quinta-feira, 22 de novembro de 2012

ALGUÉM PRECISA DIZER A CARDOZO QUE ELE ESTÁ NU



O grande problema dos gestores do Estado não é fazer planos –isso elas fazem num piscar de olhos—, mas falar com a pleteia. Sempre que decidem explicar por que determinados problemas resistem aos planos, eleva-se a taxa de confusão. Veja-se, por exemplo, o caso do ministro da Justiça.
 
Na semana passada, José Eduardo Cardozo disse que preferia morrer a passar uma temporada longa num dos presídios “medievais” do Brasil. Nesta terça-feira, chamado à Câmara para falar sobre índios, o doutor foi espremido pelos ecos dos seus comentários. Nada a ver com os condenados do PT, ele tentou esclarecer.
“As pessoas estão com um problema epidérmico com a questão do mensalão e qualquer coisa que se fale tem a ver com isso. Falo como deputado e como ministro sobre as péssimas condições dos presídios brasileiros há anos. Na verdade, foi uma fala sincera, e absolutamente honesta de quem conhece essa realidade e acha que um governante não tem o direito de esconder a verdade do povo.”
 
Em timbre acaciano, Cardozo disse que a encrenca prisional “é uma questão histórica, que vem de décadas.” Empurrada para baixo do tapete, a “sujeira” parece inexistir. Mas, acumulada, “ela aparece” cedo ou tarde. “Estamos vivendo esse problema” agora, afirmou o ministro.
 
Sempre de mãos dadas com o conselheiro Acácio, Cardozo reiterou: “Não podemos ter no sistema carcerário uma escola de criminalidade. Temos que ter um sistema que recupere e não amplie a potencialidade criminosa…”
“Se tentarmos tapar o sol com a peneira não vamos resolver nada no Brasil. É necessário colocar o problema a nu, à luz. Isso não tem nada a ver com aquele caso, aquele julgamento [do mensalão]. Essa é uma realidade que está posta nesses dias.” O brasileiro, um sujeito simples, olha para Cardozo e enxerga a alma complexa que se esconde dentro dele.
Filiado a um partido que governa o Brasil e seu sistema carcerário há dez anos, o doutor ocupa a poltrona de ministro da Justiça desde janeiro de 2011. Não consegue nem executar o orçamento destinado à melhoria das cadeias. A plateia dispensa o lero-lero. Em vez “colocar o problema a nu” espera-se do ministro que pare de desfilar pelado diante dos refletores.

Josias de souza

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