domingo, 2 de outubro de 2011

PROFISSÃO VEREADOR.

João  Luiz Teixeira Corrêa, vereador da Serra há 38 anos - Editoria: Política - Foto: Fábio Vicentini

"A política é uma cachaça na vida. Acho que tenho muito a oferecer ainda. Só paro se perder a motivação"

João Luiz Teixeira Corrêa (PDT)
Vereador da Serrá há 38 anos

Enquanto proliferam novas vagas de vereador Estado afora e crescem as críticas ao papel das Câmaras, chama a atenção quem transformou a função parlamentar em profissão, exercendo o cargo há 20, 30 e até quase 40 anos. Foi o que A GAZETA constatou nos principais colégios eleitorais do Estado.

Tendo como funções constitucionais a elaboração de leis e a fiscalização do Executivo, muitos deles citam leis de pouco alcance social como exemplos do que fizeram de expressivo ao longo dos mandatos.

É o caso, por exemplo, de João Luiz Corrêa (PDT), vereador da Serra desde 1972. Nos últimos 39 anos, ele só esteve fora da Câmara entre 2009 e janeiro deste ano, quando assumiu no lugar de Roberto Carlos (PT), eleito deputado estadual. "Fomos a primeira Câmara a proibir que candidatos pintassem muros em campanhas eleitorais", conta, ao ser questionado sobre projetos de sua autoria.

Em 2010, o Legislativo serrano teve R$ 27,6 milhões em despesas. Por lá, cada um dos 17 vereadores recebe R$ 5,3 mil ao mês. Com os mandatos acumulados, Corrêa critica a limitação do papel do vereador, que só pode legislar sobre temas que não causem impacto nas finanças das prefeituras e de âmbito municipal. "A função do vereador é restrita, e o Legislativo não se fortaleceu. A política está desgastada", disse. Mesmo assim, ele pretende se candidatar à reeleição em 2012.

Duas décadas
Em Vila Velha, onde a maioria dos vereadores é da base aliada do prefeito Neucimar Fraga (PR), o presidente Ivan Carlini (PR) é o campeão de mandatos consecutivos: está lá desde 1988 - ou seja, há 23 anos. "Fiz milhares de projetos interessantes. Um deles é a obrigação do poder público em dar protetor solar para os servidores que trabalham ao sol", destacou Carlini.

Para a próxima legislatura, a Câmara de Vila Velha já aprovou o aumento do número de vereadores: em vez dos atuais 17, serão 23 cadeiras. O salário atual é de R$ 7,4 mil.

Com o mesmo tempo de função de Ivan Carlini em Vila Velha, o vereador Ericsson Duarte (PDT) sinaliza que quer deixar a cadeira vaga na Serra. "Já cumpri meu papel", diz.

Para o vereador serrano, a desmotivação vem da generalização de que todo político é ruim. "Às vezes um mau político erra e todos pagam o pato. Mas quando as pessoas querem alguma coisa, correm atrás da gente para pedir asfalto e praça", frisa Duarte.

E o que dizer da proibição à prostituição e da criação das Semanas do Idoso e do Taxista em Cachoeiro de Itapemirim? São projetos do vereador José Carlos Amaral (DEM), de 61 anos - 23 deles dedicados à Câmara.

Amaral está no sexto mandato consecutivo, um a mais do que Hélio Leal (PDT), de Colatina. No Noroeste do Estado, o vereador - que até programa de TV já teve - é autor de uma lei curiosa: "Em 1988, demos prazo para que a empresa de luz tirasse todos os postes de madeira da cidade".

Salário
R$ 7,4 mil por mês - É quanto recebem vereadores de Vitória e Vila Velha. Na Serra, cada parlamentar recebe R$ 5,3 mil, e em Cariacica, R$ 4,7 mil por mês.

"Câmara é balcão de barganha com prefeito"


Os mais de 20 anos de mandato conferiram a Ademar Rocha (PTdoB), de Vitória, e a José Carlos Amaral (DEM), de Cachoeiro de Itapemirim, uma visão crítica do papel dos vereadores nos dias de hoje.

"O povo não acredita na política. Ser vereador se tornou mais difícil, porque as Câmaras se transformaram em balcão de barganha com os prefeitos", disparou Amaral, há 24 anos ininterruptos na função - e pré-candidato para 2012.

Em seu quinto mandato consecutivo, Ademar diz que até mesmo os pares têm deixado a desejar.

"O vereador perdeu a função e falta contestação. Os vereadores deixaram de cobrar o Executivo, e parece que afrouxaram", afirmou.

No Norte do Estado, a crítica feita por Tarcísio Silva (PSB), de Linhares, é à falta de preparo dos vereadores, em geral. Ele é vereador desde 1988. "Muitos são despreparados e, com isso, viram meros auxiliares do prefeito".

Análise
"O que conta não é a qualidade"

Muitos vereadores fazem do mandato uma profissão. Com isso, quebra-se o princípio da representatividade, porque como se perde o vínculo temporário, esse vereador se transforma numa liderança paternalista, procurado pelas pessoas para comprar ambulâncias e conseguir verba para festas, por exemplo. O que faz a pessoa se reeleger não é a qualidade da atuação parlamentar, porque as Câmaras não agem mais; elas se limitam a aprovar mensagens do Executivo, nomes de ruas e a sugerir obras. Como os vereadores não são observados, mantêm mandatos somente
foto: Chico guedes
Ademar Rocha, vereador
No quinto mandato, Ademar admite o "desgaste"
pelo que passaram a representar para as comunidades: verdadeiros padrinhos. Os serviços essenciais, dos quais a população precisa, não são mais debatidos pelas Câmaras.

Maurício Abdalla - Doutor em Educação e especialista em Filosofia Política


"Câmara é balcão de barganha com prefeito"
Os mais de 20 anos de mandato conferiram a Ademar Rocha (PTdoB), de Vitória, e a José Carlos Amaral (DEM), de Cachoeiro de Itapemirim, uma visão crítica do papel dos vereadores nos dias de hoje.

"O povo não acredita na política. Ser vereador se tornou mais difícil, porque as Câmaras se transformaram em balcão de barganha com os prefeitos", disparou Amaral, há 24 anos ininterruptos na função - e pré-candidato para 2012.

Em seu quinto mandato consecutivo, Ademar diz que até mesmo os pares têm deixado a desejar.

"O vereador perdeu a função e falta contestação. Os vereadores deixaram de cobrar o Executivo, e parece que afrouxaram", afirmou.

No Norte do Estado, a crítica feita por Tarcísio Silva (PSB), de Linhares, é à falta de preparo dos vereadores, em geral. Ele é vereador desde 1988. "Muitos são despreparados e, com isso, viram meros auxiliares do prefeito".
Fonte: Eduardo Fachettiefachetti@redegazeta.com.br

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