domingo, 10 de março de 2013

CÉU E INFERNO


“É melhor reinar no inferno do que servir no céu”, escreveu John Milton, classicista inglês do século XVII. Há quem acredite nisso. Na semana que passou, céu, santidade, inferno e ignorância quase se confundiram e frequentaram a mídia mais que presidente venezuelano em televisão estatal.
Justamente da Venezuela veio o primeiro marco: aos 58 anos de idade e 14 de governo, Hugo Chávez chegou ao fim. Em busca da beatificação, alguns destacaram que o líder diminuiu o analfabetismo, desenvolveu a saúde e combateu a pobreza. Já as más línguas disseram que o calor dos últimos dias tem explicação: o ex-presidente teria deixado a porta do inferno aberta.

Durante o chavismo, a dívida interna alcançou recorde, a inflação passou dos 30% e a moeda perdeu cinco vezes o seu valor. 40% da população trabalham na informalidade e há carência de bens primários. 60% das importações são de alimentos. E mesmo com uma das maiores reservas de petróleo do mundo e uma exploradora estatal, o país importa petróleo, além de carros e eletrodomésticos, pois a indústria é obsoleta.

O conflito entre idolatria e condenação foi agravado pelo controle da imprensa. A RCTV, emissora mais popular do país, perdeu sua concessão. Na campanha de 2012, diversas transmissões de atos políticos da oposição foram interrompidas com pronunciamentos de Chávez em cadeia nacional. Além disso, o ex-líder enviou petróleo para o ditador sírio Bashar Assad e declarou apoio ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

Sua política externa isolou o país. Na ONU, disse que Bush era o demônio e “cheirava a enxofre”. Com câncer, acusou o Estados Unidos de causar a doença. O sentimento internacional com Chávez foi resumido pelo rei da Espanha, Juan Carlos. Na Cúpula Ibero-Americana, Chávez recebeu a célebre pergunta: “Por que não te calas?”.

E assim segue a política venezuelana, num interminável conflito entre bem e mal, perdida em meio às paixões que corrompem a política. Não obstante, excelências do outro canto do continente resolveram entrar no jogo do céu e do inferno. Ironicamente, o debate nada divino se deu no Espírito Santo.

Curiosamente no dia da morte de Chávez, o presidente da Assembleia, Theodorico Ferraço (DEM) resolveu recorrer a um argumento chavista. Sobre a Operação Derrama, Ferraço disse que é tudo “obra do diabo”. Seu demônio, porém, parece que não cheira a enxofre.

Disse: “Isso não vai me pegar. Carrego um crucifixo para espantar os capetas que vieram e os que ainda virão”. Faltou ao presidente explicar quem seriam “os capetas”. E, claro, qual (ou quais) “divindade” o protege.

A fala de Theodorico abriu a porteira do submundo e até quem andava no purgatório ressurgiu. Em rede social, o “invencível” José Carlos Gratz resolveu dar nomes aos seus demônios, a quem chamou de “picaretas de toga”. Segundo Gratz, seu crime foi “fazer obras para o povo que vivia em ruas enlameadas e empoeiradas”. Em tom profético, prometeu que “agora vai começar uma nova etapa”. Resta saber se o retorno será para a política ou para algo ainda mais obscuro.

Obscura. Assim terminou a semana, com a eleição do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da (C)omissão de Direitos Humanos e Minorias. Em 2011, o líder da Assembleia de Deus escreveu: “Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças”. E completou: “A podridão dos sentimentos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à rejeição”. Sob os aplausos de Bolsonaro, Feliciano celebrou o novo cargo.

Há, pois, absurdos para todos os gostos, locais, nacionais e até continentais. Se o temido 2012 não assustou na prática, 2013 mostra-se cada vez mais preocupante. Dia a dia o injustificável ganha ares de rotina. E no circo político há enorme vocação para reinar no inferno ao invés de servir. Mas não há porque temer! Como disse o cronista, filósofo e poeta Henrique Herkenhoff, isso “não é alarmante”.

Assim, após uma semana de turbilhão de absurdos, nada melhor que “tirar esse restinho de ano para descansar”.

CÉUGabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes.

Um comentário:

  1. É MEU AMIGO, NAO RESTA MAIS NADA PRA NÓS, A NAO SER CONTINUARA ACREDITANDO NO DEUS VIVO, E BUSCAR PELA NOSSA PAZ EM CRISTO, PORQUE EU CREIO NELE, E É POR ELE QUE LUTO PELA MINHA VIDA...O RESTO FICA COMO RESTO..

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