Fim do caminho – A morte do cinegrafista Gelson Domingos da Silva, da TV Bandeirantes, na favela Antares, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, mostra a fragilidade da segurança pública em uma das maiores cidades brasileiras, ao mesmo tempo em que escancara a falência do Estado como um todo. Alvo de uma troca de tiros entre policiais militares e traficantes que dominam a favela, Gelson Domingos morreu após ser atingido por um projétil de fuzil AR-15.
Quando assumiu o governo do Rio de Janeiro pela primeira vez, em 2006, Sérgio Cabral Filho (PMDB) abusou da gazeta ao afirmar que a partir daquela começava o fim do crime organizado. Quase seis anos depois daquela fanfarrice discursiva, o Rio de Janeiro continua nas mãos dos criminosos, como se o principal cartão-postal do País fosse um faroeste a céu aberto. Como sempre acontece quando alguma tragédia acontece no Rio de Janeiro, o nada corajoso Cabral Filho simplesmente se entrega ao silêncio obsequioso.
Os ingredientes de mais um fato trágico no cotidiano do Rio passa obrigatoriamente pela inoperância do governo federal, que ao deixar de fiscalizar as fronteiras brasileiras permite o livre ingresso de armas e drogas no território nacional. Se o comércio de drogas continua funcionando livremente nos morros cariocas e os traficantes usam armas longas para se defender, é porque há algo errado nas fronteiras. No submundo do crime um fuzil AR-15 pode custar R$ 10 mil ou mais. Diante do alto preço, muitas vezes os criminosos alugam esse tipo de arma.
No contraponto, o colete utilizado pelo cinegrafista da TV Bandeirantes não era o adequado para uma situação de confronto. A emissora paulista divulgou nota em que afirma que toma todos os cuidados necessários com os profissionais que cobrem conflitos, mas é sabido que a realidade é diferente.
O ucho.info consultou na tarde desta segunda-feira (7) um dos mais respeitados policiais civis de São Paulo, com passagem exitosa inclusive pelo Departamento de Roubo a Bancos, um dos mais atuantes no estado. De acordo com o nosso entrevistado, que falou sob sigilo, o colete ideal para uma situação como a que ocorreu na favela Antares precisa ter quantidade reforçada de Kevlar e uma placa de cerâmica, conjunto capaz de interromper a trajetória da munição de um fuzil. O colete utilizado pelo cinegrafista, de acordo com o policial de São Paulo, suporta tiros de armas de calibre 38, 45, 9 milímetros e 357. Perguntado sobre o poder de destruição do Ar-15, o policial disse que se a munição atingir o rotor de cauda de um helicóptero em voo, por exemplo, a aeronave despenca ao solo fazendo rodopios, como já aconteceu.
É preciso também deixar a hipocrisia de lado, pois de nada adianta notas de pesares e de protesto depois da morte de Gelson Domingos. Não é novidade para nenhum desses piedosos senhores, que oram surgem na mídia envolvidos por lágrimas de aluguel, que jornalistas são obrigados a se submeter a situações de risco para que emissoras alcancem elevados índices de audiência. O sensacionalismo que passou a dominar o jornalismo de algum tempo para cá resulta na morte de profissionais competentes, como foi o caso do brilhante Tim Lopes, assassinado brutal e covardemente por criminosos que controlavam os bailes funks no Rio de Janeiro.
Resta saber até quando Sérgio Cabral Filho e sua corriola abusaram do palavrório para mostrar ao mundo uma realidade que inexiste na Cidade Maravilhosa e suas cercanias.
Fonte: Ucho.Info
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