Já comentei aqui que depois de muita luta, incontáveis justificativas, consegui finalmente a autorização para contratação de plantonistas para o período diurno no nosso PAM, assim de segunda a sexta-feira temos dois plantonistas, acreditem, é um avanço e com isso diminuímos a carga de trabalho para os colegas que passaram a fazer um atendimento de melhor qualidade.
Ontem, 10/10/11, às 8:30 h fui avisado pela enfermagem que um dos plantonistas ainda não tinha chegado, imediatamente liguei para a médica, por sinal grande amiga, que me informou que estava chegando e que me daria as devidas explicações. Assim que chegou, me fez o relato do que aconteceu e faço questão de aqui reproduzir para que os leitores do blog entendam o porque de minha descrença e crescente decepção com os serviços de saúde que é oferecido à população.
Me disse a colega que estaria de folga no final de semana e tinha planejado aproveitar o domingo para curtir o neto quando recebeu telefonema da Secretaria de Saúde de um pequeno municipio do sudoeste do estado, pedindo, ou melhor implorando para que ela pudesse fazer o plantão de domingo, pois estava sem plantonista para o hospital e maternidade da cidade. A principio alegou que não poderia ir mas ao perceber o desespero da secretaria resolveu fazer o plantão, e o neto ficaria para outro fim de semana, abandono comum aos mais queridos na nossa profissão. Não imaginava o que a esperava.
Prosseguiu contando que o plantão corria como sempre, muito atendimento mas até que poucos casos de urgência ou emergência, até que lá pelas 16 h chega uma jovem em trabalho de parto, sentiu um frio na espinha ao constatar a gravidez de gêmeos e o que é pior, com 28 semanas, ou seja, prematuros de aproximadamente 6 meses. O trabalho de parto estava adiantado e não tinha como transferi-la para uma maternidade com Utin, a mais próxima estava em Cachoeiro de Itapemirim, há 50 km de distância. Sozinha, sem pediatra para atender aos recém-nascidos, apenas com o auxilio da técnica de enfermagem preparou-se para o pior.
O parto evoluiu bem e logo nasceram os gêmeos, como se era de esperar, ambos com insuficiência respiratória, tratou de fazer o que podia, aspirou-lhes as secreções , colocou-os num berço aquecido, solicitou oxigênio e para sua surpresa e indignação foi informada que o mesmo tinha acabado e que a direção do hospital não conseguira repor os cilindros. Logo um dos gêmeos foi a óbito e desesperada solicitou a ambulância do SAMU para transferir o outro, informada que a ambulância viria da capital, que ficava a 95 km . A esta altura, alguém lembrou que na ambulância tinha um pequeno cilindro de oxigênio, o que de alguma forma, melhorou um pouco as chances de sobrevivência da outra criança.
Para não me alongar muito, sei que a esta altura a indignação também toma conta de você que lê esse desabafo, quero dizer que após 6 horas de espera o segundo gêmeo também faleceu sem que a esperada ambulância UTI chegasse ao hospital.
Concluo com a certeza que mais do que tudo o que foi dito acima, fica evidente que a saúde não é tratada como prioridade no Brasil, absurdos como esse infelizmente deve acontecer todos os dias nessa república de gestores incompetentes, descompromissados com a vida daqueles que têm que recorrer ao nosso serviço público de saúde, com o agravante de que nada indica que as coisas vão melhorar, episódios como esse cairá no esquecimento, ninguém será responsabilizado e muito menos punido, até que a indignação chegue a um ponto tal que a população se revolte e tome em suas mãos a responsabilidade de um país melhor e mais justo, até lá, que Deus nos proteja.
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