conhecermos a realidade.



Muitas vezes a realidade está escondida: nas ocupações do dia a dia, nos noticiários tendenciosos, onde as coisas importantes acabam sendo um assunto secundário, mas também porque somos bombardeados por mentiras e quem mente tem a intenção de enganar. Por que se mentiu durante tanto tempo que o Brasil ia ser o "moderador" do chavismo e agora não é? Por que se mentiu durante tanto tempo que Chávez era apenas um histrião? E, assim, outras coisas.



Há uma outra razão: nós temos a capacidade de esclarecer, de ser ativos. Porque cada um de nós constitui a opinião pública do país. Alguém dirá: ah, mas eu sou sózinho. Ora, alguém já jogou uma pedrinha num lago? Perceberam a onda que ela faz, provocando outras ondas, sucessivamente? Assim somos nós no meio do público. E nós temos muito mais repercussão do que nós imaginamos.



É o caso de ler um trecho tirado de um artigo muito interessante de Cláudio Moura de Castro ("De malandros e manés"), da revista Veja e que é extremamente pitoresco, mas também profundo. Ele nos ajudará a entender isto:



"O Rio de Janeiro onde eu nasci evoca uma imagem clássica. É a pátria do malandro. É o reino da esperteza, do golpe, da falta de seriedade proclamada como virtude redentora. Não são poucos os prejuízos trazidos pela cultura da malandragem. O malandro carioca é assunto canônico até dos sambistas. Esta caracterização popular tem respaldo acadêmico em raízes históricas.



“Porém, há um outro Rio de Janeiro, menos lembrado. Durante séculos por ser a capital econômica e política do País, atraiu as melhores cabeças. Inicialmente, desembarcou a corte de Portugal com seus mais destacados figurantes. Por muito que seja criticado é preciso reconhecer que ela criou uma aristocracia intelectualizada que se perpetua ao longo dos anos. Desde sempre atraiu os mais inspirados intelectuais das províncias. Até há pouco, foi um magneto para escritores e cientistas, mesmo de S. Paulo.



Que cara tem esse outro Rio? Sugiro que tem a cara de dom Pedro II. Eis um carioca arquétipo dessa outra persona do Rio. Ao morrer, foi considerado a cabeça coroada mais culta de quantas havia na Europa. Dom Pedro é o outro Rio: sério, digno, disciplinado, erudito. Era o caretão rematado, a figura do antimalandro. Em vez de beija-mãos na corte, promovia saraus intelectuais e trocava cartas com Victor Hugo, Humboldt, Lamartine e Jean-Louis Agassiz, notável zoólogo e geólogo suíço.



“É inegável o Rio do malandro. Menos visíveis, mas também inegáveis, são a vida e a força do outro Rio. É o Rio careta, dos que frequentam livrarias e salas de concerto, em vez de praias e baladas. Por anos de convivência, é um Rio incólume e vacinado contra o vírus da malandragem. O grande paradoxo é a incapacidade desse Rio, intelectualmente tão sério e bem-dotado, de frear o desgoverno que aos poucos foi se infiltrando. A malandragem pitoresca virou bandidagem, com a desmoralização resultante. Inapetência dos "puros" de chafurdar na política? Talvez. Os bons são muito poucos? Acho que não. Estão por todos os lados. Mas não chamam atenção, por serem menos pitorescos e divertidos. Aliás, dom Pedro II gostava mesmo era de um papo cabeça.



“Mas, se o Rio tiver alguma arma secreta para reverter sua decadência, com certeza, será esse enorme e possante segmento, estilo Dom Pedro II, que representa o oposto da malandragem e possui um respeitável vigor intelectual e moral."



Essa opinião, publicada na Veja, não parece que seja aplicável só ao Rio. Pode ser aplicada ao Brasil inteiro. É essa fisionomia de D. Pedro II que ficou nas cabeças, é esta mentalidade que ficou e que é a nossa força. Pois, muito mais que apenas a força política, é essa força que está por detrás. Por isso, a opinião de um monarquista pode ser muito importante, pois ele vê esta outra fisionomia do Brasil. Porque como ele diz: é a mais séria, é mais vasta do que nós imaginamos e é a que tem força para reverter esta situação.



Nós já tivemos experiências disso em muitos episódios. Na grande tragédia que atingiu a Família Imperial, recentemente, com a morte de D. Pedro Luiz, isso também se viu. O Brasil ficou, então, em luto por um Príncipe que ele nem conhecia, que mal conhecia. Mas por quê? Porque ele trazia na fronte esta marca histórica, tinha na fronte esta força de um D. Pedro II que está no fundo das cabeças. Talvez ele, D. Pedro Luiz, em certos momentos, nem se desse conta disso, mas ele tinha.



E neste tremendo infortúnio que foi a perda de D. Pedro Luiz, ele mesmo mostrou ao Brasil que existe uma coisa mais profunda, mais forte, e a qual nos dá muito mais força que um partido político ou uma organização política, que é esta fisionomia de D. Pedro II que temos por detrás.

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