segunda-feira, 6 de junho de 2011

O CAIPIRA E O MOTEL (By Marco Sobreira)


Anos 80, Cachoeiro de Itapemirim, maior cidade do sul do Espírito Santo, terra de grandes políticos, escritores, cronistas, artistas, enfim, a capital secreta do mundo segundo os bairristas cachoeirenses, fervilhava com a novidade, não se falava de outra coisa na cidade, a inauguração do Magnus Motel. Localizado na estrada do contorno, tornou-se rapidamente preferido entre os amantes, luxo até então só visto nos motéis da capital do estado.

 Nesta época, mesmo morando em Atílio Vivácqua, mantinha um consultório na grande cidade, o que me obrigava a fazer uma pequena viagem pelo menos três vezes por semana, na esperança de manter minha pequena e fiel clientela, o que não consegui por muito tempo, já que os gastos superavam a receita, o que acabou por fazer com que fechasse minha sala no Ed. Primus, um dos maiores da cidade à época.

 Aproveitava também para manter contato com colegas e de alguma forma me manter informado das novidades , trocar idéias, e porque não, tomar de vez em quando um chopp no Alaska, ponto de encontro de profissionais liberais e políticos, uma maneira de me manter ligado ao mundo civilizado. Invariavelmente as mulheres viravam centro das conversas e o Magnus alvo de curiosidade dos que ainda não o conheciam e relatos hilários de quem já o freqüentara, ouvidos com interesses por todos, um sucesso.

 Era comum oferecer carona a amigos, e rapidamente descobriram os dias que eu ia ao consultório, não me surpreendia quando ao chegar ao carro encontrava já alguém me esperando. Numa sesta-feira, me surpreendi ao ver me esperando o Tonho do Grotão, pequeno proprietário, caipirão, invariavelmente com botas e chapéu, estilo vaqueiro.

_Dr Marco, perdi o ônibus, vi o carro do senhor estacionado e resolvi lhe pedir uma carona, o senhor já vai?

-Claro Tonho, só vou parar na padaria para comprar umas coisas, entre aí...

Vou passar pelo contorno, porque preciso entregar uma encomenda, algum problema pra você, perguntei,

-Claro que não Dr, to por sua conta, falou dando uma gargalhada.

 Começamos a conversar animadamente, quando ao passar em frente ao  Magnus Motel, o Tonho me cutucou e perguntou,

-O senhor já esteve aí, doutor?

-Ainda não

-Não sabe o que está perdendo, falou com ares de superioridade,

-Já veio? Perguntei surpreso, não me parecia alguém que freqüentasse esses lugares,

-Claro que já, quase gritou, olhe, nunca vi um lugar tão bonito, o senhor imagina que tem ar condicionado, TV a cores, espelhos nas paredes e no teto, banheira, cama redonda, frigobar, som, um lugar ótimo pra gente passar o dia com a esposa, e quer saber uma coisa?

- O que? Perguntei

- Não é caro, acredita que um pão com salame e um copo de leite custa um cruzado?

Sinceramente, tive que me segurar muito para não rir na cara do Tonho, mas até hoje sou convidado a contar esta história  para os amigos em nossas rodadas de chopp.




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