segunda-feira, 21 de junho de 2010

BRASIL REAL É CENSURADO PELO GOVERNO.

O decálogo de problemas que segue abaixo poderia se um roteiro utilizado pelos candidatos de oposição José Serra (PSDB) ou Marina Silva (PV). Mas não é — ou NÃO ERA. Ribamar Oliveira, do jornal Valor Econômico, colheu essas avaliações num portal oficial, do próprio governo (ver post de ontem). Antes que prossiga, uma síntese:

1 - a política de reforma agrária do governo Lula não alterou a estrutura fundiária do país nem assegurou aos assentamentos assistência técnica, qualificação, infra-estrutura, crédito e educação;

2 - a qualidade dos assentamentos é baixa;

3 - os programas oficiais não elevam a renda dos agricultores, que ficam dependendo do Bolsa Família;

4 - imposições da legislação trabalhista no campo acabam provocando fluxo migratório para as cidades;

5 - a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda não definiu uma política de curto ou médio prazo para a formação de um estoque estratégico e regulador de produtos agrícolas.

6 - em futuro próximo, a produção de biodiesel não será economicamente viável;

7 - a reconstrução de uma indústria nacional de defesa voltada para o mercado interno, prevista na Estratégia Nacional de Defesa, não se justifica;

8 - a educação brasileira avançou muito pouco e apresenta os mesmos índices de 2003 em várias áreas:

9 - é baixa a qualidade da educação em todos os níveis; os que concluem os cursos não têm o domínio dos conteúdos, e as comparações com indicadores internacionais mostram deficiências graves no Brasil;

10 - O analfabetismo funcional, entre jovens e adultos, está em 21% na PNAD de 2008, uma redução pequena com relação à PNAD de 2003, que era de 24,8%. O número absoluto de analfabetos reduziu-se, no mesmo período, de 14,8 para 14,2 milhões, o que aponta a manutenção do problema.

Essas informações todas estavam no “Portal do Planejamento”, criado pela Secretaria de Planejamento e Investimento Estratégico (SPI), tarefa que durou um ano e meio. E QUE SUMIU EM UM DIA. Bastaram uma ordem e um clique. É isto mesmo: o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) mandou tirar o site do ar. Eram cerca de 3 mil páginas abordando 52 temas.

Bernardo justificou assim a censura em entrevista à rádio CBN:

“Vários ministros me ligaram para dizer: ‘Olha, estão fazendo críticas às políticas desenvolvidas pelo meu ministério, mas nós não fomos chamados a discutir’. Ficamos numa posição um pouco delicada de explicar que aquilo não era posição fechada do Planejamento; são técnicos fazendo debate.”

Entendo… o ministro convocou uma reunião para segunda-feira com os responsáveis pelo Portal:

“Me parece que um site para discutir políticas de governo deve ter um nível de acesso para quem é gestor, outro para quem é jornalista e outro para o público em geral”.

Deixe-me adivinhar como seria essa gradação e o produto oferecido a cada um:

- ao gestor, a verdade;

- ao jornalista, uma quase verdade;

- ao público, o de sempre…

Vamos compreender

É evidente que nenhum governo gosta de ser criticado pelo… próprio governo. Não me atrevo a dizer que este ou aquele não agiriam assim. Aliás, acho curioso que um portal dessa importância vá ao ar sem o conhecimento do chefe da pasta. A questão aí não é matéria de gosto, não.

O que o portal revela é que existem dois Brasis: aquele real, conhecido pelos técnicos do governo, que veio a público por um breve instante, e o outro, o de propaganda, este de novas auroras permanentemente anunciadas pelo governo, ancorado numa verba bilionária de propaganda.

Como se nota, Paulo Bernardo acha que é preciso trabalhar com “níveis” de acesso, como se aqueles informações não fossem dados sobre políticas públicas, mas matéria de “segurança nacional”. Informações relevantes, pois, para orientar tais políticas passariam a ser privilégio de uma espécie de casta.


Nunca antes na história destepaiz!!!

Um comentário:

  1. Meu dr.,
    Ainda tenho menos fé... acho que ninguém conhece o Brasil real, apenas o que a propaganda nos mostra. O Brasil real é uma mistura de vários Brasis; o de Renan, Collor, Lula, de Sarney e sua Roseana e muitos mais. O Brasil de hoje é um *uteiro de 5° categoria.
    Fico cada vez mais frustrada e descrente. Se Dilma é eleita, melhor eu só fazer arte...

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